quinta-feira, 9 de julho de 2009

“Cartas na Mesa” com Paulo Portas

Um Homem. Correcto, honesto, frontal, sereno e educado, defendendo corajosamente o seu modo de ver, revestido do necessário envolvimento ideológico. Inteligente. Autêntico. Sem recorrer a truques de falsa “camaradagem”, na ambição dos votos.
Já há muito que o admiro. Por tudo isso e pela energia que põe nas suas ideias e ideais que, embora pareçam correctos - creio que, sem sectarismo, a maioria os acharia assim – não lhe concederão o mérito que ele realmente tem, e que a maioria não lhe reconhece, por ser sectária. E simplesmente por o CDS ser um partido conotado com o tal fascismo, que é expressão máxima do saber político neste país, para arrumar com aquilo que se designa de “passado”.
Lembro-me bem de como foi aqui, os partidos de direita, que até tiveram, inicialmente, bons resultados eleitorais, foram gradativamente passando à reserva, porque os que inicialmente os apoiavam, no susto dos fantasmas de leste, falsamente democráticos, se foram fixando num centro que defendia melhor os seus interesses – não os do país – e aqui estamos ainda hoje a defender os interesses desses a quem não interessam ideologias mas o “rico bago” de que Eça já apontara a importância.
Não resisto a transcrever, pelo pioneirismo analítico dos sistemas políticos que nos regem, e da população que se deixa reger, estas páginas de Eça, vibrantes de inteligência satírica e de uma actualidade perene. É do capítulo XV de “Os Maias”, no espaço da Redacção de “A Tarde”, onde Ega pretende publicar a carta de “Dâmaso Salcede”, que ele próprio elaborara. Contam-se anedotas dos políticos:

"Travou (Gonçalo) do braço de Ega, puxou-o para um canto da janela:
“...... Esta política, este S. Bento, esta eloquência, estes bacharéis matam-me. Querem dizer agora aí que isto por fim não é pior do que a Bulgária. Histórias! Nunca houve uma choldra assim no Universo!
- Choldra em que você chafurda! - observou o Ega, rindo.
O outro recuou com um grande gesto:
- Distingamos! Chafurdo por necessidade, como político: e troço por gosto, como artista!
Mas Ega, justamente, achava uma desgraça incomparável para o país esse imoral desacordo entre a inteligência e o carácter. Assim, ali estava o amigo Gonçalo, como homem de inteligência, considerando o Gouvarinho um imbecil...
- Uma cavalgadura – corrigiu o outro.
- Perfeitamente! E, todavia, como político, você quer essa cavalgadura para ministro, e vai apoiá-la com votos e com discursos sempre que ela relinche ou escoucinhe.
Gonçalo correu lentamente a mão pela gaforinha, com a face franzida:
- É necessário, homem! Razões de disciplina e de solidariedade partidária... Há uns compromissos... O Paço quer, gosta dele... Há aí umas questões de sindicatos, banqueiros, de concessões em Moçambique... Dinheiro, menino, o omnipresente dinheiro!
E como Ega se curvava, vencido, cheio só de respeito – o outro, faiscando todo de finura e cinismo, atirou-lhe uma palmada ao ombro:
- Meu caro, a política hoje é uma coisa muito diferente! Nós fizemos como vocês, os literatos. Antigamente a literatura era a imaginação, a fantasia, o ideal... Hoje é a realidade, a experiência, o facto positivo, o documento. Pois cá a política em Portugal também se lançou na corrente realista. No tempo da Regeneração e dos Históricos, a política era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrório... Nós mudámos tudo isso. Hoje é o facto positivo – o dinheiro, o dinheiro! O bago! A massa! A rica massinha da nossa alma, menino! O divino dinheiro!
E de repente emudeceu, sentindo na sala um silêncio – onde o seu grito de “Dinheiro! Dinheiro!” parecera ficar vibrando, no ar quente do gás, com a prolongação de um toque de rebate acordando as cobiças, chamando ao longe e ao largo todos os hábeis para o saque da Pátria inerte!...”

Não importa que Paulo Portas afirme que o seu partido sabe o que quer, e assim o tenha revelado na sua entrevista com Constança Cunha e Sá, apontando, sem medo, as falhas de um morno Inquérito sobre a supervisão de um BP sobre um BPM; mostrando as suas divergências em relação às políticas do Governo – na Economia, com prioridade sobre o crescimento económico, partindo da redução da carga fiscal, em vez de tomar como prioridade o défice e o recurso à subida dos impostos, o que impossibilita o desenvolvimento económico e a saída da crise, como se tem visto; na Educação, que contesta em absoluto, na selvajaria impune de um Ministério demente; na Segurança, apoiando leis que garantam a protecção dos cidadãos e a segurança policial, considerando as leis actuais permissivas...
Disse não ao TGV e ao aeroporto, sem tergiversações, mas apoiou obras que geram emprego e desenvolvimento, como barragens.
Não, não rasgaria os projectos do actual Governo. Ao verbo “rasgar” opôs o verbo “mudar”, considerando, com equanimidade, os prós e os contras de qualquer governação, afirmando que “os Portugueses estão cansados de sectarismos”, a propósito das atitudes e afirmações drásticas de outros candidatos à governação.
Paulo Portas! Um homem corajoso, que se diz querer governar, não por vaidade ou ambição pessoal, mas para defender o seu país.
Eu acredito nele. Mas quem o escutou, na entrevista de Constança Cunha e Sá, em “Cartas na Mesa”, explicando singelamente, que o apodo de “Paulinho das feiras” lhe fora atribuído porque, por falta de dinheiro nas suas romagens para os votos das eleições, optara por percorrer mercados e sítios onde não tinha que dispender dinheiro, quem o escutou talvez considere antes o ridículo da actuação e não dê valor à coragem e desassombro dessa sua opção.
Eu vejo nobreza de carácter e a coragem da persistência. Além da elegância discursiva e a agilidade do pensamento argumentativo.
Afirmou: “Espero poder ganhar, a merecer isso”.
Foi ingénuo, mas tem o meu apoio incondicional: Desejo que ganhe, porque o merece.

Nenhum comentário: