terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ensino

Tenho presente uma reportagem do Diário de Notícias de 2/11 sobre as escolas cimeiras em resultados, no nosso país. Considera que entre as dez melhores escolas, sete colégios católicos são os primeiros, e, como base do sucesso, citam parâmetros indiscutíveis de eficácia, como sejam a disciplina, a exigência, o desenvolvimento integral da criança, a estabilidade do corpo docente, o acompanhamento dos alunos e das famílias e as condições sócio-económicas.
Como a reportagem vem acompanhada de uma imagem de bonitas raparigas de bonito uniforme, gostaria igualmente de exaltar o uniforme como factor valorativo. Honrar o uniforme foi expressão que dantes ouvíamos, e continuamos a ouvir nos filmes americanos antigos de militares – sejam eles actores, sejam tropas reais - que prezam a sua bandeira, o seu hino, a sua pátria, a sua farda. E que os povos asiáticos, sobretudo, manifestam, no rigor dos suas marchas, de uma beleza feita de disciplina, coesão e o fulgor de energia, própria do respeito, oposta à flacidez do desrespeito.
O amar esses valores começa na escola, era indispensável que começasse na escola. A liberdade trazida pela democracia apagou esses dados cívicos, que já as filosofias existencialistas desvalorizavam, a favor da pessoa, no desprezo pela razão opressiva.
“Cidadãos do mundo”, é o que alguns megalomanamente pretendem ser, desprezando a cidadania nacional. Mas sabemos que não é verdade: quem despreza a pátria não é cidadão de coisa nenhuma.
Por isso, esses valores deveriam ser incutidos desde o ensino básico, juntamente com a disciplina, juntamente com a exigência.
E isso é mais fácil nos colégios católicos, ou mesmo quaisquer outros em que as famílias que pagam exigem resultados. Mas os últimos nem sempre os obtêm, menos rigorosos do que os primeiros na imposição de normas, porque, muitas vezes, depósito de alunos insubordinados que o ensino público rejeitou.
Está visto que o ensino público não pode, actualmente, ter a mesma eficácia que o particular. E o primeiro motivo foi a instauração do laxismo, da permissividade, da indisciplina, do desrespeito, trazidos pela barafunda libertária acéfala – para não dizer idiota - da revolução de Abril, e o seguidismo pedagógico dos ministérios da Educação, dentro da mesma linha libertária, direi mesmo criminosa. O absentismo dos professores, tal como o dos alunos fez época, embora admire a corajosa manutenção de responsabilidade e assiduidade de milhares de professores, apesar do clima de anarquia instaurado. Mas essa época teria repercussões futuras degradantes.
No meu livro “Cravos Roxos” tenho um capítulo – “Memórias de um professor do liceu” – que dá conta desses percalços educativos de estarrecer, em 1976, no Liceu Passos Manuel.
Entretanto, anos passaram, as coisas foram-se equilibrando, lembro com amor outros anos que leccionei, com casos pontuais de indisciplina que nunca me recusei a gerir, pela participação da falta e conselho de turma, onde a minha autoridade não foi desrespeitada, tanto na Escola Secundária de Cascais como na de S. João do Estoril, onde leccionei. Sempre os Directores dessas escolas me apoiaram, porque reconheceram os motivos da minha queixa, e certamente que a de outros professores exigentes, que, por o serem, não deixavam de ser humanos.
Hoje, tenho conhecimento de um retorno aos inícios dos anos da Revolução, na indisciplina, na má educação, com troca de mensagens por telemóvel enquanto a professora se esforça por transmitir saberes, um desgaste total de energias de consequências futuras tenebrosas.
A unificação do ensino, a massificação, com camadas sociais díspares, tudo isso contribui também para o caos educativo.
Mas mais importante do que isso, creio bem que as actuais políticas educativas são responsáveis – no desrespeito que imprimiram no processo de avaliação docente, culpabilizando os professores pelo insucesso, exigindo justificação dele, exigindo fraudulento sucesso, minimizando os saberes, maximizando a futilidade e o aparato de mais fácil entendimento, abandalhando o sentido da exigência cultural pela carga horária que impõem ao professor, impossibilitando-o de uma real formação específica da sua docência.
E no entanto, as provas de exame, feitas por professores responsáveis, mantêm a exigência da seriedade, que os programas de ensino reclamam.
No percurso dos anos lectivos feito com tantas contingências de imposição ministerial absurda e de indisciplina grosseira, conseguir que os alunos obtenham bons resultados nos exames é acção heróica de todos os professores, certamente, mas especialmente dos do ensino público, assim desapoiados.

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