Não tem a ver com o nosso. É mais uma de La Fontaine, cheia da magia do seu verbo, pondo em destaque a qualidade intelectual do filósofo grego e também a sua.
Um dia, Sócrates construiu uma casa. Logo todos se puseram a sentenciar sobre a dita, que achavam indigna da sua pessoa, com apartamentos minúsculos, uma fachada deslavada, portas e janelas à míngua, nada a condizer com ele, universal na dimensão do pensamento.
Vai Sócrates e disse: “Quem me dera, assim minúscula, enchê-la de amigos verdadeiros!”
E la Fontaine a concluir, no seu saber incontornável:
«Le bon Socrate avait raison / De trouver pour ceux-là trop grande sa maison. / Rien n’est plus commun que ce nom / Rien n’est plus rare que la chose. »
Também o nosso Camilo, creio que já o disse mas repito, contou que dos cento e dez amigos que tivera, só um o visitara na cegueira. O que lhe valeu foi que pôde vingar-se, apodando-os de «cento e nove impávidos marotos.»
Diz-se que na adversidade é que se reconhecem os amigos leais, mas Sócrates, o grego, teve-os, apesar das suas dúvidas, até na hora da morte, em que não deixou nunca de falar e de explicar os efeitos graduais da cicuta sobre o seu corpo condenado, em demonstração de um estoicismo estarrecedor, a raiar o masoquismo e o despudor.
Não sei como será a questão dos amigos com o nosso Sócrates português, colorido e vistoso no seu poder, a casa cuido que bem frequentada pelo seu clube de fãs. Será que se manterão firmes a seu lado segundo a heróica divisa mosqueteira “Um por todos e todos por um”? É tudo tão fugaz!
Cá por mim, previno-o com mais uma fábula moralista, também do La Fontaine, que era um maganão cheio de saber sobre a imutável humanidade: Trata-se de um pastor e o seu rebanho que o lobo glutão ia despojando dos pobres ovinos. Mas quando desapareceu Robin, o valido entre os carneiros – que há sempre validos nos rebanhos – o pastor não conteve a sua dor e desancou verbalmente os carneiros, todos em pose de contritos, pela falta de coragem em se defenderem e aos seus, segundo a divisa mosqueteira. Todos se comprometeram a demonstrar mais bravura para o próximo atentado lupino, mas não foi assim. Deram às de vila Diogo, mal enxergaram o assaltante.
Assim, pois, industriado e fortalecido com este aviso da fábula, escusa o nosso Sócrates de estar com pruridos de parcimónia construtiva, como o seu antepassado grego, por conta das amizades. Pode edificar o seu ou os seus palácios com o tamanho que lhe apetecer e puder – e deve poder – indiferente à ideia de os encher de amigos. Outros recheios há, bem mais importantes e seguros.
Um dia, Sócrates construiu uma casa. Logo todos se puseram a sentenciar sobre a dita, que achavam indigna da sua pessoa, com apartamentos minúsculos, uma fachada deslavada, portas e janelas à míngua, nada a condizer com ele, universal na dimensão do pensamento.
Vai Sócrates e disse: “Quem me dera, assim minúscula, enchê-la de amigos verdadeiros!”
E la Fontaine a concluir, no seu saber incontornável:
«Le bon Socrate avait raison / De trouver pour ceux-là trop grande sa maison. / Rien n’est plus commun que ce nom / Rien n’est plus rare que la chose. »
Também o nosso Camilo, creio que já o disse mas repito, contou que dos cento e dez amigos que tivera, só um o visitara na cegueira. O que lhe valeu foi que pôde vingar-se, apodando-os de «cento e nove impávidos marotos.»
Diz-se que na adversidade é que se reconhecem os amigos leais, mas Sócrates, o grego, teve-os, apesar das suas dúvidas, até na hora da morte, em que não deixou nunca de falar e de explicar os efeitos graduais da cicuta sobre o seu corpo condenado, em demonstração de um estoicismo estarrecedor, a raiar o masoquismo e o despudor.
Não sei como será a questão dos amigos com o nosso Sócrates português, colorido e vistoso no seu poder, a casa cuido que bem frequentada pelo seu clube de fãs. Será que se manterão firmes a seu lado segundo a heróica divisa mosqueteira “Um por todos e todos por um”? É tudo tão fugaz!
Cá por mim, previno-o com mais uma fábula moralista, também do La Fontaine, que era um maganão cheio de saber sobre a imutável humanidade: Trata-se de um pastor e o seu rebanho que o lobo glutão ia despojando dos pobres ovinos. Mas quando desapareceu Robin, o valido entre os carneiros – que há sempre validos nos rebanhos – o pastor não conteve a sua dor e desancou verbalmente os carneiros, todos em pose de contritos, pela falta de coragem em se defenderem e aos seus, segundo a divisa mosqueteira. Todos se comprometeram a demonstrar mais bravura para o próximo atentado lupino, mas não foi assim. Deram às de vila Diogo, mal enxergaram o assaltante.
Assim, pois, industriado e fortalecido com este aviso da fábula, escusa o nosso Sócrates de estar com pruridos de parcimónia construtiva, como o seu antepassado grego, por conta das amizades. Pode edificar o seu ou os seus palácios com o tamanho que lhe apetecer e puder – e deve poder – indiferente à ideia de os encher de amigos. Outros recheios há, bem mais importantes e seguros.
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