Para as professoras que gostavam de ensinar, e de aprender ensinando, e iam mais aprendendo à medida que iam melhor ensinando, e se deixaram apanhar pelo complexo de que já não sabem ensinar e anulam tudo o que foi o prazer da sua carreira, de ensinar aprendendo e aprender ensinando, e que vivem presentemente imersas na frustração e na depressão que as levou directamente ao psiquiatra e tomam pílulas para conseguirem chegar ao fim deste ano lectivo, desinteressadas, apáticas, vogando, no horror da imensidão de papéis sem sentido que para elas têm que ter sentido e são cada vez mais os papéis a chegar constantemente do ministério, com cada vez mais exigências, papéis fabricados sem lei nem roque que deixou de haver – o roque é arcaísmo, a lei passará a ser - e com cada vez mais as horas perdidas no espaço da escola, por conta dos papéis e das justificações de não conseguirem fazer passar os alunos que não são bem alunos e não merecem transitar, juntamente com outros que também mal merecem, mas sempre se pode dar um jeito, para não ter que justificar mais reprovações que revertem em desfavor da avaliação que, aliás, deixou de interessar – aos alunos, porque é falsa a avaliação deles, aos professores porque é desonesta a sua – para os professores que também se sentem atribulados numa profissão que deixou de ter sentido e também se deixam abater e deprimir, eu lembro que não vale a pena o suicídio e relembro os versos de Camões, pela boca do Velho do Restelo:
"Já que prezas em tanta quantidade,
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la Quem a dá:”
"Já que prezas em tanta quantidade,
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la Quem a dá:”
E mais: Preza a tua família, se não prezas a tua vida.
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