Transcrevo a opinião de Gustavo Reis, de Ferragugo, no Diário de Notícias de 14/6:
“Aldeias em extinção”: «O Estado quer acabar com o mundo rural. O fecho de 900 escolas do ensino básico leva à desertificação de aldeias e vilas que ainda ficam mais despovoadas, colocando as crianças longe das famílias. Ficam sem escola, sem serviços de saúde, sem urgências, sem médicos, sem serviços públicos. Restam os idosos nos lares e os jovens são obrigados a fugir para as cidades. É o progresso...»
Tem razão, Gustavo Reis, vamos a caminho do deserto – deserto dos corpos, deserto dos campos, deserto dos gados, das pescas, das almas. Escolas que não funcionam como tal, campos de lavradio em descanso, encerramento de unidades de funções várias, um país que vive debruçado sobre a produção estrangeira, sobre a divisa estrangeira, sobre a ara estrangeira, em confrontos que nos vão minimizando, apoucando, envilecendo.
É o progresso, comenta Gustavo Reis, com a ironia de quem está atado de pés e mãos. Porque estamos atados de pés e mãos. Um mau governo, sim, mas não há esperança de que outro qualquer seja melhor. Somos o país dos sem: sem governo, sem dinheiro, sem justiça, sem empregos, sem campos, sem trabalho, sem dignidade, sem esforço produtivo.
Mas a culpa, se é do mau governo, também é do povo que somos, sem brio, sem os princípios que dignificam o ser humano. Um povo que prefere pedir a merecer, pelo seu esforço, e que sempre se deixou maltratar pelos que se alcandoram nos postos cimeiros, ávidos, intolerantes e mesquinhos: no tempo de Salazar, reduzindo o povo à miséria, permitindo as diferenças sociais intoleráveis, que, aliás desde sempre existiram; actualmente, os empresários explorando os trabalhadores, exigindo excesso de horas de trabalho que não são remuneradas, na sequência das políticas de um governo de astúcia, de vaidade e de injustiça, que vai cortando, reduzindo, encostando a nação cada vez mais ao muro do apagamento final, fingindo ignorar os desesperos que provoca, o anulamento a que reduziu tanta gente, até gente que foi rica ou remediada e agora esconde a sua miséria, às sopas da caridade pública.
“Aldeias em extinção”. Escolas que se encerram. Êxodo para a cidade. Campos que o não são mais, cobertos de ervas daninhas ou substituídos por casas e ruas, que se esventram e reconstroem constantemente, para enfiar cabos, e se voltam a esventrar e a reconstruir para enfiar canos, ou tubos de escoamento sanitário, e sucessivamente se abrem e reabrem, numa febre de reconstrução contínua, para embelezar o ambiente ou para manter o emprego dos calceteiros, dos pedreiros, dos arquitectos... E tudo isso as câmaras apoiam. Mas as fábricas fecham, a economia desorganiza-se cada vez mais, a produção escasseia.
Por enquanto, não poderemos afirmar ainda “O resto é silêncio”, palavrosos que somos. Mas com a diminuição da natalidade, o envelhecimento da sociedade e a diminuição dos recursos, não importará quem fomos, porque facilmente deixaremos de ser. No silêncio.
“Aldeias em extinção”: «O Estado quer acabar com o mundo rural. O fecho de 900 escolas do ensino básico leva à desertificação de aldeias e vilas que ainda ficam mais despovoadas, colocando as crianças longe das famílias. Ficam sem escola, sem serviços de saúde, sem urgências, sem médicos, sem serviços públicos. Restam os idosos nos lares e os jovens são obrigados a fugir para as cidades. É o progresso...»
Tem razão, Gustavo Reis, vamos a caminho do deserto – deserto dos corpos, deserto dos campos, deserto dos gados, das pescas, das almas. Escolas que não funcionam como tal, campos de lavradio em descanso, encerramento de unidades de funções várias, um país que vive debruçado sobre a produção estrangeira, sobre a divisa estrangeira, sobre a ara estrangeira, em confrontos que nos vão minimizando, apoucando, envilecendo.
É o progresso, comenta Gustavo Reis, com a ironia de quem está atado de pés e mãos. Porque estamos atados de pés e mãos. Um mau governo, sim, mas não há esperança de que outro qualquer seja melhor. Somos o país dos sem: sem governo, sem dinheiro, sem justiça, sem empregos, sem campos, sem trabalho, sem dignidade, sem esforço produtivo.
Mas a culpa, se é do mau governo, também é do povo que somos, sem brio, sem os princípios que dignificam o ser humano. Um povo que prefere pedir a merecer, pelo seu esforço, e que sempre se deixou maltratar pelos que se alcandoram nos postos cimeiros, ávidos, intolerantes e mesquinhos: no tempo de Salazar, reduzindo o povo à miséria, permitindo as diferenças sociais intoleráveis, que, aliás desde sempre existiram; actualmente, os empresários explorando os trabalhadores, exigindo excesso de horas de trabalho que não são remuneradas, na sequência das políticas de um governo de astúcia, de vaidade e de injustiça, que vai cortando, reduzindo, encostando a nação cada vez mais ao muro do apagamento final, fingindo ignorar os desesperos que provoca, o anulamento a que reduziu tanta gente, até gente que foi rica ou remediada e agora esconde a sua miséria, às sopas da caridade pública.
“Aldeias em extinção”. Escolas que se encerram. Êxodo para a cidade. Campos que o não são mais, cobertos de ervas daninhas ou substituídos por casas e ruas, que se esventram e reconstroem constantemente, para enfiar cabos, e se voltam a esventrar e a reconstruir para enfiar canos, ou tubos de escoamento sanitário, e sucessivamente se abrem e reabrem, numa febre de reconstrução contínua, para embelezar o ambiente ou para manter o emprego dos calceteiros, dos pedreiros, dos arquitectos... E tudo isso as câmaras apoiam. Mas as fábricas fecham, a economia desorganiza-se cada vez mais, a produção escasseia.
Por enquanto, não poderemos afirmar ainda “O resto é silêncio”, palavrosos que somos. Mas com a diminuição da natalidade, o envelhecimento da sociedade e a diminuição dos recursos, não importará quem fomos, porque facilmente deixaremos de ser. No silêncio.
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