sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ceux qui croient, ceux qui croient croire, ceux qui croa croa


São deprimentes os versos de Jacques Prévert, no seu negativismo contra tudo e todos, na angústia que os percorre, pelo absurdo do mal e pelo cinismo ou a irracionalidade da actuação humana, como manto que abafa as vidas sem esperança, que são as de todos nós. O próprio Napoleão da “Composition Française”, de “Paroles”, quando menino era magro, ganhou barriga e países ao tornar-se imperador, e, quando morreu, ficou mais pequeno, apesar do ventre. Mas nem sempre o ventre se mantém, coisa que, de resto, não importa. Com mais ventre ou menos ventre “passamos, como o rio”, disse-o Ricardo Reis.
Vem isto a propósito da frase da minha amiga, na bica de hoje: “Chega-se à triste conclusão de que o que interessa é que nada fique bem”.
Depois deste esbanjar de falas, por vezes liminarmente reduzidas a gestos – como se não nos bastasse o da caricatura de Bordalo, ainda temos que suportar mais esta do Pinho para nos definir como povo preferencialmente ligado ao discurso gestual – verificamos as nossas anomalias rotativas, pois cada governo, cada procurador de Justiça, cada ministro de cada ministério, embora prometa que faz e conclua que fez, vê-se que nunca fará, nem nunca pode fazer, sempre manietado, sempre empeçado nas malhas de uma engrenagem conspirativa, quer dos donos do capital que impõem e usurpam, quer dos partidos da oposição que atacam e condenam, quer das suas próprias ambições que exploram e esbulham. Mas se são os partidos da oposição a governar, logo ficam manietados também, pelos donos do capital que impõem, pelos partidos que foram do governo, agora na oposição, que condenam e atacam, pelas suas próprias ambições que os movem e desacreditam.
E já ninguém acredita, nem nas propostas bem intencionadas da oposição que quer mandar para reformar o que está mal, segundo afirma, embora os ingénuos desejem que se concretize a mudança e se concretizem as reformas. Para extirpar o mal – na Educação, se é que se pode chamar assim, na Justiça, que finge que o é, na disciplina que devia ser, no tecido social que não devia gemer...
E aqui vamos nós “cantando e rindo” ... ou não - “ceux qui croient, ceux qui croient croire, ceux qui croa croa », ceux qui... même pas ça.




Nenhum comentário: