A nossa amiga usou a frase repetidas vezes, com a serenidade
superior de quem tinha escutado, já nós tínhamos despejado, de par com a bica e
acompanhantes, entre os quais o copo de água favorecedor da nossa saúde irrigada
segundo os preceitos da moderna hidratação, a série de assuntos introdutórios,
de reprodução fofoqueira das nossas andanças semanais, onde a saúde nossa e dos familiares
e amigos não deixa de ser registada, com os desvios e as fofocas a propósito. Mas
a frase soou-me a estribilho, mesmo ao modo das tais cantigas do medievo,
encerrando por vezes um gemido de dor ou preocupação, como esse do “ai Deus,
i u é?” de apelo animístico às “flores de verde pino” sobre o
paradeiro do amigo faltoso da menina que se lhes dirige, ou aquele outro da
ermida de S. Simeão, onde a menina vai rezar pelo amado, descuidada da maré que
enche, e ela bem que morrerá formosa no alto-mar, pois não tem barco nem sabe
nadar, (embora seja manifesto o desvio semântico da constatação), “eu
atendendo o meu amigo, eu atendendo o meu amigo”. Tal estava a nossa amiga,
numa de advertência, quando a conversa descambou nas preocupações noticiarísticas ameaçadoras da
tranquilidade do mundo, ao repetir em estribilho “o Papa avisou”, como reforço
de autoridade superior, que não deixa margem a dúvidas, “foi o papá que
mandou”.
Na verdade, tínhamos aflorado o tema à volta do Trump
- “mais louco é impossível”, segundo o remate da nossa amiga, depois de
lhe citarmos atitudes e discursos desconcertantes - ignorantes, no
conceito da minha irmã, que troça das suas falas e pronúncia de americano
rústico - o homem que detesta jornalistas, que está cansado e saudoso da sua
paz anterior, que ameaçou ou prometeu e não cumpriu, que gasta mais dinheiro do
que ninguém, diz a nossa amiga, contando dos seus fins de semana no seu palácio
na Flórida, e da filha que foi vaiada na Alemanha, onde fora explicar das
razões do papá, um homem que “parece que não joga bem da bola” que vai
encaminhando a Terra para uma terceira guerra, ao confrontar-se com esse outro
Kim Jong-un da Coreia do Norte, que parece anormal, com a cara atenta aos “soldadinhos
de chumbo” humanos da sua diversão actual, juntamente com as experiências com
os seus mísseis atrevidos sobre os mares do Japão…
A minha irmã culpou a China por alimentar a Coreia do
Norte: “Se não fosse a China, eles morriam à fome, eu acho que a China se
está a portar muito mal”, explicou com muita elegância mas uma ferocidade
inusitada - (eu até me lembrei - salvo as respectivas distanciações entre os ditos
da sensatez repudiante e as enormidades de extremismos partidaristas ferrenhos - daquelas
claques do Porto a desejarem que a selecção do Benfica fosse no avião que, ao
despenhar-se, liquidou uma selecção quase inteira de um clube brasileiro, insensatezes
criminosas que provocaram a nossa recriminação estupefacta).
E a nossa amiga mais uma vez concluiu:
- O Papa avisou! Se o Trump não acredita que estamos a
dar cabo disto, é burro!
E eu em reforço:
- Quem dera que houvesse um avião como esse para a
Colômbia com o Jong Un a bordo! Mas… “está quieto!”, como tão bem exprime
Passos Coelho. Não há avião de desastre para o Kim, que ele só não se importa
de arriscar a vida dos outros, mesmo que sejam da Terra inteira. A dele… “está
quieto!”
Estamos realmente preocupadas. E nem foi preciso o
aviso do Papa. Mas oxalá o ouvissem os homens.
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