sábado, 18 de julho de 2009

Quem mais poderia?

A cascata e o rio”, eis uma fábula do La Fontaine que a proposta de João Jardim me levou a procurar, que me fizesse perceber quanto ele exagerava ao exigir banir o partido comunista da nossa democracia.
E encontrei: Uma cachoeira poderosa, torrencial, não direi como as conhecidas cataratas Vitória, do Niagara, do Iguaçu, mas suficientes para levar tudo diante de si, descendo da montanha em grande estrondo, fazendo tremer campos e homens, serviu de passagem a um que, na pressa de fugir aos ladrões que o perseguiam, não viu outro remédio senão lançar-se-lhe na corrente e assim escapou. Era mais o medo do barulho das águas despenhando-se, o facto é que se sentiu vitorioso com a proeza. Mas os ladrões não despegavam atrás dele, e não teve remédio senão, muitos quilómetros adiante, se decidir a atravessar um rio que deslizava manso e discreto, nada assustador. Lá foram, ele e o cavalo, dispostos a atravessar para a outra margem – não havia ponte de passagem – mas foram antes parar ao Estígio, que o rio de deslizar suave tinha covas fundas e redemoinhos que o pobre homem nem o cavalo notaram.
O PC dos repúdios do Dr. Jardim, faz estardalhaço – já fez mais – como cascata convulsa que parece tudo atropelar, mas são almas generosas que querem o bem do povo, que esse, sim, é que tem sido sempre prejudicado em todas as governações.
Os outros partidos governam – à vez – constroem amenamente – aproveitando para si dos benefícios que fazem para os outros, em manobras silenciosas de que os incautos se não apercebem, silenciosamente levando ao Estígio, uma pátria sem fibra.
Porque haveríamos de prescindir da cachoeira PC? O mal que fizeram, fizemo-lo todos, ou porque não soubemos ver, ou porque nos não interessava ver, ou porque fomos arrastados.
O certo é que o PC é indispensável, como controlador dos desmandos e dos desperdícios dos partidos no governo. Além de que tem as festas do "Avante" para animar os comparsas e organizar as greves que levaram o país ao estado em que está, mas em que todos colaboramos com garra, desejando todos comer do mesmo prato, esquecidos, não só de que o número de pratos cá foi sempre circunscrito, mas de que as greves, a breve ou longo prazo, nos vão a todos afundando. Como se vê.
Não, não acho feliz a expressão tão autoritária do Dr. Jardim contra o PC que não lhe serve. Não temos outro, mas todos somos irmãos, embora o Dr. Jardim se julgue com a autoridade de pai ou mesmo do avô que se vai mantendo, imperturbável, na suposta impecabilidade do seu mandato na Ilha.

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