Realmente, o que se tem visto, é François Hollande por
aqui e por ali, junto de Angela Merkel, primeiro, junto de Obama há pouco, e,
pelo meio, também com David Cameron, posando com o aperto de mão para a
cooperação bélica, com Putin igualmente, em luta na Síria, ou fazendo apelo à
União Europeia para que os países dessa participem na guerra, na Síria e mais
onde for preciso para desfazer os terrorismos em curso, que o escoamento migratório
para a Europa acelerou resultante da fuga à guerra síria, mas com consequências
funestas para o Ocidente.
Vasco Pulido Valente historia os factos antigos, dos
colonialismos no Norte de África e na Ásia. Não vai em fraternidades como essa
de a Europa acolher os povos aterrorizados nas suas guerras entre facções
religiosas e outros pormenores das suas políticas. A verdade é que a abertura
das fronteiras europeias parece encaminhar o mundo para uma nova guerra mundial.
Nos fluxos migratórios, os chamados jihadistas, com o seu ascendente maléfico junto
das camadas mais jovens, parecem estar a tomar o comando dos focos de uma assustadora
guerra de vingança e de terror. Os contactos de um preocupado François Hollande
para criar uma coligação internacional contra o Estado Islâmico, parecem não
merecer o apoio de Vasco Pulido Valente: ninguém de bom senso se lembraria de
intervir em guerras religiosas, como fez o Ocidente com propósitos menos
fraternos do que económicos. «Relações mínimas e estritamente materiais entre o
Ocidente e o Islão, petróleo por tecnologia – e acabou”. Mas não é essa
materialidade precisamente a causa-mor do desastre?
Hábitos que não passam
Vasco Pulido Valente
Na
sexta-feira um ataque militar terrorista em Paris fez mais de 120 mortos.
Alguns jihadistas gritaram às vítimas que o massacre era “pela Síria”. Não
esqueçamos que a Síria foi uma colónia francesa entre 1919 e 1941, quando a
Inglaterra expulsou as tropas de Pétain, para grande indignação do general de
Gaulle e desgosto do Império. Durante todo o século XIX e grande parte do
século XX, as potências nunca deixaram de se guerrear pelo domínio do
Mediterrâneo oriental e da longa costa da África do Norte: a Inglaterra, a
França, a Espanha, a Alemanha e, depois de 1945, a própria América. Churchill começou
a sua carreira numa carga de cavalaria em Obdurman e Georges W. Bush acabou a
dele no Iraque. Pelo meio, a França perdeu o Egipto e o Sudão e ganhou a
Tunísia, a Argélia e uma considerável parte de Marrocos.
O
Ocidente, por razões que variaram com a época e o país, sempre se achou dono da
África do Norte e do Médio Oriente. A impotência de Istambul tornava o imenso
território do Império Otomano em terra de ninguém e de toda a gente, que os
diplomatas da “civilização” dividiam e redividiam a régua e esquadro. Mesmo a
Rússia perdeu a sua única guerra – na Crimeia, com a França e a Inglaterra –
por causa de uma querela com a Igreja Católica em Jerusalém. O canal de Suez,
caminho para a “jóia da coroa” e para o Oriente, e a seguir o petróleo
prolongaram até hoje o longo envolvimento da Europa e da América em questões
que não lhes diziam respeito. Nem a descolonização, que provocou na Argélia
barbaridades sem nome, mudou muito as coisas. Sobretudo para a França que se
continua a considerar tutora e protectora das suas velhas colónias.
A
situação do Norte de África e do Médio Oriente é agora uma situação de guerra
religiosa entre sunitas e xiitas (e as várias seitas de cada lado) e também, em
certos países, de guerra entre islamitas e secularistas. Não ocorreria a nenhum
estrangeiro de senso intervir neste caldeirão, como não ocorreria a um budista,
por muita força e apetite que tivesse, intervir na “Guerra dos 30 Anos”. Mas
nem o Ocidente nem a Rússia hesitaram um segundo em tomar partido pela palavra
e pela bomba na região inteira. Julgavam que nenhum muçulmano se atreveria a
transportar as suas sujas questões para o continente da liberdade e da
tolerância. Um erro primário. Desde o primeiro momento que os designaram como
fautores de qualquer desgraça em que metiam o nariz. As relações entre o
Ocidente e o islão deviam ser mínimas e estritamente materiais: petróleo por
tecnologia – e acabou. Fora isso, o terrorismo vai continuar e aumentar, quer a
“grande” França queira, quer não.
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