Julgava eu que a razão da observação, não em tom carinhoso, aliás pouco costumeiro nela, mas em tom muito irónico, dizia respeito às nossas mazelas de povo sujeito a um triste panorama de desequilíbrios, ou, mais elegantemente, de “décalages” embrutecedores – sociais, económicos, culturais, policiais, jurídicos, prisionais, hospitalares, fenomenais, em suma – que mesmo sem estetoscópio – fonendoscópio em designação mais preciosa – ela vai descortinando no seu dia-a-dia atento às entaladelas de hoje em dia, da maioria.
Não dizia respeito. Tratava-se apenas das quatro refeições que ingerimos diariamente e que obrigam a uma sobrecarga de carregos e gastos, para manter uma casa a girar com o dinamismo necessário.
E assim: - “O ser humamo foi malfeitinho. Porque come demais. A vida da mulher é uma calamidade. A mulher que tem filhos, que trabalha, tem uma vida sacrificada. E a razão principal é essa. Comemos demais.”
Utilizei o lugar comum sobre os que às vezes nem uma refeição ingerem, eu própria também atenta às “décalages” sociais e não só às nacionais mas também às internacionais, mas não lhe interessaram, de momento, as misérias dos esfomeados, sabendo, embora, que muitos são, manifestamente apoiada a sua confiança na erradicação da fome, nos povos ricos que enviam os cereais - e as armas, estas como medida profiláctica que fará reduzir o quantitativo dos sacos dos comestíveis a enviar.
Estava cansada de compras, preferia não ter que fazer nada, sobretudo em termos de alimentação do corpo, mais votada ao alimento espiritual que a imprensa escrita, falada e visionada nos carreia em exagero sem tréguas, provocando a revolta nas falas.
Eu não se me dá o alimento, às vezes mesmo num excesso condenável, como o colesterol acusa. Mas gosto de repartir com os que me são queridos. Tenho mais jeito para doçuras, o que se vê no meu feitio acomodatício, ela prefere os salgados, mas a elegância física revela que nem mesmo nesses se apoia, sempre parca e disciplinada.
“O ser humano malfeitinho porque come demais?”
Tem razão, a minha amiga. Mas esqueceu-se de expor sobre as comezainas que a cada passo têm lugar no convívio humano, sobretudo no votado às altas lides de governação, de qualquer coisa que seja – nação, banca, empresa nacional ou particular, lutas pelo guinness book - e de que Vieira aponta mesmo a antropofagia no magnífico “Sermão de Santo António aos Peixes”,de que não resisto a trazer à luz o intróito - “Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos.... - e o seu final de desmesura triunfalmente conceituosa e actualidade perfeita: “enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra e já o tem comido toda a terra”.
Estamos lá todos. O Padre António Vieira bem sabia, génio de predestinação.
Não dizia respeito. Tratava-se apenas das quatro refeições que ingerimos diariamente e que obrigam a uma sobrecarga de carregos e gastos, para manter uma casa a girar com o dinamismo necessário.
E assim: - “O ser humamo foi malfeitinho. Porque come demais. A vida da mulher é uma calamidade. A mulher que tem filhos, que trabalha, tem uma vida sacrificada. E a razão principal é essa. Comemos demais.”
Utilizei o lugar comum sobre os que às vezes nem uma refeição ingerem, eu própria também atenta às “décalages” sociais e não só às nacionais mas também às internacionais, mas não lhe interessaram, de momento, as misérias dos esfomeados, sabendo, embora, que muitos são, manifestamente apoiada a sua confiança na erradicação da fome, nos povos ricos que enviam os cereais - e as armas, estas como medida profiláctica que fará reduzir o quantitativo dos sacos dos comestíveis a enviar.
Estava cansada de compras, preferia não ter que fazer nada, sobretudo em termos de alimentação do corpo, mais votada ao alimento espiritual que a imprensa escrita, falada e visionada nos carreia em exagero sem tréguas, provocando a revolta nas falas.
Eu não se me dá o alimento, às vezes mesmo num excesso condenável, como o colesterol acusa. Mas gosto de repartir com os que me são queridos. Tenho mais jeito para doçuras, o que se vê no meu feitio acomodatício, ela prefere os salgados, mas a elegância física revela que nem mesmo nesses se apoia, sempre parca e disciplinada.
“O ser humano malfeitinho porque come demais?”
Tem razão, a minha amiga. Mas esqueceu-se de expor sobre as comezainas que a cada passo têm lugar no convívio humano, sobretudo no votado às altas lides de governação, de qualquer coisa que seja – nação, banca, empresa nacional ou particular, lutas pelo guinness book - e de que Vieira aponta mesmo a antropofagia no magnífico “Sermão de Santo António aos Peixes”,de que não resisto a trazer à luz o intróito - “Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos.... - e o seu final de desmesura triunfalmente conceituosa e actualidade perfeita: “enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra e já o tem comido toda a terra”.
Estamos lá todos. O Padre António Vieira bem sabia, génio de predestinação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário