segunda-feira, 20 de julho de 2009

As mãos da profilaxia anti-gripal

Foi num café chique, de boa pastelaria, da Parede. Ouvimos um espirro e lembrámos a gripe. Se realmente iria tomar as proporções que dizem que vai. E nas medidas profilácticas que se estão a tomar com calma, sem excitações inúteis.
Lavar as mãos é fundamental, diz a Ministra da Saúde, e tecemos comentários a esse preceito tão antigo que nos chegou por via bíblica. Mas nem todos os que passarem a lavar as mãos e que dantes não lavavam, mesmo em locais que pediam esse recurso posterior imediato, não se vão desresponsabilizar dos seus compromissos, como fez Pilatos. A desresponsabilização já existe em grande quantidade cá, mesmo sem a lavagem das mãos, que nem é assim tão usual. Por isso a epidemia que está para vir, para não fazer alastrar mais ainda a desresponsabilização, não sei se será mais benéfica com o preceito higiénico.
Mas há outros preceitos. A questão da hóstia, por exemplo. E logo a minha amiga:
-“Esse assunto já está a ser tratado”.
Calei-me, ela sabe, de leitura e de ouvido, mas também falámos na pia baptismal, que convém deixar seca, no pino da gripe, lamentando a falta da água benta. E nos beijos e abraços da paz eclesiástica durante a missa, que é bom que se interrompam para não contagiar, isto ouvi eu hoje.
- “E a fruta, nos mercados, e as hortaliças?” – pergunta a minha amiga desde sempre escandalizada, já muito antes do surto, contra a falta de embrulho próprio e as mãos, que não se sabe se estão lavadas, a mexer nelas, sem a ajuda de um plástico ao menos!
- “Pode ser que passem a ser embrulhadas, tal como o pão”...
- “Já viu este balcão?” Tratava-se do balcão do café chique, de boa pastelaria, mesmo ao lado da farmácia. “Tabuleiros com bolos e outros com bolas de carne, em cima do balcão, o pão mal coberto, as pessoas a passarem perto, o café cheio de gente a respirar e a poluir o ar... Um nojo! E quando tossirem e espirrarem? A Asae não vê isso, que esta pastelaria é das chiques, só se encarniça a sério contra os pobres diabos dos pequenos comerciantes...”
- “O que vale é que tem a farmácia ao pé!” – Como sempre, sou mais contemporizadora. “E ouviu aquela que o governo está a tramar, de mandar os professores dar aulas às casas dos alunos doentes?! Será assim? Devo estar errada! Ou é de anormais!”
- “Pois! Convém não deixar os nossos alunos doentes sem aulas, que eles podem-se prejudicar nos estudos! O nosso Governo está mesmo consciente da vantagem de estudar! Deve ter sido uma proposta imposta pela Ministra da Educação, que tem feito muito no estímulo à educação!”
-“Talvez os professores aí, à entrada das casas, tenham mesmo que se descalçar e lavar também os pés, quer para maior consubstanciação com o corpo de Cristo, quer para maior identificação com a doutrinação educativa ministerial portuguesa...”
P.S Mas não se tratava de os professores irem às casas. Foi engano meu, que não ouvi o prefixo e estou sempre em dúvida. Trata-se, puramente, de teletrabalho, nada a ver com ir às casas como as empregadas de limpeza.
P.S.

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