sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os nós górdios da nossa Educação

Perguntei à minha amiga se tinha ouvido a entrevista da Isabel Alçada.
- Acho que há uma diferença abismal entre essa e a outra. Mas eu cada vez tenho menos paciência para os ouvir. Até ouvi-los é sacrifício. Mais vale ser burro.
- É. Estamos saturados. Mas eu fui passando a ferro para aguentar melhor. E até perdi “Uma Família às Direitas”. Só para ver se havia novidade.
- E havia?
- Não, por enquanto. Temos que fechar o ciclo da avaliação. Em Dezembro. Para distribuir mais excelentes, bons e muito bons pelos que cumpriram direitinho. Seria desperdício não chegar ao fim. Mesmo que tudo fosse errado na avaliação. Se o monte de esterco é para ser finalizado numa data xis, temos que esperar pela data xis para eliminar o monte de esterco. Só depois se poderá alterar.
- Mas é assim tanto o esterco?
- Vejamos! A selecção entre professores titulares e não titulares foi feita arbitrariamente, com injustiças gritantes que catapultaram muitos professores por sobre outros, confiando-se-lhes um papel de avaliadores de competências quando eles próprios as não tinham, pelo menos do ponto de vista cultural. Não foram sujeitos a exame prévio. Claro que o Ministério lhes forneceu formação posterior, mas a escolha foi arbitrária e isso é injusto. Um ponto de partida errado.
- Mas como justiça é o que menos temos por aqui, os professores já deviam estar habituados e resignar-se.
- Pode ser que sim. A partir de Dezembro se verá. A Isabel Alçada diz que sabe dar-lhes a volta. É meiguinha, doce, sorridente, a rapaziada cai-lhe aos pés. Deve estar habituada a que lhe caiam aos pés. Para mais tem o compadrio do PM, diante de quem todos se curvam, temerosos. É preciso respeito.
- Mas o que achou dela?
- Acho que disse umas coisas mais ou menos atamancadas para não se comprometer muito. Não se atreve a cortar o nó górdio criado com o tal monte de esterco. Isso está bem para os Alexandres Magnos não para as Isabéis Alçadas.
- Está muito violenta.
- Não tenho paciência para os cinismos. Por exemplo, uma das coisas que ela disse na entrevista, quando a Judite de Sousa a pressionou sobre a urgência da destruição do processo de avaliação foi que “na Educação quando se destrói o que está para trás está a fazer-se um erro enorme”, indiferente à destruição da Educação causada pelo tal processo de avaliação, aliás, destruição que foi sendo perpetrada a partir da própria Revolução de Abril, sobretudo na redução da exigência disciplinar e educacional. Mas o processo de Avaliação da ex-ministra foi um atentado idêntico aos dos terroristas da Al-Qaeda ou da Eta, para não falar dos dos antigos terroristas das Áfricas e das Américas que levam tudo raso. A ex-ministra e o PM fizeram tábua rasa do ensino, das competências dos professores, criaram uma espécie de terra queimada para lançarem o seu esterco, indiferentes aos sofrimentos e injustiças que provocaram. Esta simpática ministra acha que tem que concluir o processo, respeitar o trabalho dos professores avaliadores e dos avaliados submissos, embora continuando a desrespeitar os insubmissos ultrajados. E isso é cinismo, embora obedeça a ordens superiores.
- Como será o novo projecto de avaliação?
- A Judite Sousa também perguntou isso. Respondeu vagamente que há muitos cenários. E disse mais umas patacoadas. Nem vale a pena perder tempo. Por enquanto o primeiro processo é que conta. Mas quando afirmou que os nórdicos não chumbavam como nós, esqueceu-se de que as condições dos nórdicos são diferentes. Que as famílias nórdicas, como povos avançados, criam condições para que os filhos progridam, sem os traumatizarem com os chumbos. As famílias cá, que orientam os filhos, também não têm razões de queixa. Mas a ministra sabe que a massa geral nas turmas das nossas escolas é de povos atrasados, de alunos entregues a si e às suas rebeldias e fomes, e que os professores os têm a todos nas suas turmas, os bons e os maus, os educados e os indisciplinados e que parte da aula é desgastada em advertências e inúteis discussões com os alunos de comportamentos malandros. Claro que são necessárias as aulas de recuperação. Mas não chegam.
- Mas ela não prometeu nada?
- Sim, disse que ia “mexer” no estatuto dos alunos, rever o horário dos professores, criar apoio às escolas... O blablabla sem consequências.

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