domingo, 15 de novembro de 2015

Os aristocratas da inconstância



E novamente Cavaco, desta vez fazendo render o seu peixe, como tema das conversas e dos escritos dos habituais conversadores e escritores da nossa praça. Nem sequer admitem que esteja correcto o conceito daquele sobre a imensa fraude que é esta viragem a uma esquerda que não fará parte do governo, ao que dizem, o que mais confirma a falsidade da vitória de António Costa. Como o conceito desses conversadores e escritores – se é que algum têm – é de arrogância e altivez, não só porque Cavaco está velho, como porque teve uma origem humilde, e estudou com dificuldades económicas, (ao passo que eles são aristocratas, e provavelmente de cultura angariada em menos deficiência), as quais, porque não são citadinas mas pacóvias, respeitadoras da ordem e da pátria, fazem sempre lembrar o mesquinho de Santa Comba, também humilde e ultimamente velho (de bastante força, contudo), tudo isso eles desprezam, e troçam de Cavaco que protela a sua decisão, escutando novamente as forças do país – se é que existem algumas - indo passear-se para a Madeira, na caça aos gambuzinos, hesitando, adiando, à espera do seu Godot.
O que é certo é que esses que troçam, da velhice e dos adiamentos de Cavaco, ou das propostas de Passos Coelho para revisão da Constituição, (cujos nós fabricados em tempos pela tal esquerda da fraternidade, são travão para uma governação em condições), assustaram-se e hesitaram, inicialmente, na hipótese da aliança real com a esquerda, mais brandos momentaneamente com a direita (que tanto contribuíram para derrubar, na sua troça desfeiteadora), e cujos sentimentos de abnegação, indiferentes aos de cá de dentro, giram mais em torno dos invasores da Europa, à fome e ao frio da sua teimosia em se safarem das suas guerras, pelo menos aparentemente. Os ataques de ontem em Paris, provam o tal avanço das forças islâmicas, com que, afinal, talvez concordem, almas insatisfeitas com a paz podre que este mundo lhes oferece. “Anticomunista, obrigada!” escrevera Clara, o próprio Pacheco Pereira, sempre irrequieto, acusara Jorge Coelho de não ser sincero quando defendia o governo de Costa com os parceiros reforçadores da sua legitimidade governativa, os quais antes acusavam Costa de ser mandatário das forças europeístas. Pacheco bem percebia que o discurso falso de Coelho era pura parada de espectáculo e pose, no fundo receoso das consequências funestas sobre o seu bolso, receio que sentiram todos os capitalistas que a esquerda abomina e deseja derrubar. Por isso, durante um tempo, foram mais comedidos com a direita, enquanto supunham que a tal esquerda ia fazer parte do governo de Costa. Mas agora que sabem que não vai, já voltam a atacar a direita e os ridículos da direita, entre os quais o da velhice. Pouah!

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