sexta-feira, 24 de julho de 2009

“Quem tanto tem feito pelo défice”

Quando ouvi a observação, pus-me a procurar outras personalidades igualmente dotadas da responsabilidade no défice, não queria que o nosso PM se sentisse tão amarfanhado na constatação da sua, e, num ápice, abarquei muitos, tantos que já nem vale a pena referir, desde que soube das Universidades privadas surgidas logo depois do 25 de abril, que usaram os dinheiros dos alunos sem acesso à Pública, não para lhes facultar o curso, mas para se locupletarem à custa dos professores a quem não pagaram. Agora já estamos na Banca, mas até aqui chegarmos, foi toda uma longa caminhada que pudemos fazer, graças a Deus, é certo, mas também às muitas e boas autoestradas que foram surgindo, para ajuda do longo e eficaz percurso dos fazedores de défice de que, a tempo, fomos informados.
Não, não queria de modo algum ver o nosso PM a sofrer lágrimas de sangue pelo défice pelo qual ele diz que tanto fez, mais do que ninguém mais. E até me comovi, pois custa sempre ouvir injustiças sobre as pessoas inocentes e quanto a mim não havia motivo para tal auto-incriminação, como acabei de justificar.
E enquanto limpava uma lágrima furtiva, porque o nosso PM é uma pessoa que irradia simpatia na sua modéstia activa e eu estava a imaginá-lo no lugar do Job que tanto sofreu, olhei outra vez furtivamente e vi-o, afinal, sorridente, arrogante e altissonante, como estava habituada a ver. Até me pareceu gabarolas, como também estava acostumada.
Espantei-me, eu tinha perdido o fio à meada, ou seja, a essência do discurso. Tratava-se, não de auto-incriminação mas de auto-elogio, não percebo como me deixei iludir, na procura do lenço de papel. O nosso PM, ao dizer triunfalmente que não aceitava críticas de ninguém, nem conhecia quem tanto tivesse feito pelo défice, acrescentou que o que era preciso era não ter vergonha das reformas que fizera, não ter vergonha de ser honesto e decente e isso foi bonito de ouvir, porque julguei que ele ia dizer antes que não tinha vergonha na cara, o que era despiciendamente errado.
Regressei ao pensamento inicial. Deixei de julgar o nosso PM o Job da minha pena, coitadinho, igual a todos nós, que passamos o tempo em lamúrias, como se não tivéssemos mais que fazer, e parece mesmo que não.
Espero, sim, do coração, que o nosso PM acabe como o Job dos finais das suas dores, aquele que tudo recuperou em benesses mandadas pelo Jeová. Tenho a certeza de que sim.
Porque quem não tem vergonha de ser honesto e decente como ele diz que foi e foi bonito ouvir isso, e não se dissesse antes que não tinha vergonha na cara, merece ter todas as benesses, tal como o Job dos finais teve.
Que o Jeová nem discute, quando se trata de recompensas aos que bem se esforçam por obtê-las.

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