domingo, 30 de maio de 2010

Fábula de Esopo e do tempo de agora

“O gaio e os corvos”

«Um gaio que os outros em tamanho excedia,
Ao exibir a sua alta figura,
Acabou por os seus congéneres desdenhar
Por achar,
Em altiva comparação,
De auto-afirmação,
Que aqueles tinham fraca envergadura
Para com eles poder
Conviver.
Então,
À sociedade dos corvos se dirigiu
Para ver se ela o recebia
Como ele achava que merecia.
Mas o que viu
Foi que os corvos consideraram
Suspeitas, a sua voz e a figura
De tamanha postura,
E o desancaram
E o expulsaram.
Assim, pelos corvos desprezado,
Com muita amargura
Voltou a juntar-se, incomodado,
Aos gaios.
Mas os gaios
No seu orgulho chocados
Pelo abandono anterior
Deste gaio impostor,
Recusaram-se a acolhê-lo
Optando por expulsá-lo.
E foi assim
Que de uns e outros abandonado,
Ficou privado
De um lar salvador.
O seu orgulho de dimensão superior
Foi muito maltratado,
Sim.

O mesmo acontece com os homens,
Quer sejam velhos ou jovens:
Os que abandonam a sua nação
E optam por outra terra,
São, por fim,
Vistos em todo o lado
Sem nenhuma comiseração:
Nesta, por serem estrangeiros nela;
Odiados naquela
Pelos seus concidadãos,
Por os terem desprezado
Sem qualquer razão.»

É a moral de Esopo,
De um tempo em que, afinal,
Já havia deslocações
Com emigrações,
Em busca, talvez, de novidades,
Ou sequer de melhores condições
Quando não de duras expulsões -
Expatriações.
Mas hoje,
Na aldeia global,
Não se passa tal.
Dum modo geral,
Todos são tratados com amor,
Tanto no país natal
Como no país de escolha
Onde as condições de sobrevivência
São às vezes - mas só por excepção,
Digo-o com convicção -
Superiores em valor
Às do país natal.
Mas o amor existe, afinal,
Desde que se governe com a ciência
Do coração
E com o sentimento
Da razão,
Como bem se deseja
Para que se veja.
Anarquicamente.

Na realidade,
Não temos razões de queixa,
Felizmente,
Nem sequer inveja,
Pois somos amados
Com autenticidade.
Só desejamos, convictamente,
Que Nosso Senhor nos proteja
Sucessivamente,
Sucessivamente
Sucessivamente.

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