terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Curiosidades sobre Goa




Um texto de Salles da Fonseca, 16º da série “Muitas e desvairadas gentes”, crónicas resultantes da sua viagem recente por terras da Índia e Ceilão:

Terça-feira, 15 de Dezembro de 2015
MUITAS E DESVAIRADAS GENTES – 16
Goa é o Estado da União com o mais elevado PIB per capita sendo o turismo um elemento fundamental da sua economia. Contudo, há agora um elemento desestabilizador no modelo já enraizado por que ninguém esperava: a queda abrupta do Rublo.
Os americanos passaram à auto-suficiência energética e o Estado Islâmico aí está a fornecer petróleo a troco de armas, a cotação do barril de petróleo caiu e a Rússia faliu. Tão simples como isto. A mesma falência aconteceu a Angola mas esta nada tem a ver com Goa enquanto os turistas russos eram muito importantes para a economia goesa. Havia também umas «prestadoras russas de serviços» – ligadas à mais velha profissão do mundo – que ficaram sem a clientela a que estavam habituadas. Sim, Goa estava a transformar-se num mega prostíbulo russo. Consta que os miríficos casinos flutuantes – propriedade da Máfia russa, segundo se diz à boca cheia – também estão a passar por alguma recessão. Os cartazes em russo anunciando não sei o quê (sou analfabeto em cirílico e não sei russo) estão baços e sem a iluminação feérica a que, diz-se, estavam habituados.
Há também os hippies arqui-velhos que ainda não perceberam que o mundo já deu umas quantas voltas desde que ali aportaram e que o flower power já era... Mas se foram importantes há décadas, agora limitam-se a exibir a degradação a que chegaram, não passam de um fait divers e não têm mais qualquer relevância económica.
E, contudo, a costa a norte de Pagim, desde Sinquérim a Baga passando por Candolim e Calangute, fervilha de gente animada round the clock, com cafés, bares e restaurantes porta sim-porta sim, praias cheias sobretudo à noite com a festa da música, das luzes e dos fogos de artifício a pretexto de tudo e de nada... É que, de facto, nem só de russos e de hippies caducos vive o turismo de Goa. Nós, os outros, somos a maioria e os indianos de outros Estados encheram os hotéis por lá terem ido passar o Diwali. O quê? O Diwali é para os indianos o mesmo que o ano novo e o Natal são para nós, dois em um, motivo de festa, de votos positivos, de presentes.
Tivemos alguma dificuldade em conseguir alojamento no hotel que queríamos, o do Forte Aguada, tendo corrido o «risco» de irmos parar a outra zona menos animada. Mas conseguimos o que queríamos e pudemos testemunhar que Goa é actualmente o pólo central do turismo indiano. Mais uma razão para que Goa preserve a sua própria cultura em vez de se deixar igualar aos demais Estados da União.
Mas serão os goeses capazes de definirem a política no seu próprio Estado ou continuarão por muito mais tempo à mercê dos interesses dos grandes Partidos colonialistas, o do Congresso e o BJP? Pelo ambiente político de que tomei conhecimento, temo que Goa se dilua na União.
E foi com esta ideia bem pesada que tomei o avião com destino a Bombaim.

O meu comentário: Tout passe, tout casse, tout lasse et tout se remplace… Nem vale a pena lamentar. Nem Afonso de Albuquerque estranharia, talvez, esses dados novos sobre um povoamento que a sua política de miscigenação iniciou, dentro dos trâmites da legalidade, é certo. Mais um texto cheio de vibrações turísticas, de política pendente, que nos faz viajar com a curiosidade atenta…

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