A seguinte fábula de La Fontaine
É muito interessante
Para os dias que por nós correm,
Em que usamos facilmente
Siglas, santos e senhas
Para passarmos mais eficazmente
As mensagens discretas,
Geralmente secretas,
Embora, muitas vezes, com escutas,
Dos nossos conluios de patranhas
Que os ouvidos nos ferem
Tanto o rumor que entre nós geram.
O que é certo é que La Fontaine
Já sabia disso, e por isso
Poderemos concluir
Que o homem nem sequer
Conseguiu, desde então,
Progredir
Em positiva evolução.
Porque a lição
De La Fontaine
Era apenas uma prevenção
Para nos acautelarmos,
Contra o lobo feroz.
Mas nós
Não a tomámos como tal,
E usamos e abusamos
Desses jogos do poder
Para melhor enganar
O vilão
Quando os vilões
São eles.
Vejamos a fábula então
Que certamente
Nos vai entreter:
“O Lobo, a Cabra e o Cabrito”
«Madame Cabra,
Ao ir a sua arrastada teta encher,
A pascer
A tenra erva do prado, ali mesmo ao lado,
Fechou a porta com a aldraba
Depois de ao seu filhote dizer:
“Pela tua saúde e vida também
Não abras a porta a ninguém
Que o seguinte santo e senha
Não tenha:
“Maldito seja o Lobo e toda a sua raça” .
Acabava ela de falar
Quando o Lobo por acaso ali passa.
Sem que ninguém lho impeça,
Na memória as palavras da senha fixa
Para as aplicar logo que possa.
Madame Cabra, como é de supor
Não tinha visto o glutão,
Que era um bom estupor,
Para usar um termo menos convencional,
Embora sem ser por mal.
Assim que vê a Cabra partir
Sem grande ponderação
Imita o seu tom de voz,
Voz fininha, de falsete,
Pede que abram, e sem sanha
Diz a senha: “Maldito Lobo!”
Julgando que iria entrar logo a seguir.
O cabritinho espertinho suspeitou,
Pela fenda olhou,
E disse com muita manha:
“Mostre-me a patinha branca
Sem o que, juro e jurarei
Que a porta não abrirei”.
Ora a pata branca não é definitivamente,
Coisa usada entre os lobos
Como sabemos especificamente.
Surpreendido, pois, com tal linguagem,
O Lobo pisgou-se para outra paragem.
Onde estaria o cabritinho
Se tivesse acreditado, sem mais outra prova,
Na palavra da senha
Que o Lobo, com artimanha,
Pronunciou
Sem nenhuma vergonha?
Duas certezas valem mais que uma
Em suma,
E jamais
O excesso delas foi demais.»
Ora aqui está uma lição
De longo alcance,
Sobre a averiguação
Na identificação da verdade.
O que é preciso é
Encontrar o ponto fraco
Dos mentirosos.
Mas, cautelosos,
E sem entranhas
Nem sempre estes
Se deixam apanhar,
Justamente porque
São poderosos
Os seus alibis
De santos e sanhas
E pontos nos is,
Muito preciosos
Para a ocultação
Das suas patranhas
Tamanhas.
sábado, 5 de junho de 2010
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