Falou-se do Cavaco, da sua declaração, não universal ainda, mas bem nacional já, dos direitos dos homens e das mulheres que desejem unir-se pelos sagrados laços do matrimónio unissex, e a minha amiga largou a frase que encima este texto: “A crise agora fica para depois”.
E a minha amiga continuou largada no seu discurso ondulado, avesso a interrupções:
- Vai haver muito casamento. Vai ser uma animação. Há tantos, tantos, que é uma coisa maluca. E vão aparecer muitos que estavam na sombra. Coitado do Cavaco! Concordou com o ar mais dramático possível e imaginário. Custou-lhe muito.
Eu ainda me esforcei por a interromper, a lembrar que o coitado do Cavaco, que condenou a lei liberalizadora, justificando a sua aprovação a pretexto de que o seu veto provocaria nova consulta parlamentar com nova aprovação óbvia, e o que era necessário neste país era começarmos a trabalhar para, pelo menos, tentarmos controlar mais a crise, no fundo falseara a questão, jogando a dois carrinhos – o dos prós e o dos contras – de bem com Deus e de bem com o Diabo, no objectivo, sobretudo, de não perder as futuras eleições presidenciais, votando uma lei iníqua que lhe repugna.
“De mal com os homens por amor d’el-rei, de mal com el-rei por amor dos homens”, foi Albuquerque que disse dele próprio, mas Cavaco também o poderia afirmar, sendo ele, todavia, o rei, um rei de ambiguidades que não enganam ninguém, sério na contestação de leis que a sua seriedade repele, com bons argumentos, aliás, mas cedendo às mesmas leis por imposição dos seus próprios interesses, para captação de simpatia dos que se afirmam de progressistas, de modernos, sobretudo de mais inteligentes e evoluídos do que os tacanhos deste povo que somos a maioria. Um referendo mostraria a tacanhez, mas os evoluídos não o quiseram e Cavaco não o propôs para ficar de bem com quem lhe pareceu melhor, sendo ele um deles pelos argumentos já analisados.
Mas estes argumentos não os disse eu à minha amiga, que continuou com o seu discurso de comiseração, pelas famílias desses que agora já podem usar aliança em vez de brinco. Pensa nos pais deles, nos irmãos deles, que sofrem muito. E conclui:
- Agora só falta terem bebés. Também hão-de lá chegar. Já não é nada que não possa vir a acontecer. Por enquanto, há as barrigas de aluguer, a inseminação artificial... Mas a ciência evolui muito rapidamente.
- Talvez os extra-terrestres tragam umas dicas, um dia destes.
Fui eu que falei, lançando, finalmente, a minha colherada, na verbosidade caridosa da minha observadora amiga. A crise fica para depois. É sempre a adiar.
E a minha amiga continuou largada no seu discurso ondulado, avesso a interrupções:
- Vai haver muito casamento. Vai ser uma animação. Há tantos, tantos, que é uma coisa maluca. E vão aparecer muitos que estavam na sombra. Coitado do Cavaco! Concordou com o ar mais dramático possível e imaginário. Custou-lhe muito.
Eu ainda me esforcei por a interromper, a lembrar que o coitado do Cavaco, que condenou a lei liberalizadora, justificando a sua aprovação a pretexto de que o seu veto provocaria nova consulta parlamentar com nova aprovação óbvia, e o que era necessário neste país era começarmos a trabalhar para, pelo menos, tentarmos controlar mais a crise, no fundo falseara a questão, jogando a dois carrinhos – o dos prós e o dos contras – de bem com Deus e de bem com o Diabo, no objectivo, sobretudo, de não perder as futuras eleições presidenciais, votando uma lei iníqua que lhe repugna.
“De mal com os homens por amor d’el-rei, de mal com el-rei por amor dos homens”, foi Albuquerque que disse dele próprio, mas Cavaco também o poderia afirmar, sendo ele, todavia, o rei, um rei de ambiguidades que não enganam ninguém, sério na contestação de leis que a sua seriedade repele, com bons argumentos, aliás, mas cedendo às mesmas leis por imposição dos seus próprios interesses, para captação de simpatia dos que se afirmam de progressistas, de modernos, sobretudo de mais inteligentes e evoluídos do que os tacanhos deste povo que somos a maioria. Um referendo mostraria a tacanhez, mas os evoluídos não o quiseram e Cavaco não o propôs para ficar de bem com quem lhe pareceu melhor, sendo ele um deles pelos argumentos já analisados.
Mas estes argumentos não os disse eu à minha amiga, que continuou com o seu discurso de comiseração, pelas famílias desses que agora já podem usar aliança em vez de brinco. Pensa nos pais deles, nos irmãos deles, que sofrem muito. E conclui:
- Agora só falta terem bebés. Também hão-de lá chegar. Já não é nada que não possa vir a acontecer. Por enquanto, há as barrigas de aluguer, a inseminação artificial... Mas a ciência evolui muito rapidamente.
- Talvez os extra-terrestres tragam umas dicas, um dia destes.
Fui eu que falei, lançando, finalmente, a minha colherada, na verbosidade caridosa da minha observadora amiga. A crise fica para depois. É sempre a adiar.
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