O artigo de Vasco Pulido Valente lembrou-me o
tão chocarreiro e extraordinário poema de Jacques Prévert, de que gravo a seguir um excerto, denúncia de um estado de espírito igualmente desesperado - e por isso desabando em torrentes de
palavras, quantas delas por si criadas, como balas de impacto enorme, na ironia
da sua visão negativista do mundo, em que a palavra não passa de artifício para
mascarar sentimentos e atitudes, «ceux qui croient croire, ceux qui croa
croa», puro bla bla bla em que desperdiçamos nós também as nossas
convicções analíticas de uma situação caótica a redundar em catástrofe, no meio
da passividade geral, “nous aussi nous bousculant, nous
dépêchant”, «car il y avait un grand dîner de têtes et chacun s’était
fait celle qu’il voulait», e era mais importante continuar como se nada
fosse , mas sentenciando sempre.
Mas
José Carlos Gonçalves Viana é dos que tentam remediar e o seu texto “Os
meus três assuntos importantes”,
publicado no “A Bem da Nação” apresenta argumentos que parecem sábios.
Inscrevo-o com os outros dois, como forma de contrariar o “désarroi” em que
vivemos, na curiosidade da análise e na esperança das reformas que propõe. O
negativismo dos primeiros é mais delirante e insinuante ao revelar as facetas artísticas dos
seus autores, no conceito sobre o Homem, mas o construtivismo, pelo menos,
tenta reverter os maus caminhos por onde sempre andámos, apelando para uma nova
sociedade:
Palavras para passar o tempo
Vasco
Pulido Valente
Público,01/11/2015
A televisão, o Komentariado, a internet e os jornais
não fazem outra coisa senão discutir o sentido do voto de 4 de Outubro; um
governo que aparentemente existe mas não governa; um governo que não existe mas
vai governar; o que o Presidente parece ter querido dizer; o que o presidente
de certeza não disse; o estado de espírito de António Costa; o que
verdadeiramente pensa, ou não pensa, Jerónimo de Sousa; um “pacto” que haverá
ou não haverá entre o PS, o Bloco e o PC; a exacta natureza e a “estabilidade”
desse pacto; o que por aqui e por ali declaram os “notáveis” partidários; as
tradições da democracia indígena; e a aflição da “classe média”. O mais curioso
sobre esta polémica apaixonada e febril é que ninguém sabe, nem quer saber,
rigorosamente nada sobre o que está a discutir.
Como
se pode discutir sobre nada? Por um processo semelhante ao que os
romanos usavam matando bois. Na falta de bois e só com galinhas congeladas, os
peritos de agora examinam a “crispação” ou a “descrispação” das personagens
políticas, e a frase ocasional que elas deixam escapar; as “manchetes” do Expresso
(que são oraculares) e a magreza ou o cansaço dos santinhos da história. A
culpa não é dos jornalistas, nem do Komentariado. A culpa é da etiqueta
estabelecida para mudar de governo, que não passaria pela cabeça de Luís XIV, e
do gosto pelo segredo das “figuras” do Estado e dos partidos, que medem a sua
dignidade pelo pouco que revelam ao povo sobre os negócios em que se meteram e
nos meteram. Não admira que enxames de portugueses desesperados repitam desesperadamente
as mesmas coisas, como se o mundo acabasse agora.
Mas
tristezas não pagam dívidas, como Bruxelas nos costuma advertir: e um pouco de
ignorância anima a vida e permite a qualquer estúpido perorar sobre o que lhe
apetecer. Não há dia em que não apareçam duas dúzias de iluminados, dispostos a
revelar os mistérios da nossa vida. É gente que gosta de barulho e não gosta de
ideias e que também merece a nossa consideração numa democracia moderna. Claro
que o público fica tão confundido como estava, mas também os portugueses
tiveram 50 anos de treino de ouvir e calar. A única diferença é que hoje ouvem
e respondem e é como se não ouvissem, nem respondessem. O espectáculo, até sem
luzes, sempre consola mais. E, no meio da confusão, a PIDE nem sequer lhes bate.
Jacques Prévert (in «Paroles»):
«Tentative de description d’un dîner de têtes à Paris-France» publié dans
le recueil Paroles en 1946
Ceux qui
pieusement
Ceux qui copieusement
Ceux qui tricolorent
Ceux qui inaugurent
Ceux qui croient
Ceux qui croient croire
Ceux qui croa-croa
Ceux qui ont des plumes
Ceux qui grignotent
Ceux qui andromaquent
Ceux qui dreadnoughtent
Ceux qui majusculent
Ceux qui chantent en mesure
Ceux qui brossent à reluire
Ceux qui ont du ventre
Ceux qui baissent les yeux
Ceux qui savent découper le poulet
Ceux qui sont chauves à l’intérieur de la tête
Ceux qui bénissent les meutes
Ceux qui font les honneurs du pied
Ceux qui debout les morts
Ceux qui baïonnette… ont
Ceux qui donnent des canons aux enfants
Ceux qui donnent des enfants aux canons
Ceux qui flottent et ne sombrent pas
Ceux qui ne prennent pas le Pirée pour un homme
Ceux que leurs ailes de géant empêchent de voler
Ceux qui plantent en rêve des tessons de bouteille sur la grande muraille de Chine
Ceux qui mettent un loup sur leur visage quand ils mangent du mouton
Ceux qui volent des œufs et n’osent pas les faire cuire
Ceux qui ont quatre mille huit cent dix mètres de Mont Blanc, trois cents de Tour Eiffel, vingt-cinq centimètres de poitrine et qui en sont fiers
Ceux qui mamellent de la France
Ceux qui courent, volent et nous vengent, tous ceux-là, et beaucoup d’autres entraient fièrement à l’Élysée en faisant craquer les graviers, tous ceux-là se bousculaient, se dépêchaient, car il y avait un grand dîner de têtes et chacun s’était fait celle qu’il voulait.
Ceux qui copieusement
Ceux qui tricolorent
Ceux qui inaugurent
Ceux qui croient
Ceux qui croient croire
Ceux qui croa-croa
Ceux qui ont des plumes
Ceux qui grignotent
Ceux qui andromaquent
Ceux qui dreadnoughtent
Ceux qui majusculent
Ceux qui chantent en mesure
Ceux qui brossent à reluire
Ceux qui ont du ventre
Ceux qui baissent les yeux
Ceux qui savent découper le poulet
Ceux qui sont chauves à l’intérieur de la tête
Ceux qui bénissent les meutes
Ceux qui font les honneurs du pied
Ceux qui debout les morts
Ceux qui baïonnette… ont
Ceux qui donnent des canons aux enfants
Ceux qui donnent des enfants aux canons
Ceux qui flottent et ne sombrent pas
Ceux qui ne prennent pas le Pirée pour un homme
Ceux que leurs ailes de géant empêchent de voler
Ceux qui plantent en rêve des tessons de bouteille sur la grande muraille de Chine
Ceux qui mettent un loup sur leur visage quand ils mangent du mouton
Ceux qui volent des œufs et n’osent pas les faire cuire
Ceux qui ont quatre mille huit cent dix mètres de Mont Blanc, trois cents de Tour Eiffel, vingt-cinq centimètres de poitrine et qui en sont fiers
Ceux qui mamellent de la France
Ceux qui courent, volent et nous vengent, tous ceux-là, et beaucoup d’autres entraient fièrement à l’Élysée en faisant craquer les graviers, tous ceux-là se bousculaient, se dépêchaient, car il y avait un grand dîner de têtes et chacun s’était fait celle qu’il voulait.
Lisboa, 31 de Outubro de 2015
José Carlos Gonçalves Viana
OS
MEUS TRÊS ASSUNTOS MAIS IMPORTANTES
O ser
humano, como ser vivo que é, tem como primeiro dever sobreviver e da mesma
forma todas as organizações humanas desde a família até aos estados e passando
pelas empresas devem cuidar de cumprir este dever, pois se assim não for mais
tarde ou mais cedo, normalmente mais cedo, serão eliminados.
Ora para
se conseguir sobreviver tem que ser mais competitivo ou pelo menos tão
competitivo como aqueles que connosco competem e assim podermos garantir também
a nossa independência.
O exemplo
do afogado: uma pessoa cai à água e a primeira coisa a fazer é ter a boca e o
nariz fora dela para poder respirar, a seguir conseguir sair da água e se estiver
frio tratar de se aquecer para não morrer de hipotermia. E depois alimentar-se.
Quando a primeira fase da sobrevivência estiver passada, mesmo que seja apenas
no curto prazo, pode e deve organizar-se para viver, no entanto nunca
esquecendo a importância de garantir a sobrevivência. Aquilo que agora se
denomina como a sustentabilidade do sistema adoptado.
Para que
tudo corra bem é essencial que a pessoa, ou o grupo de pessoas, saiba gerir os
seus trabalhos e a sua vida de forma eficiente e um dos princípios desta
eficiência é sempre saber distinguir o essencial do acessório. Como se pode
entender consultando o esquema resumido apresentado em anexo.
Assim
aplicando este princípio há que ter a noção das causas essenciais da crise que
sofremos nestas últimas décadas e conseguir realizar os actos necessários para
inverter o rumo catastrófico que temos vindo a percorrer.
Em
Setembro de 2013 publiquei um artigo sobre a reforma do Estado, mas dada a
situação actual não resisti a voltar a este tema, embora mais resumidamente.
Houve
muito dinheiro fácil desde subsídios europeus para o nosso desenvolvimento que
foram muito mal utilizados até financiamentos com juros baixos, quer para o
Estado quer para as empresas e para os cidadãos, que foram aplicados em consumo
e investimentos impróprios em vez de contribuírem para aumentar a nossa
competitividade. Foram cerca de 300 000 milhões de euros que entraram mas o PIB
nacional foi pouco afectado como deveria ter sido. E curiosamente durante as
décadas em que isto aconteceu nenhum dos dois partidos, PS e PSD, que lideraram
alternadamente a governação do País, deu sinal de desacordo ou de tentativas de
correcção, até estarmos à beira da bancarrota.
E na
tradição do século XIX, de triste memória, sempre tentando atribuir as culpas a
outros…
A que se
deve acrescentar o pouco interesse da nossa comunicação social por estes temas.
Porque terá sido?
E além
disto verificou-se o desenvolvimento de uma estrutura do Estado com elevado
valor de despesa não produtiva, praticamente em todos os Órgãos de Soberania e
nas Autarquias, que obviamente não possibilita diminuir o défice e portanto o
pagamento das dívidas e ainda por cima com uma actuação governativa que
dificulta o desenvolvimento económico e social.
Portanto
para se realizar este objectivo, isto é, corrigir este rumo para outro de
desenvolvimento e independência, julgo ser essencial realizar estes três planos
de actividade, obviamente aplicando com todo o rigor os princípios da gestão
eficiente:
1º A
reforma do Estado, sem o que não conseguiremos pagar a dívida e aumentar o
desenvolvimento e a sustentabilidade.
2º
Recuperar a independência perdida mesmo que façamos parte duns Estados Unidos
da Europa, única solução para a sustentabilidade dos europeus, o que significa
ter sob o controle nacional, seja privado ou estatal, as principais actividades
de que depende a nossa independência.
3º A
recuperação da Marinha, como conjunto da Armada e das Marinhas de Comércio, de
Pescas e de Recreio, não só por razões de segurança e de economia mas
principalmente para recuperarmos a actividade nacional que mais contribuiu para
fundar a nossa independência e a nossa posição no mundo.
Temos
agora uma oportunidade excelente de o próximo Governo e o próximo Presidente da
República cortarem os custos excessivos das suas despesas operacionais e
realizarem as reformas estruturais que os anteriores não quiseram ou não
conseguiram concretizar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário