domingo, 28 de junho de 2009

“Era Salazar que falava nos custos...”

Que nem todos devem agir do mesmo modo, tal é a moral que La Fontaine atribui à sua fábula dos dois burros – um carregado de sal e outro de esponjas, guiados ambos por um condutor em dificuldade com o primeiro, recalcitrante na longa travessia por vales e montes, o sal pesando, enquanto o das esponjas deslizava airoso e elástico para contentamento do seu amo, que por isso o distinguiu, na travessia do rio, cavalgando-o, enxotando o outro que, afinal, acabaria por dar boa conta do recado, derretido o sal na água, atingindo a margem oposta sem esforço. Não assim o das esponjas, cavalgado pelo dono. Iam-se afogando os dois, as esponjas pejadas de água, só salvos com a intervenção de um benfeitor de ocasião.
E aqui voltamos à moral da história, a propósito da frase que ouvi hoje ao Primeiro Ministro, numa das suas inaugurações de obra, chamariz de votos - “Era Salazar que falava nos custos”: Não devemos agir todos do mesmo modo.
Salazar falava nos custos – era o burro que carregou o sal, penosamente, estreitamente, mas salvando-se – e salvando a nação - do afogamento, eficientemente, mesmo na estreiteza da sua governação poupada, a pensar nos custos.
Sócrates que o afirmou, exaltadamente e troçando, a propósito da simultaneidade ou não das próximas eleições, por conta das contas, é o burro ligeiro, carregado com as esponjas da sua empáfia e irresponsabilidade, indiferente aos custos, que num qualquer riacho se pode afundar e o dono – o povo - com ele.
Mas porque hoje é domingo - dia de missa... dominical - acreditemos num benfeitor de ocasião, ou outro. Qualquer um serve. É preciso ter fé. Oremos.

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