Li hoje à minha amiga o comentário que fiz ontem a um professor indignado com uma anedota aposta a um livrinho infantil, com grave ofensa às professoras do nosso país, sobre a produção dos animais domésticos, na resposta da criança: O carneiro dava lã, a galinha ovos, a vaca trabalhos de casa.
A anedota, minimizada na sua dimensão destrutiva por alguns que o professor Luís Reis cita, provocou uma bela reacção neste, em defesa da honra da sua classe, neste caso representada pelo sexo feminino, mais fragilizado no foro anedótico do nosso país, creio que por um arreigado espírito machista, que escancara o riso alarve e alvar da nossa falta de educação ancestral.
Eis o texto que me chegou por email:
“Vejam isto. A falta de respeito pelos professores já chegou às editoras.”
“Professoras como "vacas"... Editora Civilização”
“Isto é realmente uma vergonha!!! Denunciem!!!!
«Boa tarde,
Serve o presente email para vos informar que enquanto docente nunca
irei utilizar / adoptar manuais da vossa editora, pois ainda sou dos
"bois" que passam trabalhos de casa (ainda que poucos).
Muito obrigado pelo excelente serviço que prestam à educação em Portugal!
“Colegas
Deixo-vos descobrir esta publicação infeliz da editora Civilização...
Nos tempos que vivemos nas nossas escolas isto é a "cereja no topo do bolo"...
É inaceitável este tratamento, quer à nossa classe ou a quem quer que
seja! O livro tem a função de educar e construir e este, em poucas
palavras, deita por terra o nosso trabalho de pais e de educadores...
Haja competência e principalmente respeito!!!»
Para terminar não posso deixar de me solidarizar com toda a classe de educadoras desse país, grosseiramente enxovalhada e desrespeitada na sua dignidade.”
“Ora bem - No caso da piada afectando toda uma classe, a das professoras e educadoras de nossos filhos, o professor Ramiro Marques que foi o primeiro a denunciar públicamente o caso no seu blog ProfBlog, apesar de desvalorizar o incidente, admite que "a situação tem a sua gravidade". Até porque "há muitos alunos que chamam vacas às professoras. E esse é que é o problema", sublinha....
Para este professor, a anedota é levada ainda mais a sério devido às circunstâncias. "Veio numa altura má, porque os professores lidam com injúrias todos os dias e não conseguem travá-las. Os alunos desrespeitam-nos e os pais depois ainda os defendem", explica. O docente acrescenta que se o livro tivesse saído há seis anos ninguém ia levar a mal.
O autor do blogue conta que foram colegas da escola que lhe mostraram o livro com a anedota. Na sua opinião, este tipo de situações só acontece porque em tempos, responsáveis como secretários de Estado e directores regionais da Educação, puseram em causa a imagem dos professores.... E claro que isto se reflecte no bem-estar e na motivação dos professores, alerta Ramiro Marques.
Quanto ao impacto que esta anedota pode ter nas crianças, o psicólogo Jorge Gravanita diz que cabe aos pais desvalorizar a situação. "É uma piada de mau gosto, mas os pais devem explicar o seu sentido", esclarece.
(Fonte: Diário de Notícias)”
Gostei da iniciativa deste professor, que encima o seu texto com uma conhecida frase de Mahatma Gandhi – “Perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da consciência em mim.”, e só estranho que poucos professores tenham saído à liça em defesa da sua honra e da sua classe.
O repúdio do professor, todavia, pecou, quanto a mim, por uma autodefesa que pôs em causa, de certa forma, o uso de trabalhos de casa, embora justamente condenando os manuais provindos da tal editora que pretensiosamente se apoda de “Civilização”.
O meu comentário foi um pouco precipitado, pois o professor Luís Reis não pôs, de facto, em causa, os manuais escolares mas apenas o da megalómana editora “Civilização”. Mas conheci professores que os eliminavam do seu ensino, optando pelos seus próprios recursos de construção de textos orientadores, e isso me pareceu sempre uma forma de destruição da unidade de ensino. Além de que penso que os manuais escolares ganharam em profundidade de conhecimentos, pelo menos os de literatura portuguesa. Quanto aos trabalhos de casa, poucos que sejam – devem ser poucos, tendo em conta a multiplicidade das disciplinas – creio-os de grande utilidade como reflexão final sobre a matéria leccionada em cada aula, e servindo, através da sua correcção, como motivação, muitas vezes para a aula seguinte.
Hoje, contudo, com o equilíbrio escolar estilhaçado, ajudado a isso até por uma editora criminosa, autêntica anedota civilizacional, mau grado aqueles que pretendem desmistificar democraticamente colaboradores na infâmia do desleixo nacional, o impacto do crime educativo representado na anedota do livro infantil, tudo o que acabo de escrever sobre unidade do ensino parece risível.
Mas transcrevo o meu comentário a Luís Reis, pedindo-lhe desculpa por o ter interpretado apressadamente:
“Já tinha lido a história num jornal, história que, naturalmente me indignou. Não por ter sido professora, mas por ser uma pessoa, simplesmente, e a anedota não provém de um ser que se possa considerar isso. Como professora, todavia, sempre respeitei os manuais que eram escolhidos para leccionar. Uns melhores, outros piores. Mas relativamente aos meus tempos de estudante e até de professora em tempos distantes, considero os manuais - pelo menos os de línguas - superiores aos desses tempos. Os de Literatura Portuguesa foram um encanto, com orientações de matérias e trabalhos para casa, alguns, pedantes, outros de muito interesse formativo. Por isso eu não generalizaria. Acho que quem fez o texto que cita devia ser processado.”
A anedota, minimizada na sua dimensão destrutiva por alguns que o professor Luís Reis cita, provocou uma bela reacção neste, em defesa da honra da sua classe, neste caso representada pelo sexo feminino, mais fragilizado no foro anedótico do nosso país, creio que por um arreigado espírito machista, que escancara o riso alarve e alvar da nossa falta de educação ancestral.
Eis o texto que me chegou por email:
“Vejam isto. A falta de respeito pelos professores já chegou às editoras.”
“Professoras como "vacas"... Editora Civilização”
“Isto é realmente uma vergonha!!! Denunciem!!!!
«Boa tarde,
Serve o presente email para vos informar que enquanto docente nunca
irei utilizar / adoptar manuais da vossa editora, pois ainda sou dos
"bois" que passam trabalhos de casa (ainda que poucos).
Muito obrigado pelo excelente serviço que prestam à educação em Portugal!
“Colegas
Deixo-vos descobrir esta publicação infeliz da editora Civilização...
Nos tempos que vivemos nas nossas escolas isto é a "cereja no topo do bolo"...
É inaceitável este tratamento, quer à nossa classe ou a quem quer que
seja! O livro tem a função de educar e construir e este, em poucas
palavras, deita por terra o nosso trabalho de pais e de educadores...
Haja competência e principalmente respeito!!!»
Para terminar não posso deixar de me solidarizar com toda a classe de educadoras desse país, grosseiramente enxovalhada e desrespeitada na sua dignidade.”
“Ora bem - No caso da piada afectando toda uma classe, a das professoras e educadoras de nossos filhos, o professor Ramiro Marques que foi o primeiro a denunciar públicamente o caso no seu blog ProfBlog, apesar de desvalorizar o incidente, admite que "a situação tem a sua gravidade". Até porque "há muitos alunos que chamam vacas às professoras. E esse é que é o problema", sublinha....
Para este professor, a anedota é levada ainda mais a sério devido às circunstâncias. "Veio numa altura má, porque os professores lidam com injúrias todos os dias e não conseguem travá-las. Os alunos desrespeitam-nos e os pais depois ainda os defendem", explica. O docente acrescenta que se o livro tivesse saído há seis anos ninguém ia levar a mal.
O autor do blogue conta que foram colegas da escola que lhe mostraram o livro com a anedota. Na sua opinião, este tipo de situações só acontece porque em tempos, responsáveis como secretários de Estado e directores regionais da Educação, puseram em causa a imagem dos professores.... E claro que isto se reflecte no bem-estar e na motivação dos professores, alerta Ramiro Marques.
Quanto ao impacto que esta anedota pode ter nas crianças, o psicólogo Jorge Gravanita diz que cabe aos pais desvalorizar a situação. "É uma piada de mau gosto, mas os pais devem explicar o seu sentido", esclarece.
(Fonte: Diário de Notícias)”
Gostei da iniciativa deste professor, que encima o seu texto com uma conhecida frase de Mahatma Gandhi – “Perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da consciência em mim.”, e só estranho que poucos professores tenham saído à liça em defesa da sua honra e da sua classe.
O repúdio do professor, todavia, pecou, quanto a mim, por uma autodefesa que pôs em causa, de certa forma, o uso de trabalhos de casa, embora justamente condenando os manuais provindos da tal editora que pretensiosamente se apoda de “Civilização”.
O meu comentário foi um pouco precipitado, pois o professor Luís Reis não pôs, de facto, em causa, os manuais escolares mas apenas o da megalómana editora “Civilização”. Mas conheci professores que os eliminavam do seu ensino, optando pelos seus próprios recursos de construção de textos orientadores, e isso me pareceu sempre uma forma de destruição da unidade de ensino. Além de que penso que os manuais escolares ganharam em profundidade de conhecimentos, pelo menos os de literatura portuguesa. Quanto aos trabalhos de casa, poucos que sejam – devem ser poucos, tendo em conta a multiplicidade das disciplinas – creio-os de grande utilidade como reflexão final sobre a matéria leccionada em cada aula, e servindo, através da sua correcção, como motivação, muitas vezes para a aula seguinte.
Hoje, contudo, com o equilíbrio escolar estilhaçado, ajudado a isso até por uma editora criminosa, autêntica anedota civilizacional, mau grado aqueles que pretendem desmistificar democraticamente colaboradores na infâmia do desleixo nacional, o impacto do crime educativo representado na anedota do livro infantil, tudo o que acabo de escrever sobre unidade do ensino parece risível.
Mas transcrevo o meu comentário a Luís Reis, pedindo-lhe desculpa por o ter interpretado apressadamente:
“Já tinha lido a história num jornal, história que, naturalmente me indignou. Não por ter sido professora, mas por ser uma pessoa, simplesmente, e a anedota não provém de um ser que se possa considerar isso. Como professora, todavia, sempre respeitei os manuais que eram escolhidos para leccionar. Uns melhores, outros piores. Mas relativamente aos meus tempos de estudante e até de professora em tempos distantes, considero os manuais - pelo menos os de línguas - superiores aos desses tempos. Os de Literatura Portuguesa foram um encanto, com orientações de matérias e trabalhos para casa, alguns, pedantes, outros de muito interesse formativo. Por isso eu não generalizaria. Acho que quem fez o texto que cita devia ser processado.”
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