sábado, 27 de junho de 2009

Governo de maioria?

Foi um dos assuntos de que demos opinião, depois das compras, já não nas volutas do “pensativo cigarro”, porque os fumos deixaram de acompanhar, nos recintos fechados, as espirais das nossas conversas flutuantes, e mesmo nos locais abertos, por preocupação pelos efeitos nocivos do tabaco que mata, mas sobretudo passou a incomodar muito, creio que como consequência da participação das escolas nesta onda de abolição do prazer tabagístico. E digo isto, porque quando as minhas netas mais velhas entraram na primária e vinham cá para casa para os encargos das suas responsabilidades escolares, mal eu puxava da primeira fumaça, logo elas, com as mãos servindo de abano, para a esquerda e para a direita, afastavam as espirais do meu fumo, em atitude de preservação da sua saúde e de obstáculo aos meus pensamentos ou, em erudita hipálage, aos do meu cigarro, logo transformados em comentários moralistas e de indignação sobre o respeito devido aos mais velhos.
Realmente, nos tempos áureos da minha juventude sempre o meu pai fumara com bastante pertinácia e nunca a nós, suas filhas, passara pela cabeça criticá-lo por isso ou desviar, com as mãos, os fumos do seu prazer. Mas a juventude hoje manda nos pais e nos avós, e as escolas dão o seu contributo para isso, no empenhamento sobre a preservação da saúde física, prioritário sobre a saúde na educação cívica. A verdade é que na questão da difusão da droga, ninguém convence ninguém a zelar pela sua saúde ou a alheia, e assim vamos apodrecendo, sem abanos de zelo público.
Tratou-se, pois, da questão que anda na crista da onda, a se preferimos um governo de maioria absoluta ou relativa. O argumento a favor da primeira, baseou-se apenas no conhecimento que temos do nosso jeito atropelador, de preferência àquele de racionalidade para um consenso, a bem da Nação, se a proposta do governo for digna de aceitação, postas as cartas na mesa com clareza.
O governo de maioria absoluta “s’en fiche” relativamente às propostas dos outros partidos, e vota só e vai em frente ditatorialmente, sem mais ponderações, ponto final. E há sempre quem diga que só assim se pode governar, mesmo os que defendem a democracia, porque, garantida esta como cliché autoglorificador, não importa que um governo de maioria, que se intitula de democrático, se torne facilmente despótico e até absurdo na sua acção governativa. Como se viu por este. E tem sempre quem o defenda, como estando a construir, mesmo que a construção nos pareça de baralho de cartas, ou da casinha de colmo de um dos três porquinhos. Mas talvez o defendam por serem participantes na mesa do banquete, no “salve-se quem puder” de todos os tempos.
Porque, neste país, vergado ao peso de uma ancestral desinformação, passou a ser-se, ou a favor da democracia ou do contra. E surgem os rótulos - direita, esquerda - com o centro flutuante - mais p’r’à direita ou mais p’r’à esquerda – sem se analisar a sanidade ou a insanidade de tais ditames, e muito menos das propostas governativas.
Quanto à maioria relativa, ela pareceu-nos permitir chegar mais facilmente aos consensos de razoabilidade, pelo menos jogando com o partido ou os partidos que a podem ajudar a decidir, após ponderação de mais que um.
Governo de maioria? Governo de minoria? Governo de união, em prol da nação? Mas será que com tanto défice, tanto domínio de escândalo contabilístico, tanta Justiça em ponto morto, ainda há quem se atreva a propor-se para governar? Viva a coragem de todos esses. Prometo que vou dar o meu voto. E fazer votos para que vença o que mais pareça amar o seu país. Mas estou pessimista.

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