terça-feira, 4 de maio de 2010

“Parece que temos aí uma fartura...”

- “... de economistas, que sabem o que se deve fazer e o que se não deve fazer!”. Ai, mete-me cá uma raiva!”
Isto foi o que disse a minha amiga, depois de eu lhe ter referido um pouco do “Prós e Contras” que vi ontem, com muita gente sabedora e muitos olhos atentos e esbugalhados da assistência impotente, tal como os que, como eu, assistem do sofá ao debate das nossas aflições, que a minha amiga nem isso, por não fazer cedências aos prazeres espirituais do sofá, preterindo-os a favor dos do Morfeu.
A minha amiga também falou no Cavaco Silva, que no início, estando preocupado, e aconselhando prudência, como de costume, considerava que não estávamos tão mal como a Grécia, mas mudou de opinião a respeito das grandes obras públicas que o Sócrates mantém como ponto de honra e até mesmo ponto-chave da sua carreira triunfal na reconstrução do seu país de grandes oportunidades todas novas.
Cavaco Silva segue mais a linha do actual pensamento do ministro das Finanças Teixeira dos Santos, cada vez mais de mãos na cabeça, sede do pensamento, e só não desgrenhada por ter o cabelo cortado à escovinha, creio que por achar que temos de poupar mesmo nos penteados.
O nosso Primeiro não pensa assim, contudo, que mantém o tamanho do seu cabelo, conquanto embranquecido e não pintado, penso que para poupar nas tintas, e só peço a Deus que me deixe colorir sempre as minhas cãs, embora saiba quanto isso depende da manutenção do subsídio de férias e do 13º mês da nossa relativa abastança, e digo relativa porque parece que estamos todos empenhados e já soa que os vamos perder – o subsídio e o 13º mês - e portanto, no meu caso pessoal, embora redundante, do que peço desculpa, mas uso a redundância para frisar melhor o meu problema, no meu caso pessoal, pois, perder também a possibilidade das minhas pinturas capilares o que me desfeia ainda mais, que a idade não contempla vaidades. É por isso que eu acho que a Marilyn Monroe teve muita sorte em morrer cedo, que assim manteve intacta a sua beleza. Há males que vêm por bem, sempre ouvi dizer, por isso ela virou mito, e um mito é sempre um mito, um nada que é tudo, como disse o nosso inteligente Fernando, Pessoa de apelido.
A minha amiga continuou no seu monólogo, que ela é que fez as despesas da conversa no nosso encontro doméstico, tal como o Vaqueiro com que o nosso Gil Vicente se iniciou na arte dramática com que nos brindou magistralmente.
Mas o Vaqueiro de Gil Vicente, fez um monólogo elogioso, ao palácio e ao rei D. Manuel e família, a rainha D. Maria inclusive, que se tratava de homenagear, pelo seu parto do futuro D. João III, mais um Pio do nosso catálogo de gente piedosa que proliferou ao longo dos tempos até chegar ao nosso Primeiro, mais pio ainda do que os restantes, por querer salvar a nação a todo o custo, isto é, com muitos custos, pelo menos para a maioria de nós, que há sempre uma minoria mais protegida, e não só pela protecção do enternecimento alheio, mas pela auto-protecção do enternecimento próprio.
Disse ela então, a minha amiga, no seu monólogo antes atrabiliário, que anda com a bílis alterada, ao contrário do monólogo laudatório do Vaqueiro aparolado, e vou transcrevê-lo sem mais tergiversações, que até é uma vergonha tanta derrapagem na minha história de bla bla bla sem consequência:
- Estão a ser julgados uma série de galifões, entre eles aquele que foi presidente da Câmara de Lisboa no caso do Parque Mayer, o Carmona Rodrigues. Veja as notícias, que eles vão aparecer todos. O mal dos países é serem roubados. Não é só o nosso. Na Grécia, na Espanha, tem sido uma pouca vergonha de corrupção. Na Itália o Berlusconi... Eles não aguentam com tanta fortuna. Carregam nas costas com tanta fortuna, tão grande, tão grande, que eles não aguentam. É por isso que o Zé povo não consegue. É como no Brasil, é como Angola, como Moçambique... O Dubai... Os países são roubados.
Mas vi nas notícias que o ex-presidente Carmona foi ilibado. Como todos os presidentes e mesmo não presidentes. Todos os galifões, afinal, das nossas glórias nacionais. Actuais.

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