Lá está a minha amiga a exigir explicações. Gratuitas ainda por cima, as minhas, que o meu esforço de esclarecimento é todo à borla. Mas também porque a maioria das vezes não obtém resultado positivo com ela, que se julga superior em competências, só porque tem uns meses mais do que eu e lê e ouve mais imprensa diária.
- “Ainda ninguém me explicou cabalmente as vantagens do novo aeroporto nem do TGV”.
Apreciei o “cabalmente”.
- “Ora essa! Estão fartos de o dizer, com o nosso PM à cabeça! O TGV permite uma maior rapidez, entre Lisboa e Madrid e entre Lisboa e Porto, com ligação a Vigo. Num ápice, estaremos na Europa. Já viu as nossas possibilidades de evasão ao nível europeu? Maior que a do Cesário: “Ocorrem-me em revista exposições, países: / Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!” Agora até podemos ir parar a Vladivostok, tomar a carreira para o Japão, dar um salto ao Alasca, um ver se te avias de experiências viageiras na aldeia global. Quanto ao aeroporto, servirá de escoadouro do tráfego aéreo – e do tráfico de qualquer via – para libertar o espaço aéreo da capital.”
- “Pois! Mas quem paga isso?”
- “Acho que a União paga vinte por cento, não sei se já pagou há anos e até se eles já foram desviados para outros fins.”
- “Ai, não! Não podem ter sido! Tudo menos isso, que a União exige as contas correctas! Esses dinheiros dos empréstimos para os fins a que se destinam são sagrados, eu sei. Mas...e o resto?”
-“Qual resto?”
- “Os oitenta por cento, claro!”
- “ Ah! Isso vai-se pagando, com mais uns impostos aqui, mais umas dívidas aos fornecedores e aos trabalhadores além, vai ver que se consegue.”
- “Vê-se mesmo que somos um país de novos ricos, que construíram auto-estradas em excesso, talvez pelo muito que padeceram com a falta delas nos tempos fascistas.”
Nada a contenta, protesta sempre.
- “Eu tive um professor de italiano, nos meus tempos de estudante – tinha um Fiat que era o “non plus ultra” da beleza automóvel, para leigos como eu – que costumava afirmar que um país sem estradas não se desenvolvia. Vivi sempre com esta imagem do progresso ligado às vias, e quando chegámos à administração do Dr. Cavaco e Silva e dei um passeio pelas terras, passando pelas aldeias do abandono fascista, fiquei muito feliz, ao notar a rede de autovias”.
- “Pois, mas quando não se pode, tem que se racionalizar! Estamos encravados até dizer chega! e vamos encravar-nos mais ainda com meios de transporte ou espaços aéreos que o nosso bolso não contempla!”
- “Ah! Mas é que não conhece a opinião dos que afirmam que os que subtraíram em fraudes de bradar aos céus e que são tantos que dava para, com esses dinheiros que eles deviam ser forçados a repor, pagar os tais gastos da nossa megalomania e mais as dívidas das câmaras, e ainda sobraria para repor as fábricas a produzir e os trabalhadores a trabalhar, e ainda com umas sobras para os pobrezinhos desabituados de trabalhar.”
- “Isso parece história de magia, ou de fadas que também são magia. Os que mergulharam no saco roto das massas não vão repor os dinheiros subtraídos; e tudo o resto é fantasia.”
Nada a fazer, com a minha amiga. Quando diz que não acredita no milagre não acredita mesmo. Eu sinto-me na pele do chinezinho Badaró: “Como ispilico?”
- “Ainda ninguém me explicou cabalmente as vantagens do novo aeroporto nem do TGV”.
Apreciei o “cabalmente”.
- “Ora essa! Estão fartos de o dizer, com o nosso PM à cabeça! O TGV permite uma maior rapidez, entre Lisboa e Madrid e entre Lisboa e Porto, com ligação a Vigo. Num ápice, estaremos na Europa. Já viu as nossas possibilidades de evasão ao nível europeu? Maior que a do Cesário: “Ocorrem-me em revista exposições, países: / Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!” Agora até podemos ir parar a Vladivostok, tomar a carreira para o Japão, dar um salto ao Alasca, um ver se te avias de experiências viageiras na aldeia global. Quanto ao aeroporto, servirá de escoadouro do tráfego aéreo – e do tráfico de qualquer via – para libertar o espaço aéreo da capital.”
- “Pois! Mas quem paga isso?”
- “Acho que a União paga vinte por cento, não sei se já pagou há anos e até se eles já foram desviados para outros fins.”
- “Ai, não! Não podem ter sido! Tudo menos isso, que a União exige as contas correctas! Esses dinheiros dos empréstimos para os fins a que se destinam são sagrados, eu sei. Mas...e o resto?”
-“Qual resto?”
- “Os oitenta por cento, claro!”
- “ Ah! Isso vai-se pagando, com mais uns impostos aqui, mais umas dívidas aos fornecedores e aos trabalhadores além, vai ver que se consegue.”
- “Vê-se mesmo que somos um país de novos ricos, que construíram auto-estradas em excesso, talvez pelo muito que padeceram com a falta delas nos tempos fascistas.”
Nada a contenta, protesta sempre.
- “Eu tive um professor de italiano, nos meus tempos de estudante – tinha um Fiat que era o “non plus ultra” da beleza automóvel, para leigos como eu – que costumava afirmar que um país sem estradas não se desenvolvia. Vivi sempre com esta imagem do progresso ligado às vias, e quando chegámos à administração do Dr. Cavaco e Silva e dei um passeio pelas terras, passando pelas aldeias do abandono fascista, fiquei muito feliz, ao notar a rede de autovias”.
- “Pois, mas quando não se pode, tem que se racionalizar! Estamos encravados até dizer chega! e vamos encravar-nos mais ainda com meios de transporte ou espaços aéreos que o nosso bolso não contempla!”
- “Ah! Mas é que não conhece a opinião dos que afirmam que os que subtraíram em fraudes de bradar aos céus e que são tantos que dava para, com esses dinheiros que eles deviam ser forçados a repor, pagar os tais gastos da nossa megalomania e mais as dívidas das câmaras, e ainda sobraria para repor as fábricas a produzir e os trabalhadores a trabalhar, e ainda com umas sobras para os pobrezinhos desabituados de trabalhar.”
- “Isso parece história de magia, ou de fadas que também são magia. Os que mergulharam no saco roto das massas não vão repor os dinheiros subtraídos; e tudo o resto é fantasia.”
Nada a fazer, com a minha amiga. Quando diz que não acredita no milagre não acredita mesmo. Eu sinto-me na pele do chinezinho Badaró: “Como ispilico?”
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