sexta-feira, 31 de julho de 2009

“Parece que lhe prometeram”

Desta vez éramos três à mesa do café quando a minha amiga chamou a atenção para a pessoa que ia a passar.
- Parece que ainda não tem trinta anos. Foi há dias à televisão. Não ouvi tudo, mas parece que está há muito tempo à espera da banda gástrica.
Era um rapaz enorme, descomunalmente largo e redondo, mas, pelo andar, parecia ágil.
- Coitado! Parece que há muita gente como ele, em lista de espera da banda gástrica. Porque parece que há muitos casos no país, assim gordos, ou quase tanto. Não sei o que se passa com a banda gástrica, está no limbo dos pareceres.
- Parece que a operação é cara.
Tento demonstrar simpatia, aliás, sincera. Mas sou distraída, a minha amiga é que conhece os casos.
- Esta gente sofre muito. E não arranja emprego em lado nenhum. Este parece que foi chamado para uma entrevista, mas quando lá chegou, assustaram-se e mandaram-no deixar o contacto, para telefonema posterior.
- Como fazem com os magros, aliás. A crise é geral e parece que vai aumentar, na questão dos empregos.
- Lá na minha rua há um mocinho brasileiro, quase como este. É muito infeliz, muito, muito.
Agora foi o terceiro interlocutor que falou. Como homem, mostrou-se incisivo, parece que ainda ressabiado com os traumas da infância:
- Às vezes são as mães as responsáveis pelo excesso de peso em adultos, com as papas ou o excesso de comida que dão aos filhos, em crianças.
- É preciso cuidado com a alimentação infantil – a minha amiga a falar, doutoral. – O corpo do bebé alarga demais, se é habituado a muita comida, e depois torna-se menos fácil encolher, até porque embalado no hábito, e assim se chega à obesidade.
- Parece que pode conduzir ao estado desesperante de bulimia, que é uma doença bem grave.
Neste momento fui eu que falei.
O nosso interlocutor ressabiado também não ficou atrás nos detalhes:
- Também a anorexia, que é o seu oposto, é grave. E os apresentadores da moda têm a sua quota parte de responsabilidade na doença, que mata.
- E bem, diz a minha amiga. Como é possível tal estado de alienação?
- Parece que há umas cápsulas para se emagrecer,
suspiro eu, esperando informação.
- Ora, ponha-se a andar e coma menos doçuras, e verá o resultado.
Fico sentida, que sou pessoa sensível. Parece-me, aliás, uma grande crueldade, esta das pessoas elegantes que vão tendo tempo para os passeios no paredão até Cascais e que sabem sacrificar a glutonaria aos seus ideais de beleza, para poder mandar bitaques.
Mas parece que não é esse o caso dos da banda gástrica. É mais meu.

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