Já a minha irmã e a minha amiga tinham falado do DDT do
sábado à noite, que eu falhara, gabando os actores como dos melhores – a Ana
Bola, o Joaquim Monchique. o Eduardo Madeira, o Manuel Marques e Joana Pais de
Brito, como revelação que todas apreciamos. Vi o programa no domingo à tarde e
confirmei o meu comentário ao café: são bons como histriões, como caricaturas
das figuras políticas que encarnam, mas não passamos de bons farsantes,
fabricantes de figuras sociais, ou antes, de tipos conhecidos, os mais
altamente posicionados, sobretudo, como já Gil Vicente fizera no seu tempo. Um
teatro humorístico de troça atrevida e galhofeira, que, porque directo e
facilmente identificável se torna aprazível e sempre actual, como é, aliás, o
seu objectivo. Não temos, de resto, a veia dramática de outros povos,
ficando-nos definitivamente pelo género revisteiro que nos mantém na infância
da projecção teatral. Mas a nossa amiga discorda, e há dias, num outro domingo
em que o Eduardo Madeira apareceu ao balcão do café, ela dirigiu-lhe umas
palavras de apreço, como eu, aliás, já também fizera, num outro café, dirigindo-me
à Maria Luís Albuquerque, sossegada, na esplanada, com seu marido, que deve ter
apanhado um susto quando viu uma desconhecida dirigindo-se-lhe muito rápida,
para largar uma frase e voltando as costas de seguida: - Gosto muito de si.
A minha amiga troçara do meu arrebatamento, mas o dela foi até mais glamouroso,
no seu donaire que lhe vem dos tempos da Zambézia e do convívio social que
ainda hoje mantém com as suas amigas.
Mas as conversas são como as cerejas, ao que se diz e
que foi verdade nos meus tempos de criança por cá, em que comíamos glutonamente as cerejas
das pernadas de uma cerejeira que havia no quintal e que um vizinho nos atirava de
cima dela, eu própria também o fazendo, por essa altura boa trepadora. E digo
isto porque me espantei com o súbito arreganho eloquente com que desatámos a falar dos
actuais políticos, a minha amiga em voz macia, coisa que logo lhe fiz sentir:
-Realmente é preciso ter muito juízo para conseguir
que tudo se resolva. É tudo o que se pede.
Eu, que ultimamente ando muito enervada, atirei que
nunca ela disse o mesmo do governo anterior, tão docemente, lembrando as
desgraças sempre, indiferente aos condicionalismos. A minha amiga voltou
areferir o desemprego e a emigração, e a minha irmã tirou-me as palavras da
boca:
-Sempre houve emigração no nosso país, não se percebe
por que tanto se condena uma coisa que só nos tem beneficiado.
Mas a nossa amiga não se desmanchou, segura das suas
opiniões e concordou com a minha irmã sobre o Costa:
-Agora que o Costa está metido numa grande embrulhada,
isso está.
-Sim, vai ter um grande problema pela frente.
Falámos no conjunto de pessoas do novo governo, a
maior parte desconhecida, é claro, mas com um João Soares lá metido, filho de
papai, e sem as garantias de que se cumprirão todas as propostas de governo
minoritário que conseguiu fazer-se eleger apesar da resistência de Cavaco que a
minha irmã condenou, e que eu hoje também condeno, por ter sido de pura
exibição pessoal e sem justificações nem explicações finais ao país, sobre o
porquê da aceitação de um PS a governar, no vago das definições dos partidos
apoiantes, que apenas matraqueiam as suas imposições de rápida reposição de
salários etc., na ameaça das pressões arruaceiras ou parlamentares.
Em casa, já em conversa com o meu marido, ao ouvir das
arruaças organizadas pela CGTP, comentei que o povo e os seus orientadores de
opinião eram estúpidos em provocar já manifestações, se queriam governo de esquerda,
e o meu marido explicou:
- O povo não quer trabalhar, quer ganhar já,
pressionando, para o dinheiro ser reposto, não importa como. Enquanto o pau vai e vem folguem as costas.
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