segunda-feira, 15 de junho de 2009

“Who? What? Where? When? Why?... How much?”

Versou sobre as Sete Maravilhas Portuguesas escolhidas entre as vinte e oito propostas de Maravilhas Portuguesas, um dos temas da nossa erudita conversa de hoje.
Sim, porque não nos limitamos a dissertar sobre a alta de preços, as doenças, as amigas, a família, as infracções diárias apontadas na comunicação ou por nós vividas, a crise, também exploramos outras temáticas, mais consentâneas com a nossa formação cultural, colhida fresquinha nos jornais Global ou Destack distribuído por jovens ou apanhado nos escaparates do Pingo Doce ou da CGD, que assim compensa as avarias frequentes das suas caixas automáticas, difundindo cultura. Não quero, com isto, minimizar as outras fontes de colheita informativa, sobretudo da minha amiga que já as traz de casa, fresquinhas, mais aliviada do que eu nos preparos domésticos matinais.
E assim, ela frequentemente se indigna. Ora com os rabos de cavalo das moças que vendem pão, a varrer o pão das prateleiras porque a touca não os cobre, e a ASAE não os detecta por muito que balancem fora da touca ou mesmo sem touca, ora com as avarias das tais caixas automáticas, ora com a falta de civismo das pessoas, sobretudo nas bichas das caixas registadoras, tudo é motivo de protesto para a minha amiga. Vê-se, pelo seu jeito irónico, que não lhe falta veia dramática.
Mas também se dá bem com gente feliz sem lágrimas, nos cafés onde vai com outras amigas, a vida não corre mal para todos, mesmo agora, graças a Deus, pois contam graças e estão de bem com o que está , o status, e creio que também com Deus.
Por isso atacou em cheio a respeito do tal programa das maravilhas portuguesas que se provaram ser sete, depois de bem aferidos os pormenores valorativos. Julguei-me até, tanta foi a violência da pergunta, em tempos recuados de docência, ensinando a composição da notícia jornalística aos meus discípulos – o primeiro parágrafo, contendo a síntese do acontecimento, com a inclusão de dados respondendo às interrogações do lead: “Quem?”, “O Quê?”, “Onde?” “Quando?”, “Porquê?” – cinco WW em inglês, o português falhando na homogeneidade das siglas - o corpo da notícia, com os parágrafos sequintes, naturalmente mais desenvolvido em pormenor objectivo.
Tratou-se, pois, do programa da RTP (“Who?”) acerca das Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo (“What?” ), obtidas em zonas do Mundo (“Where?”), tais como Índia, Brasil, Marrocos, Cabo Verde, Macau, onde os Portugueses deixaram registo de presença. Para o “When?” teríamos que referir o tempo gasto nas filmagens dos locais e dos encarregados da transmissão, além do espectáculo final no dia 10 de Junho de 2009.
Posso acrescentar o “Which”, enriquecendo desta forma o meu post, com referência aos tais monumentos, mas, utilizando já o corpo da notícia: Basílica do Bom Jesus em Goa, Fortaleza de Diu, Fortaleza de Mazagão em Marrocos, Cidade Velha de Santiago em Cabo Verde, Igreja de S. Paulo em Macau, Convento de S. Francisco de Assis da Penitência em Ouro Preto, Convento de S. Francisco da Ordem Terceira em S. Salvador da Baía.
Mas a nossa referência traduziu-se na pergunta violenta da minha amiga, como se eu fosse responsável pelos gastos, pergunta circunscrita a um “how much?” que faria parte também do desenvolvimento da notícia: - “Olhe lá, quanto acha que deve ter custado um programa destes?” Objectei mansamente que não nos dizia respeito. “ - Claro que diz. Ou julga que a RTP não é entidade estatal?”
Fico sempre entalada quando a minha ignorância é posta em cheque. Objectei patrioticamente que o programa tendia a assinalar a nossa vasta epopeia e, como li na Internet, a “preservar um legado que é de toda a humanidade”, criando uma “mestiçagem cultural” extremamente enriquecedora. Mas sobretudo que nos daria projecção, com massagem ao nosso ego, por consequência, junto daqueles que podiam estar esquecidos da nossa gesta marítima pioneira, e eram muitos. Além de que poderia contribuir para o desenvolvimento turístico, ao menos nesses sítios, afirmação minha de generoso altruísmo.
Não se perturbou com as farroncas patrióticas ou altruísticas: –“Não estamos em época de patrioteirismos (muito desagradável aminha amiga, quando está com os azeites), estamos em época de continência ou de abstinência”, não me lembro bem qual dos termos utilizou.
Para a amansar, eu referi o comportamento mais ou menos comedido e até bem informado dos apresentadores dos monumentos, mas, com efeito, achei menos rigoroso o de Catarina Furtado que, por ser bonita, não tem que demonstrar tantos arrebiques de meiguice e simpatia, num evento de seriedade. Lembrei mesmo as “boquinhas espremidinhas” do nosso Garrett tão visíveis em algumas apresentadoras, até bastante competentes, que não precisariam de tanto esmero nos contorcionismos e risos dengosos.
Para exibir a minha idoneidade cultural e desfazer as convicções da minha amiga sobre a minha ignorância, referi até um programa fabuloso que vi na RAI, sobre o Andrea Bocelli com uma orquestra imponente, em que a apresentadora, jovem bonita, não fazia tanta exibição de fatos nem de gestos, limitando-se a ser simpática e competente.
Nós, Portugueses, como as “Preciosas Ridículas” do Molière, exageramos nos requebros e na sofisticação – aquelas também na linguagem - revelando sempre um provincianismo decididamente pegado à nossa pele.
Mas só a RTP poderá responder à pergunta indignada da minha amiga sobre o custo do vasto programa das sete maravilhas portuguesas: “How much?”
E quanto teremos nós que pagar por ele?

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