Cada cidadão um actor político,
diz Vasco Pulido Valente que disse o filósofo Jürgen Habermas, e que Varoufakis
reproduziu por cá, em conferência a respeito da transformação da Europa numa
democracia radical. Isto é que são termos sonoros, tais como os de rasgar
compromissos, ou da falência portuguesa idêntica à grega, no que eu acredito
porque nunca tivemos magnatas como Onassis que sempre trouxe prestígio e um
poder de grande calibre à Grécia, embora, é certo, tudo acabe em poeira, a qual
se iniciou já depois do Big Bang, nas nebulosas interestelares, de gases e
poeiras (e estrelas), há milhares de milhões de anos de nós, que não lhes somos
inferiores e por aqui andamos neste giro universal, de poeirada à mistura, pese
embora outros sentidos que se lhes possam atribuir como se escreveu na Bíblia, com
o seu “pulvis es”, ainda na ignorância do Big Bang.
E agora, para sermos
diferentes, segundo nos conta Varoufakis, que não quer ser sozinho a arcar com a
tal vileza de usufruir do alheio e não pagar, e porque o mandaram embora do seu
governo, onde se fartou de largar “boutades” bastante desonestas, de que
naturalmente a Europa discordou, vem cá, a um país que não admira, para passear
a sua pose e a sua desonestidade para quem o quiser ouvir, difundir a sua tese
da democracia radical, de exploração do suor de quem trabalha, que é quem
empresta. Temos por cá muitos como ele. Poseurs, digo. Ou Varoufakis de um glu-glu
tão ridículo como esses a quem vem largar os seus saberes. A ver se pega, que
somos mansos no perceber, mas bravos num agir que aparente favorecer-nos.
De resto, Vasco Pulido Valente
tem a razão toda a respeito das misérias a que vamos assistindo por cá, nesses
partidos que tanto grugulejam, em infinito despudor, rãs nada entendendo, mas
aspirando ao tamanho do boi.
Leiamo-lo:
E
depois do recreio?
Público, 25/10/2015
Depois de terem espremido tudo o que puderem de António
Costa, ou seja, do Estado, ou seja, do contribuinte, onde ficarão o Bloco e o
PC? Deixaram pelo caminho as causas e os símbolos que os distinguiam (a
hostilidade à NATO e à Europa) a troco de alguns ridículos remendos na
interminável miséria do país. Fizeram grandes discursos para desabafar.
Insultaram o Presidente e a direita. Espalharam um bom saco de calúnias. E o
resultado? O resultado não foi nenhuma espécie de libertação e eles, como os
portugueses, continuarão presos ao mecanismo que tanto odeiam. A “esquerda”
acabará por pagar este recreio que o dr. Costa inventou. Saíram das suas
cavernas, respiraram fundo e conseguiram mesmo uma vaga impressão de poder, que
de certeza os regalou muito.
Mas,
fora isso, não chegaram a parte alguma e, entretanto, produziram um desastre,
que imediatamente lhes baterá à porta. Não admira que não ligassem
nenhuma a Yanis Varoufakis que por cá apareceu a pretexto de uma conferência.
Mais sóbrio e sorridente, Varoufakis disse três coisas que, na sua actual
excitação, a “esquerda” não queria ouvir. Primeira: que Portugal estava tão
falido como a Grécia e que não se podia salvar com um pequeno conserto.
Segunda: que é preciso uma “conversa” séria para eliminar esta “crise” e
“acabar a austeridade”. E terceira: que Portugal deve rasgar os
“compromissos” que não é capaz de cumprir. Para Varoufakis, o problema, no
fundo, só se resolve com uma revolução europeia, mais precisamente com a
“democratização” da Europa.
A
ideia não é boa, mas não é tão má como a “interpretação inteligente” dos
tratados, congeminada por António Costa (o Bloco e o PCP, que se saiba, não
pensam). Varoufakis copia nesta matéria um dos gurus da “esquerda” o
filósofo Jürgen Habermas. Habermas também acha que a sobrevivência da Europa
está numa democracia radical, que transforme cada cidadão num actor político,
desde a rua ou aldeia em que vive até aos soleníssimos píncaros do Estado. A
privacidade sempre se dissolveu (e o terror prosperou) nessas fantasias,
mas não me parece que o filósofo se importe muito. O que lhe falta, e é pena, é
um povo europeu para “democratizar”; uma cidadania devota que sustente um
“patriotismo constitucional”, como ele julga que sucede na América. De
qualquer maneira, Varoufakis e Habermas fazem algum sentido. O Bloco e o PCP
não fazem nenhum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário