segunda-feira, 8 de junho de 2009

Poucos mas bons

O leão fora o terror da floresta. Mas à beira da morte todos o escoucearam sem dó. O leão encolheu-se e resignou-se, mas, quando o burro também lhe deu o coice, ficou dilacerado: “Oh! eu mereço isto, mas realmente, senhor, porque me dais tanta dor, porque padeço eu assim? Porque um burro a dar o coice, a um rei tão poderoso, é um sofrimento a dobrar que eu não posso suportar”.
Isto ele disse e calou-se, num desânimo “in extremis”, mas só porque o leão era racista e fazia do burro um ser a desprezar. Mas um burro não tem que ser o ser de inteligência inferior que cilindrava com o seu coice o ser de inteligência superior que o leão se considerava. Para além de uma forte teimosia, sintoma de uma personalidade forte, a que não falta a manha que substitui o requinte, o burro é um ser triste e gentil, mas ambicioso, que soube bem elevar-se na sua condição social, juntando-se ao cavalo e criando o gado muar intermédio. E isto o leão não devia esquecer, que também havia machos/mulas, cavalos/éguas, entre o gado equídeo, além das zebras da mutação oportuna, sempre prontas a desferir para onde sopram os ventos.
Claro que, como diria o Leclerc do “Allô, Allô”, mal disfarçado sempre mas sempre se identificando, como se fossem todos anjinhos, identifico o leão moribundo com o PS da derrota europeia e o burro do coice causador da dupla dor leonina, como a nação votadora – e mesmo a não votadora - que derrotou o PS.
Particularmente, prefiro os que assumem o seu voto, os que continuam a crer em algo, esquerda ou direita ou centro, porque os que se abstêm, podem revelar apenas indiferença por um direito por que tanto lutaram – o direito ao voto – um direito de cidadania que devíamos ter mais enraizado, não o desprezando egoisticamente, limitando-nos a desejar obter frutos do que não semeámos.
Mas o povo português votou e disse. Mau grado prévias sondagens descoroçoadoras, de um constante apoio a Sócrates e correligionários, que deprimiam quem acreditava que o erro era coisa punível – e os erros de uma governação, cujos princípios se apoiavam mais na destruição do que no seu inverso, mereciam punição e não glória – o povo português, embora em percentagem mínima, soube dizer não. Sejamos gratos por isso.
De toda a maneira, tenhamos sempre em conta as zebras, os que optam pelos ventos das praias em dias de eleições, farejando, entretanto, os novos ventos do seu oportunismo.

Nenhum comentário: