Tenho um “Dictionnaire de Citations du Monde Entier” da colecção « Les Usuels de Robert » que nos conduz aprazivelmente à filosofia em sentenças respigadas das obras dos autores e povos, em tradução francesa. Um encanto, poder passar dos autores da Grécia aos da Bíblia, da China, aos ingleses, portugueses, franceses...
Começa pela letra A, pela África do Sul, de que escolhi, de citações ao acaso, do poeta satírico Roy Campbell (1902-1927), as seguintes sentenças: “Detesto a humanidade e todas as abstracções deste género. Os que amam a humanidade detestam, em geral, as pessoas”.
O comentário tem perfeita actualidade, sobretudo entre nós, que tanto esgotamos as abstracções da nossa sensibilidade – filantropia, solidariedade, amor... – em favor de uma Humanidade também genérica e que permitimos as nossas misérias internas de salários miseráveis, de pobreza inconcebível, mesmo dos que trabalham, e dos pedintes que talvez ganhem mais do que aqueles, na sua indignidade do pedinchar, misérias que contrastam, em décalage gritante, com os vencimentos e mordomias dos que têm o encargo de fazer a distribuição dos dinheiros públicos ou dos patrões dos empregos privados.
E põe-se o problema da Justiça. Diz Aristóteles (384-322 a.C): “A justiça é a base da sociedade; o julgamento constitui a ordem da sociedade: ora o julgamento é a aplicação da justiça” .
Temos vivido uma era de crise jurídica, verificamo-lo continuamente ultimamente, não temos como pôr cobro a tanta perversão, não temos julgamentos credíveis, pelo menos os mais mediáticos. E isso, atribuímo-lo à rede. Por isso nos falha a tal “base da sociedade”.
E porque já Platão (428-348 a C.) tinha perguntado: “ Não há circunstâncias em que a mentira nas palavras perde o que tem de odioso porque se torna útil?”, vemos aí a justificação do alastramento da rede – a mentira como inerente às justificações nos julgamentos, ou na argumentação de quem não precisa, afinal, de se justificar, respondendo com ataques aos que desejem obter a verdade, porque, como afirma ainda Platão, “O homem é a medida de todas as coisas”.
No nosso país, esse homem é Sócrates, de quem Platão disse ainda “Ó humanos, dentre vós o mais sábio é aquele, como Sócrates, que sabe que o seu saber é nulo.”
Não o poderia dizer do nosso Sócrates, cujo saber é absoluto. Devemos desprezar o outro, como ignorante, que o nosso Sócrates é o maior. Ou não fosse português.
Começa pela letra A, pela África do Sul, de que escolhi, de citações ao acaso, do poeta satírico Roy Campbell (1902-1927), as seguintes sentenças: “Detesto a humanidade e todas as abstracções deste género. Os que amam a humanidade detestam, em geral, as pessoas”.
O comentário tem perfeita actualidade, sobretudo entre nós, que tanto esgotamos as abstracções da nossa sensibilidade – filantropia, solidariedade, amor... – em favor de uma Humanidade também genérica e que permitimos as nossas misérias internas de salários miseráveis, de pobreza inconcebível, mesmo dos que trabalham, e dos pedintes que talvez ganhem mais do que aqueles, na sua indignidade do pedinchar, misérias que contrastam, em décalage gritante, com os vencimentos e mordomias dos que têm o encargo de fazer a distribuição dos dinheiros públicos ou dos patrões dos empregos privados.
E põe-se o problema da Justiça. Diz Aristóteles (384-322 a.C): “A justiça é a base da sociedade; o julgamento constitui a ordem da sociedade: ora o julgamento é a aplicação da justiça” .
Temos vivido uma era de crise jurídica, verificamo-lo continuamente ultimamente, não temos como pôr cobro a tanta perversão, não temos julgamentos credíveis, pelo menos os mais mediáticos. E isso, atribuímo-lo à rede. Por isso nos falha a tal “base da sociedade”.
E porque já Platão (428-348 a C.) tinha perguntado: “ Não há circunstâncias em que a mentira nas palavras perde o que tem de odioso porque se torna útil?”, vemos aí a justificação do alastramento da rede – a mentira como inerente às justificações nos julgamentos, ou na argumentação de quem não precisa, afinal, de se justificar, respondendo com ataques aos que desejem obter a verdade, porque, como afirma ainda Platão, “O homem é a medida de todas as coisas”.
No nosso país, esse homem é Sócrates, de quem Platão disse ainda “Ó humanos, dentre vós o mais sábio é aquele, como Sócrates, que sabe que o seu saber é nulo.”
Não o poderia dizer do nosso Sócrates, cujo saber é absoluto. Devemos desprezar o outro, como ignorante, que o nosso Sócrates é o maior. Ou não fosse português.
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