quarta-feira, 24 de junho de 2009

“Foi aqui que tudo começou”

No “Forum Novas Fronteiras”.
Foi um discurso entusiástico o de José Sócrates. Quem disse da sua humildade? Teve, efectivamente, um desfalecimento passageiro, após as eleições, mostrou mesmo contrição, mas o Engenheiro Sócrates, habituado a correr, retomou o fôlego e ei-lo de novo bem embalado.
Tal como os deputados do PC a quem se acusa sempre de terem engolido uma agulha de gramofone, retomando continuamente o mesmo disco, o Primeiro Ministro, em novo élan, reiniciou triunfalmente a corrida, com a contabilização altissonante dos seus desempenhos governativos. Referiu a promoção das energias renováveis, e o seu governo electrónico – sem especificar se foi esse o responsável pela formação de autómatos no seu governo – e as reformas na Educação e na Saúde, não permitindo interrupções que pudessem contestar o valor dessas reformas. Expôs sobre a promoção do acesso aos empregos, indiferente aos aspectos fraudulentos da formação, para esses acessos. Exaltou o apoio às famílias, o abono pré-natal, o combate à pobreza, a modernização, o magalhães, a Europa... E olvidou ingratamente Vital Moreira.
Depois, no programa “Parlamento”, à noite, ouvi os deputados do PCP, do CDS-PP, do PSD que todos desancaram no PS, falando na adjudicação ou não do TGV, na frontalidade indispensável nesse capítulo, por uma questão de lealdade ao próximo governo, para não o condicionar já...
Mas acho que Montalvão Machado do PSD se precipitou, contando com o ovo a sair da galinha. Porque o Eng. Sócrates é que vai apanhar os ovos todos, está a trabalhar afincadamente para isso, ali onde tudo começou, no Fórum Novas Fronteiras. E a deputada do PS, Ana Catarina Mendes, advogada, soube advogar, com estridor, nessa noite, a causa do seu dirigente, recapitulando o discurso que já ouvíramos de Sócrates, ipsis verbis, com idêntica facúndia, sem escutar ninguém e atacando sempre, segundo o modelo Álvaro Cunhal e seguidores, muito em voga no PS ultimamente.
Não se falou nos vários casos de escândalo, nos discursos de patranha, incluindo o do erro sobre os valores da recessão e do desemprego, no desrespeito pelos cidadãos, na habituação do país ao subsídio de desemprego, originador de parasitismo, inércia e falta de brio, no despotismo dos patrões exigindo horas grátis, sob a ameaça chantagista de despedimentos, nas derrapagens económicas, no caso de obras de prazos e preços triplicados no seu final. Porque isso é uma constante nacional, pôs-se um véu sobre a questão, já que o povo pagará, como de hábito.
Entretanto, os dinheiros que voaram, ninguém explica para onde foram, e os implicados continuam impantes, ou serenos ou irónicos. Impunes. E o país está em falência, e as fábricas continuam a fechar, o desemprego a aumentar, a corrupção vivaz.
Mas nem Sócrates, de dia, nem a sua advogada, à noite, falaram nisso. Vê-se que estão cientes de que os ovos lhes caberão, que todos os que se sentem bem, e são muitos neste país, incluindo a imprensa escrita e falada, não deixarão de contribuir para a gemada.
Creio que Manuela Ferreira Leite, apesar das desconsiderações e vilezas de linguagem dos habituais detractores, conseguiu impor a imagem da pessoa corajosa e nobre de que o seu partido precisava e de que o país parecia estar ávido, ganhando as primeiras eleições.
Mas é uma falsa suposição, a da avidez por uma governação mais sensata. Os erros do governo vão ser olvidados ou absolvidos, e só as virtudes contarão, abundantemente propaladas. No Fórum Novas Fronteiras, onde tudo começou. E não vai acabar, em minha opinião abalizada, hélas!
Mas viva o S. João! E que não nos falte nunca o fogo... de artifício.

Nenhum comentário: