Era nos anos 60 que também cantámos o “S. Francisco”,
com o entusiasmo dos anos ainda meio verdes, entendendo facilmente a mensagem de
um mundo de amor, embora a realidade mostrasse continuamente o irrisório da
pretensão, o terrorismo em África a iniciar o seu foco de conflito com o apoio
de doutrinação adequada, condenatória dos colonialismos em nome do altruísmo, coisa
que as missões católicas estrangeiras e o próprio papa Paulo VI corroboraram então,
com a necessária virtude. E foi assim que, bons discípulos por conveniência, da
ideologia antibelicista, soubemos também aplicar as flores não aos cabelos
segundo a canção de Scott Mckenzie, mas aos canos das nossas espingardas
derrubadoras do governo, em sugestão pacifista prova do nosso seguidismo florido.
Alberto Gonçalves tenta advertir-nos, com sensatez, do
novo terrorismo que nos colhe a nós agora, no medo que tentamos disfarçar com
as flores em memória dos mortos que os novos terroristas executam em nome da
sua religião, os jovens cantando a Marselhesa para se dar coragem e bonitas lições
de harmonia ao mundo, as televisões reproduzindo os diálogos enternecedores
entre o pai e o filhito assustado, reles pieguice que também ouvi com o mesmo
asco que toda a escrita do sociólogo faz transparecer no seu artigo “Flower
power”. Alberto Gonçalves adverte para o perigoso da invasão europeia
que o Acordo de Schengen possibilitou, afundando o mundo numa guerra em nome de
uma religião que quer alastrar, mas afigurando-se mais em nome de um ódio
gratuito, de pura propagação do mal.
Admiro a coragem com que Alberto Gonçalves aponta a
irrefutabilidade da pieguice reles com que a Europa se deixa tasquinhar, para
cumprir a sua obrigação de solidariedade e sair bem no retrato.
O segundo texto de Alberto Gonçalves é sobre o
retrocesso do país com a subida ao trono de António Costa. O povo é sereno.
Flower power
Alberto Gonçalves
DN, 22/11/2015
A
nossa sorte é que apenas uma ínfima minoria dos muçulmanos decide castigar-nos
à bomba ou à bala. O nosso azar é a imensa quantidade de muçulmanos que, para
dizer o mínimo, não se incomodam demasiado com tão simpático passatempo. Na
terça-feira, em Istambul, durante um jogo de futebol entre a Turquia e a
Grécia, o minuto de silêncio pelas vítimas de Paris foi violado pelos gritos de
"Alá é grande". No mesmo dia, em Dublin, homenagem idêntica no
Irlanda-Bósnia suscitou nos adeptos "visitantes" um berreiro em
louvor da Palestina. É estúpido recusar a existência dos islâmicos moderados? É
ainda mais estúpido acreditar incondicionalmente no peso dessa moderação.
Há
cerca de um ano, uma sondagem apurava que perto de 40% dos muçulmanos franceses
tinham opinião positiva acerca do ISIS. Na Alemanha, 46% da população muçulmana
manifestava tendência similar. E no Reino Unido a percentagem subia para 54%.
Contas por alto, os três países citados "integram" pelo menos sete
milhões de pessoas que, em nome do Profeta ou do que calha perturbar as suas
cabecinhas, defendem o assassínio, a tortura, a decapitação, a violação, a
escravatura e os massacres em geral de "blasfemos" e
"apóstatas". Para cúmulo, note-se que as questões da sondagem estavam
limitadas ao ISIS, logo desconhece-se o apoio popular a colectividades
recreativas como o Hezbollah, a Al-Qaeda, o Hamas, o Boko Haram e etc.
Em
primeiro lugar, estas ligeirezas deviam enterrar em definitivo o mito do islão
"moderado". Não importa recuar quinze séculos e descobrir
que não há passagem do Alcorão a convocar matanças para concertos rock ou
restaurantes: importa que uma parcela suficiente dos seus seguidores actuais
comete matanças assim, e que uma parcela assustadora as ache legítimas. E que,
salvo especialíssimos casos, os restantes devotos primam pelo silêncio, fruto
da indiferença ou do medo ou de razões de que nem suspeitamos.
Depois,
convém reparar que, ao contrário do que consta, a ameaça não nos bate à porta:
entrou na sala e refastelou-se no sofá com à-vontade. Não é preciso ser grande
estratega militar para desconfiar que, perante o brutal crescimento das
comunidades muçulmanas neste lado de Bizâncio, bombardear alvos, por exemplo na
Síria, não resolve tudo. Mas reagir do modo frequentemente demonstrado nos
últimos dias não resolve nada.
Em
Paris, perante as câmaras e a multidão que cantava Imagine, uma das maiores
aglomerações de banalidades, cretinices e embaraços alguma vez musicados, um
homem discutia os atentados com o filho quase bebé. "São homens maus,
papá", lamentava o pequeno. "Sim, mas há homens maus em todo o
lado", respondia o pai. "Eles têm armas e podem disparar porque são
muito maus", insistia o pequeno. "Não há problema, eles têm armas mas
nós temos flores", argumentava o pai. "Mas as flores não fazem nada,
servem para...", desesperava o pequeno. "Claro que fazem",
interrompia o pai, "olha toda a gente a colocar flores ali: servem para
combater as armas". "Servem para nos proteger?", pasmava o
pequeno. "Sim", triunfava o pai.
O
nível da argumentação vigente desceu a tal ponto que até uma criança o acha
pateta. Com as melhores ou as piores das intenções, as pessoas repetem clichés
apalermados que, longe de ajudarem a Europa a sair da situação em que caiu,
dizem um bocadinho sobre a apatia que a deixou aqui. E dizem imenso sobre a
tresloucada cegueira que a deixará sabe Deus, perdão, Alá onde.
De
acordo com a cartilha omnipresente, é proibido confundir os muçulmanos com o
terrorismo. E é obrigatório ignorar que são os muçulmanos, os "maus"
e a vasta maioria dos "bons", que respectivamente alimentam e toleram
a confusão. Tolhidos por acusações de "discriminação", sofremos em
silêncio (ou com cânticos de "paz" e patranhas ecuménicas) uma vaga
discriminatória talvez sem precedentes e sem remédio. Enquanto o islão não
cumprir a modernidade, o futuro da Europa, talvez do Ocidente, não promete.
Esperemos sentados. Ou agachados, para fintar as balas.
Sexta-feira,
20 de Novembro
Não se esqueçam de atrasar o relógio quatro anos
"Eu
pessoalmente confio no Dr. António Costa e no PS", diz o Sr. Ulrich, do
BPI. Como ainda não endoideci, "eu pessoalmente" confiaria mais em
quem me tentasse vender a Torre dos Clérigos. Mas, lá está, por desdita ou
feitio não pertenço aos "interesses" que prosperam à conta do poder,
ao contrário de significativa parte da nossa banca e "empresariado".
Nessa matéria, o meu único interesse é o de que o Estado me deixe em paz. Já o
interesse do Sr. Ulrich é justamente o de que o Estado esmifre os cidadãos em
geral em proveito de cidadãos em particular como ele e o género de elites
económicas e financeiras que honram a nação.
Cheiinho
de falhas, o governo de Passos Coelho e Paulo Portas ficou aquém do ideal nas
reformas empreendidas (aliás limitadas pelo Tribunal Constitucional e desejadas
por muito poucos) e foi além do suportável em matéria fiscal (a consequência
fatal da bancarrota de Sócrates e dos limites citados). Alguma coisa, porém,
terá feito bem. Caso contrário, a trapaça que o derrubou na AR não mereceria o
silêncio conivente de tantos ilustres, aqueles que nestes quatro anos perderam
o acesso livre ao banquete orçamental. Com o anunciado regresso do PS, os
ilustres esfregam as mãos: agora abrilhantada com acompanhamento leninista, a
festa vai recomeçar. E 2011 também.
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