Não sei bem porquê, o sorriso de entendido de António
Costa tem-me trazido à mente, ultimamente, a figura espectacular de Joana Simeão,
uma activista que surgiu logo após o 25 de Abril, lá por Moçambique, assim que
foi mandatado o processo da independência, pelos zeladores portugueses dos destinos
pátrios, tendo ela chefiado um dos bandos interessados no poder. Mais tarde
seria presa por outro bando e acabaria morta, leio que queimada viva, regada
com gasolina, na pressa, compreensível, de decidir dos destinos de uma nação a desabrochar,
eliminando os empecilhos, nada parecido com o caso de Joana d’Arc dos tempos
recuados da história anglo-francesa, onde também havia – houve sempre –
despiques de governação, até assentarem, e as cremações eram mais sentidamente
devotas, ainda não poluídas com gasolina, combustível desconhecido nesses
tempos de atraso, mas igualmente de empecilhos.
Joana Simeão, lembro-me bem da sua voz sonora,
aconselhando o seu povo a não se exaltar contra os brancos, maneira cavilosa de
os incitar a isso, como escrevi nesses tempos, em “Pedras de Sal”, figura que
desenhei, no mesmo livro, da seguinte maneira:
Assim é Joana…
Itinerante. Revolucionária.
Espaventosa e de gracioso turbante.
Cem por cento
militante,
-Ela o diz, a gente o
crê, pelo que ouve e o que vê -
Vai em frente, sempre
avante,
Cheia de força e de fé,
No ardor da sua palavra
Convincente e operante.
Gira que gira, torna
que torna,
Põe, depõe, repõe,
compõe,
Sempre com garra,
sempre com alma.
Assim é Joana,
Itinerante e de
gracioso turbante.
Espírito gritante, diz
verdades convincentes
Que andam na boca das
gentes.
Insulta e recebe
insultos
Não se rala e vai
avante
Devolvendo, veemente,
Olho por olho, dente
por dente.
Assim é Joana.
Graciosa, em turbilhão,
Saltando ágil na ampla arena
Do terreno cobiçado
- Moçambique, sua terra
–
Onde julga vir a ter
Papel preponderante.
Mas sempre na augusta
cabeça
Um majestoso turbante.
Deve ter sido o sorriso rasgado de António Costa, ao
longo das suas exposições junto dos parceiros sociais da esquerda, nas mesas a
que a televisão tinha acesso, que me trouxe à memória o tal turbante da Joana
Simeão, o qual a demarcava do vulgar lenço que outras suas conterrâneas usavam.
Tal se me revelou o sorriso demarcador de Costa ante os parceiros e a
televisão, mostrando que tudo ia bem no melhor dos mundos, tipo cocorocó ou gluglu
de galináceo, e que a seres rancorosos como eu, consciente de que a situação não
é de rir mas de chorar, produziu o tal efeito inesquecível do turbante:
Assim é Costa. De
sorriso contundente
Que hoje se revelou
mais discreto
Para convencer um país
obsoleto
Sempre pronto a aceitar
quaisquer migalhas
Da mesa das vitualhas
Que ele promete impante
Com o desplante
De alguém mais que
indiferente
Àquilo que vai destruir
Só para ter o poder
De, do governo, usufruir,
Sem ouvir outra razão
Que não seja a ambição
De governar,
Fingindo que o que quer
É dar oportunidade à
esquerda,
Condenada ao triste
fado
De estar longe do poder
No papel de boicotar
E de exigir
Obtido na vilania
Do ódio e da aleivosia
De atacar porque sim,
Ou porque não,
Em babugem de virtude
Ou bondade como fim
Que não são senão
pretexto
Para obter a simpatia
Desse povo só coeso
No pedir.
Pobre país atraído
Por promessas de
sorriso
Sem turbante mas
impante,
Dando oportunidade ao
partido
Que os marretas de
agora,
Bem desprezavam
outrora!
Pobre país traído,
Mais uma vez adiado,
Nosso fado!
Nenhum comentário:
Postar um comentário