Já várias questões tínhamos tocado, toques ligeiros, não
direi de puro afloramento, que, para borboletas, já se nos foi a graça por elas
emprestada ao seu repasto floral, e nunca, ai de nós, poderíamos equiparar-nos
à leveza dos passos da Leonor do Rodrigues Lobo, com poderes de autêntica
magia revitalizadora das verduras, pesem embora os exageros retóricos da sua
sensibilidade a tender para o barroco:
As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e não segura.
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e não segura.
Até
para equiparação, porque somos todas dadas aos trabalhos caseiros – a nossa amiga
menos - e eu própria jamais poderia aspirar a um prémio dos que sempre
distinguiram as mulheres autênticas, no amor do lar - mas a minha irmã em tudo
o que toca cria beleza e sabor, coisa que chega para nos abranger às três, daí
que, se não poisamos quais borboletas ou pés mágicos de Leonor, não se nos
daria de sermos equiparadas a abelhas operosas sugando néctar para a colmeia,
que até é mais consistente e generoso do que o que a borboleta absorve em
proveito próprio.
Afloráramos
a política, esperançadas em Francisco Assis, ao que ouvíramos, decidido a intervir
para favorecer a coligação da direita, que é como quem diz, o país, que a Catarina,
para obter simpatias a favor da sua, da esquerda, vai repetindo
monocordicament - direi mesmo, apatetadamente, o nosso ofício de obreiras não
nos favorecendo a expressão oral – que vai repor ordenados, descongelando-os etc.,
como primeiro passo dos seus acordos com Costa e o outro PC que ela derrotou,
mariposa sortuda.
Outra
questão que pus na mesa do nosso prândio foi a dos vencimentos dos locutores
televisivos, segundo email que recebi, que chegam aos 40.000 euros mensais do
vencimento do Goucha, muitos acima dos 30 mil, mas todos eles superiores aos 10
mil, ordenados esplêndidos em programas cujos apresentadores têm de repetir
exaustivamente a necessidade do toque telefónico de 6o cêntimos com IVA, para o
prémio diário. Mais do que abelha, senti-me no papel de vespa avançando sobre
os programadores televisivos que reduzem a sociedade portuguesa a ouvintes
cretinos, e os coitados dos locutores a oradores de feira, simples vendedores
de banha de cobra, para poderem auferir desses vencimentos obscenos, num país
que a Catarina chama de gente com fome e por isso faz questão em repor o que
foi tirado, sem explicar onde o vai buscar. Como é possível descer-se tanto de
nível, sem qualquer respeito pela formação desse povo, na lorpice de tão cansativos
apelos de 60 cêntimos e mais IVA?! E os programas até pretendem ser culturais,
mostrando aspectos e empreendimentos das terras, mas sobretudo o esplendor das
comidas, das coxas das donzelas dançarinas, e a profusão carinhosa dos
beijinhos para as famílias.
Todas
nos passámos um pouco com estas referências, mas a conversa desandou, (depois da
sobre os migrantes com cenas de arrepelar os cabelos), para os telemóveis, um
instrumento que, segundo a nossa amiga, até já serve para pagar as contas, sem necessidade de cartão multibanco, o que
me deixou de boca aberta, momentaneamente livre de libações.
E
fez um gesto com as mãos, gesto de quem folheia a caixinha mágica, a marcar o
número:
-No
futuro, será assim: Quer um filho? Vai
ao telemóvel e escolhe.
O
Ari e a Simone não passam de uns anjinhos, Santíssimo Sacramento! Como diria a
minha mãe...
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