Gosto das pessoas que falam da sua geração como sendo uma geração uniformemente culta, ledora dos filósofos, ensaiada nos socialismos humanitários, que se vê bem que o foram – humanitários - porque são os que socializam os fundos nacionais em termos individuais, todos bem na vida, aliás merecidamente, porque são intelectuais sólidos e previdentes, quase dos únicos humanos a merecer os benefícios da aura e da honra, e digo quase, porque da geração actual beneficiária dos fundos que o socialismo lhe providenciou, a maioria não se embebe dessas doutrinas de generosidade generalizada às classes trabalhadoras, porque lhes prefere a sua própria rede de generosidade eficientemente generalizada a cada nódulo.
Na minha geração também havia já ledores de Marx e Engels, e do Freud, explorando com este - que, aliás, se tem mantido firme nos nossos tempos - os recônditos da líbido e do superego nas suas obras insignes. Mas faziam-no escondidamente, não fosse a Pide rebuscar-lhes as obras, como aconteceu no liceu Salazar em Lourenço Marques, onde, no meu 7º ano liceal, creio que em 52 ou 53, a polícia política foi buscar colegas nossos, logo pela manhãzinha, levando-os consigo para os calabouços, onde estiveram dias – alguns, menos firmes nas suas convicções, apenas horas - a ser interrogados sobre as suas leituras e actividades.
Anos depois viu-se a diferença entre os de convicções mais firmes e os de convicções menos firmes, talvez apenas intelectualmente curiosos: estes fizeram a tropa e a guerra, aqueles safaram-se para Paris e outros sítios com mais recursos aprazivelmente intelectuais e sócio-económicos.
Mas eu não me posso gabar de ter acompanhado os meus colegas intelectuais nas suas viagens políticas. Deixados os enredos romanescos dos livros azuis ou rosa da adolescência, enveredámos – eu e outros como eu - pelos escritores portugueses, franceses, brasileiros, americanos, etc, de colecções que então as livrarias produziam e nos serviam, mais para explorarmos os aspectos romanescos do que para aprofundarmos os valores politizadores. De política não se falava, tudo corria no melhor dos mundos, tínhamos um ensino arrumado, como arrumados estavam os percursos escolares, nas exigências de um saber a sério, embora com pouca amplitude ideológica. Mas não esqueço o encanto que o ensino proporcionava, distribuindo bilhetes do “Círculo de Cultura Musical”, salvo erro no cinema Gil Vicente, onde ouvi e vi Sequeira Costa, os irmãos Vasco e Grazi Barbosa, Villaret, Marcel Marceau e outros mais. Serve a referência para mostrar que não era tão destituído assim o nosso ensino então, como se quer fazer crer. Só que não permitia certas leituras que se achavam destrutivas de valores que o Estado Novo defendia.
Apenas, quando falo em geração – a minha geração – não posso deixar de referir outros que não liam Marx, mas também não liam Martin du Gard nem Somerset Maugham, nem Cervantes, nem Eça e não passavam do livro da primeira classe.
Falar da “minha geração” com tanto orgulho, como já vi fazer, é, pois, uma forma vaidosa e falsa de exibir unilateralmente uma falsa condição social. Porque cada geração é formada por inúmeros indivíduos das mais diversas dinâmicas – físicas, intelectuais ou assim assim.
Mas o valor da expressão também varia conforme o ponto de vista. Fala-se na geração de setenta, na geração romântica, na modernista, com conotação de superioridade intelectual, como eu ouvi hoje, referenciada, com grande orgulho por quem a pronunciou ou escreveu. Mas quando Almada Negreiros, no seu “Manifesto Anti-Dantas” afirma que “Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi! É um cóio de indigentes, de indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos e só pode parir abaixo de zero!”, ele fala dos burgueses conservadores, dos literatos também, mas que pertencem a uma camada oposta, sem ideais progressistas. E troça desses, por seguirem preconceitos banais, de grande atraso mental, geração que “só pode parir abaixo de zero”.
Mas, concordo, as gerações reconhecidas na história, são as que muito leram, ou muito escreveram, como diria a minha amiga, p’r’à frentex. Talvez as pessoas que não estão incluídas na designação não se importem assim tanto.
Também nas batalhas só são conhecidos os nomes dos heróis. Os soldados dos pelotões não contam. Embora estivessem lá. Resta-lhes a consciência de terem estado e cumprido. Assim se lembrassem deles e da sua bolsa parcimoniosa os da geração beneficiária do comando da Nação. Ou mesmo os da geração ledora de Marx e Engels, para aplicarem a sábia doutrina humanitária, estimulando, nesse sentido, a beneficiária no comando, retirando, da rede, a corrupção, alargando a rede dos beneficiados.
Na minha geração também havia já ledores de Marx e Engels, e do Freud, explorando com este - que, aliás, se tem mantido firme nos nossos tempos - os recônditos da líbido e do superego nas suas obras insignes. Mas faziam-no escondidamente, não fosse a Pide rebuscar-lhes as obras, como aconteceu no liceu Salazar em Lourenço Marques, onde, no meu 7º ano liceal, creio que em 52 ou 53, a polícia política foi buscar colegas nossos, logo pela manhãzinha, levando-os consigo para os calabouços, onde estiveram dias – alguns, menos firmes nas suas convicções, apenas horas - a ser interrogados sobre as suas leituras e actividades.
Anos depois viu-se a diferença entre os de convicções mais firmes e os de convicções menos firmes, talvez apenas intelectualmente curiosos: estes fizeram a tropa e a guerra, aqueles safaram-se para Paris e outros sítios com mais recursos aprazivelmente intelectuais e sócio-económicos.
Mas eu não me posso gabar de ter acompanhado os meus colegas intelectuais nas suas viagens políticas. Deixados os enredos romanescos dos livros azuis ou rosa da adolescência, enveredámos – eu e outros como eu - pelos escritores portugueses, franceses, brasileiros, americanos, etc, de colecções que então as livrarias produziam e nos serviam, mais para explorarmos os aspectos romanescos do que para aprofundarmos os valores politizadores. De política não se falava, tudo corria no melhor dos mundos, tínhamos um ensino arrumado, como arrumados estavam os percursos escolares, nas exigências de um saber a sério, embora com pouca amplitude ideológica. Mas não esqueço o encanto que o ensino proporcionava, distribuindo bilhetes do “Círculo de Cultura Musical”, salvo erro no cinema Gil Vicente, onde ouvi e vi Sequeira Costa, os irmãos Vasco e Grazi Barbosa, Villaret, Marcel Marceau e outros mais. Serve a referência para mostrar que não era tão destituído assim o nosso ensino então, como se quer fazer crer. Só que não permitia certas leituras que se achavam destrutivas de valores que o Estado Novo defendia.
Apenas, quando falo em geração – a minha geração – não posso deixar de referir outros que não liam Marx, mas também não liam Martin du Gard nem Somerset Maugham, nem Cervantes, nem Eça e não passavam do livro da primeira classe.
Falar da “minha geração” com tanto orgulho, como já vi fazer, é, pois, uma forma vaidosa e falsa de exibir unilateralmente uma falsa condição social. Porque cada geração é formada por inúmeros indivíduos das mais diversas dinâmicas – físicas, intelectuais ou assim assim.
Mas o valor da expressão também varia conforme o ponto de vista. Fala-se na geração de setenta, na geração romântica, na modernista, com conotação de superioridade intelectual, como eu ouvi hoje, referenciada, com grande orgulho por quem a pronunciou ou escreveu. Mas quando Almada Negreiros, no seu “Manifesto Anti-Dantas” afirma que “Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi! É um cóio de indigentes, de indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos e só pode parir abaixo de zero!”, ele fala dos burgueses conservadores, dos literatos também, mas que pertencem a uma camada oposta, sem ideais progressistas. E troça desses, por seguirem preconceitos banais, de grande atraso mental, geração que “só pode parir abaixo de zero”.
Mas, concordo, as gerações reconhecidas na história, são as que muito leram, ou muito escreveram, como diria a minha amiga, p’r’à frentex. Talvez as pessoas que não estão incluídas na designação não se importem assim tanto.
Também nas batalhas só são conhecidos os nomes dos heróis. Os soldados dos pelotões não contam. Embora estivessem lá. Resta-lhes a consciência de terem estado e cumprido. Assim se lembrassem deles e da sua bolsa parcimoniosa os da geração beneficiária do comando da Nação. Ou mesmo os da geração ledora de Marx e Engels, para aplicarem a sábia doutrina humanitária, estimulando, nesse sentido, a beneficiária no comando, retirando, da rede, a corrupção, alargando a rede dos beneficiados.
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