Extraio da Internet:
«O
grupo Estado Islâmico está a utilizar armas produzidas nos Estados Unidos da
América, Rússia, China, Bélgica e mais 21 países, de acordo com o relatório da
Amnistia Internacional, Tking Stock: The arming of Islamic State.
A
organização visualizou “milhares de vídeos e imagens” onde o EI expõe a sua
capacidade bélica.
O
documento avança que os jihadistas têm veículos, armas e munições suficientes
para abastecer o equivalente a três divisões iraquianas convencionais, no total
de 40 a 50 mil militares, por dois anos.
Segundo
a organização, os jihadistas conseguiram aproveitar-se da inabilidade da
administração dos Estados Unidos da América, no Iraque, e dos sucessivos
governos de Bagdade, que não conseguiriam garantir a segurança dos armamentos,
para realizar a transferência e armazenamento de material bélico que a
comunidade internacional forneceu às forças iraquianas.
Na
origem do problema a guerra entre o Irão e o Iraque, em que 34 países
forneceram armas ao regime de Bagdade.
Em
2003, com a ocupação norte-americana, durante a operação “Shock and Awe”, a
história repete-se com os radicais islâmicos a aproveitar ao modo pouco eficaz
do Ocidente, na região.
A
Amnistia estima que existam cerca de 650 mil toneladas de munições, no Iraque.
Grande
parte do material bélico foi capturada em 2014, durante a conquista das cidades
de Mossul, Kirkuk e Diyala, no Iraque.
Para
trás, as forças iraquianas deixaram um arsenal considerável de espingardas de
assalto variantes da russa AK, M16 norte-americanas, G3 alemãs, FN Herstal FAL belgas, CQ chinesas, entre muitas outras.
O
grupo Estado Islâmico ficou em posse, também, de mísseis antitanque MILAN europeus, Kornet e Metis russos, ou, ainda, os mísseis
terra-ar portáteis chineses MANPADS FN-6.
Nas
mãos dos jihadistas estão, ainda, centenas de veículos de combate blindados,
incluindo dezenas de tanques, como os russos M1A1M Abrams, e veículos de
transporte, além de peças de artilharia.
Uma
vez que se mostra impossível garantir a segurança do armamento bélico que se
exporta para as zonas do Iraque e Levante, a Amnistia Internacional defende que
os países negociadores de armas adotem uma regra de “presunção de negação”, ou
seja, “na dúvida, não se vende.”
Do Público (Revista) de Domingo,
29/11/15, também extraio o seguinte retrato de um muçulmano - Mizanur
Rahman - nascido em
Londres, que aderiu ao recente movimento do EI. Um rapaz em negro,
olhos, cabelo, bigode, barba, veste abotoada até ao pescoço, olheiras a condizer,
botões brancos a contrastar. Talvez um futuro dominador do mundo. Agora, um ar
passivo, por fora, dizendo coisas da sua
revolta e do seu ódio, bem de dentro, muito calmo, imperturbável, que a
democracia inglesa permite expressar, mantendo-o – aparentemente inofensivo com
a tal pulseira, mas em liberdade que ele pagou para se mostrar e repercutir nos
seus adeptos, vítima a merecer piedade e adesão. On verra.
E que mal há em dizer isto?
Kevin
Sullivan
Mizanur
Rahman está sentado num café de Palmers Green. Debaixo da sua longa túnica
preta, tipicamente muçulmana, está escondida uma pulseira electrónica. As
autoridades britânicas suspeitam de que ele seja um dos recrutadores do autoproclamado Estado Islâmico, por isso vigiam de
perto todos os seus movimentos e confiscaram-lhe o passaporte.
Está
proibido de se encontrar com mais de duas pessoas ao mesmo tempo, e todas as
noites tem recolher obrigatório para a sua casa no norte de Londres, onde é
obrigado a pernoitar. E, o que é mais difícil para Rahman, está proibido de
tocar em qualquer aparelho com ligação à Internet.
Rahman
é conhecido pelos discursos longos e fervorosos de exortação ao Estado
Islâmico, que publica na Net. Apoia declaradamente um califado global, uma
pátria governada pela sharia (a lei islâmica), que segundo ele é um sistema
económico, jurídico e político superior à democracia. Pretende que o Reino
Unido adopte a sharia e diz que um dia a bandeira preta do EI esvoaçará na Casa
Branca.
Enquanto
bebe uma chávena de chá Earl Grey com leite, comenta que provavelmente os
islamistas irão conquistar Washington pela força militar, mas garante que isto
não significa que ele defenda a violência. Ainda assim, argumenta, o conceito
de espalhar o islão pela força não é menos nobre do que os países ocidentais
invadirem o Iraque e o Afeganistão para espalharem a democracia.
Mizanur
Rahman diz que os atentados em Paris foram “uma consequência inevitável” da
participação francesa nos ataques aéreos da coligação contra Raqqa
KENZO TRIBOUILLARD/AFP
Numa
conversa telefónica, na semana passada, Rahman comentava que os atentados do EI em Paris, a 13 de Novembro [que
fizeram 130 mortos], foram “uma consequência inevitável” da participação
francesa nos ataques aéreos da coligação contra Raqqa, a cidade síria declarada
capital pelos islamistas. “Acho que ninguém pode ficar realmente
surpreendido com aquilo que aconteceu”, diz. “Na guerra, as pessoas
bombardeiam-se umas às outras. Acho que esta é uma oportunidade para os
franceses sentirem empatia com as pessoas de Raqqa, que sofrem um impacto
bastante parecido sempre que os ataques franceses as atingem — as vítimas
civis, o choque, o stress. A raiva que devem estar a sentir neste momento
contra o Estado Islâmico é o mesmo tipo de raiva que as pessoas da Síria e do
Iraque sentem em relação a França.”
Rahman
não tem uma presença impositiva. Ligeiramente encorpado, um metro e 65 de
altura, uma barba negra rala. É calmo, articulado e charmoso — mesmo que
argumente que decapitar jornalistas americanos, como faz o Estado Islâmico, não
é pior do que os Estados Unidos matarem muçulmanos civis em ataques de drones.
“Eu
promovo a sharia porque acho que é o melhor [sistema]”, comenta o antigo
contabilista e web designer durante a entrevista no café londrino. “Acho que é
melhor do que aquilo que temos. E que mal há em dizer isto?”
Muito,
dizem as autoridades em Londres e Washington, que acreditam que este homem de
32 anos é uma figura central do círculo mundial de pregadores, professores e
verdadeiros crentes, cuja eficaz propaganda online é fundamental para o poder
de atracção do Estado Islâmico.
Dizem
que os seus milhares de tweets e posts no Facebook e as leituras inflamadas no
YouTube pretendem inspirar jovens vulneráveis — de Londres, a Chicago, até Nova
Deli — a juntar-se ao grupo que decapita, crucifixa, queima e afoga inimigos em
nome de Deus.
Num
sermão no ano passado, publicado no seu canal no YouTube, Rahman manifestou-se contra
os EUA e exortou os muçulmanos a “acordarem e unirem-se pelo califado!” Mas sem
nunca dizer explicitamente a ninguém para cometer actos violentos. “Parem de
jogar e de ficar à margem, simplesmente a olhar: ‘Oh, os americanos estão a
matar os nossos irmãos [no califado]. O que é que eles vão fazer?’”, lançou num
tom de voz crescente. “Façam alguma coisa em relação a isso!”
Em
Agosto, o Reino Unido acusou-o de “instigar ao apoio” ao Estado Islâmico, e se
for condenado enfrenta uma pena que pode ir até dez anos de prisão. Agora está
a aguardar o julgamento em liberdade, com uma caução e duras restrições,
incluindo a pulseira electrónica.
Os
governos ocidentais dizem que confrontar os responsáveis da propaganda é vital
para combater o recrutamento e,
consequentemente, derrotar o Daesh. Por isso a pressão sobre Rahman e outros
proselitistas tem aumentado.
“Ele
é perigoso porque cria as condições para que a ideologia extremista seja vista
como normal”, comenta Peter Fahy, um polícia de Manchester que recentemente
passou à reforma e que tem ajudado a polícia britânica a tentar conter a
radicalização. “Ele é o início da rampa de lançamento no percurso para o
extremismo.”
Um
alto responsável da agência americana de combate ao terrorismo, que pede para
não ser identificado de forma a poder falar sobre questões altamente sensíveis
dos serviços secretos, descreve Rahman como alguém que exerce uma
“influência significativa” e que faz parte de uma rede mundial de promotores do
EI.
No
café, Rahman afirma que as acusações contra ele são ridículas e antimuçulmanas.
Diz que não fez nada a não ser pregar as virtudes do islão e que nunca
recrutou ninguém para se juntar especificamente ao Estado Islâmico, nem apelou
a ninguém para cometer actos violentos.
“Eu não faço recrutamentos para o ISIS. Não
faço parte deles”, afirma Rahman, que nasceu em Londres e tem uma pronúncia
britânica perfeita. “Isto é uma caça às bruxas. Se temos uma ideologia
diferente de como o governo ou o país devem ser geridos, eles atacam-nos e
rotulam-nos terroristas.”
O
caso de Rahman ilustra bem os desafios que os países que defendem a liberdade
de expressão enfrentam na sua tentativa de levar a tribunal os defensores do
EI. Como impedir que se ultrapasse a linha cinzenta que separa a liberdade de
expressão do incitamento à violência?
“Ele
leva-os à beira do abismo e depois são eles que têm de decidir se dão o passo
em frente — e as autoridades têm uma extrema dificuldade em lidar com isso”,
diz Peter Neumann, presidente do Centro Internacional para o Estudo do
Radicalismo do King’s College, em Londres.
Segundo
Neumann, Rahman é um dos poucos “faróis” das redes sociais, servindo de guia
para as pessoas vulneráveis que procuraram respostas. Adianta que Rahman
é habilidoso na persuasão de muçulmanos de que é seu dever religioso jurar
obediência ao líder do Estado Islâmico, argumentando que Deus quer o mundo
reunido sob um califado — sem sequer apelar abertamente a que eles se mudem
para a Síria ou o Iraque [onde o EI domina um território superior à área do
Reino Unido]. “Se tivermos em conta tudo o que ele diz, é óbvio que está a
defender que se vá para lá, mas ele não diz ‘Vão para lá’”, adianta Neumann.
Rahman
nem sempre conseguiu manter-se no lado certo da lei. Passou dois anos na
prisão, entre 2006 e 2008, por ter feito um discurso condenando a publicação de
cartoons do profeta Maomé por parte de um jornal dinamarquês. Numa
manifestação, afirmou desejar que os soldados britânicos no Iraque “voltassem
para casa em sacos” e que queria “ver o seu sangue a correr pelas ruas de
Bagdad”.
Afirma
que mantém o que disse, mas admite que as declarações foram proferidas num
momento “tenso” em que muçulmanos de todo o mundo se sentiam atacados pelos cartoons
e a guerra no Iraque. Adianta que pedir a Deus que os soldados britânicos
fossem mortos no que considerava uma guerra injusta contra o islão foi
incendiário, mas que não incitou os rebeldes de Bagdad à violência. “Não acho
que eles fossem orientar as suas políticas com base no que dizia um miúdo de 22
anos que ninguém conhecia, durante um comício em Londres”, declara.
Mas,
para frustração das autoridades britânicas, Rahman tornou-se uma estrela das redes
sociais desde que foi para a prisão. E tem sido mais cuidadoso em relação à lei
quando lança a sua verborreia de apoio ao califado.
Quando
lhe perguntamos se gosta de “brincar” com a linha que separa o discurso legal
do ilícito, Rahman sorri e responde: “Isso é uma boa caracterização daquilo que
eu realmente faço.” “Tendo a conhecer a lei melhor do que a polícia”, adianta.
O
príncipe herdeiro
A
polícia acusa-o de radicalizar jovens muçulmanos, sendo ele profundamente
influenciado por um pregador mais velho.
Rahman
nasceu em Londres em Junho de 1983, filho de pais que emigraram do Bangladesh.
Cresceu a jogar basquete, a ouvir música pop e a divertir-se com videojogos. A
família era muçulmana mas não muito religiosa, e ele frequentou escolas
protestantes da zona, geridas pela Igreja Inglesa. Quando se tornou
adolescente, o pai, engenheiro, começou a pressioná-lo sobre o que ele queria
fazer da sua vida. Disse-lhe para estudar Medicina, como o irmão, ou Direito —
nenhum dos cursos o atraía. Sentiu-se desnorteado, até que um dia, em Janeiro
de 2001, aos 17 anos, conheceu Omar Bakri Mohammed.
Bakri,
nascido na Síria, tornar-se-ia depois um dos pregadores islamistas mais famosos
de Londres; em 2004, garantiu que os muçulmanos dariam ao Ocidente “um 11 de
Setembro a cada dia que passa”. Foi a força motriz por trás de dois grupos que
acabariam por ser proibidos pelo Governo britânico: o Hizb ut-Tahrir e o
al-Muhajiroun. Está preso no Líbano,
onde procurou exílio depois de lhe ter sido recusada entrada no Reino Unido em
2005, por se considerar que a sua presença “não conduzia ao bem público”.
Quando
Rahman ouviu pela primeira vez Bakri pregar numa mesquita perto da sua casa de
infância em Palmers Green, sentiu-se inspirado. “Descobri todo um mundo de
islão. Vi quão vasto era, quão incrível era”, diz Rahman. “Apercebi-me de que
desperdicei toda a minha vida a aprender coisas que eram inúteis para mim, a
fazer desenhos em [disciplinas de] Arte. É preciso dizer uma coisa sobre a
arte. Ainda gosto, mas não é isso que é importante na vida. Não responde ao
sentido da vida.”
Anulou
os seus planos de ir para a universidade e em vez disso começou um curso
intensivo de cinco anos com Bakri. Diz que isso lhe deu um conhecimento
profundo e agora considera-se um especialista em teologia islâmica e na sharia.
“O
islão é muito mais do que um livro com uma história antiga. É na verdade um
código para a vida”, defende, acrescentando que o islão contém as instruções
para tudo, desde a higiene pessoal às relações internacionais. “Não são apenas
longos discursos medievais.”
Afirma
que o pai ficou preocupado quando ele começou a falar em espaços públicos com o
seu novo fervor e roupas conservadoras, e prevendo que “o Governo não iria
gostar”. Rapidamente se comprovou que estava certo.
A
primeira detenção foi em Fevereiro de 2002, quando foi multado em 50 libras (64
euros) por arrancar um póster de uma banda pop que tinha a imagem de mulheres
com pouca roupa, o que ele considerava uma indecência. Na Primavera de 2005,
durante as eleições legislativas, foi novamente multado por colocar cartazes a
dizer “Muçulmanos não votem” na sede do Partido Trabalhista. Na sua opinião,
os muçulmanos não deveriam aceitar nenhuma lei redigida pelo homem ou
participar em nenhuma forma de governo que não seja regido pela sharia.
Quando
em 2006 foi condenado à prisão, depois da publicação dos cartoons
dinamarqueses, já se tinha tornado uma inspiração para outros muçulmanos
radicalizados. Um jovem nigeriano convertido ao islão, Michael Adebolajo, foi
preso por ter atacado dois polícias à porta da sala de audiências de Old Bailey,
onde decorria o julgamento de Rahman. Em 2013, Adebolajo e outro homem mataram
o soldado britânico Lee Rigby, quase o decapitando numa rua de Londres.
“A
coisa mais importante que aprendi na prisão foi a ser paciente”, diz Rahman. “A
paciência é muito subvalorizada. Aprendemos a lidar com as coisas, a resistir.”
Os
analistas apontam para uma mudança geracional entre os pregadores mais radicais
da capital britânica, que nos últimos anos se tornou um dos principais centros
de proselitismo islâmico em língua inglesa.
Neumann
adianta que o herdeiro de Bakri é Anjem Choudary, que também estudou com ele
durante vários anos, e que tem sido um amigo próximo e mentor de Rahman. Mas
agora que Choudary está quase com 50 anos, diz Neumann e outros analistas, a tocha
irá passar para Rahman. Consideram que ele representa a nova geração de
discípulos com conhecimentos em tecnologia, imersos nas redes sociais e na
cultura da juventude, levando a mensagem de Bakri e usando ferramentas modernas
para inspirar os jovens. “Ele é o príncipe herdeiro”, diz Neumann.
O
seu alcance é global: uma mulher indiana, Afsha Jabeen, que está a ser
investigada por promover o Estado Islâmico, disse às autoridades indianas que
seguia os discursos e textos de Rahman, segundo notícias publicadas na Índia.
Depois
de o Daesh ter declarado o califado, em Junho de 2014, Rahman usou os seus
sermões online para saudar os que “derramaram o seu sangue” e “lutaram a jihad”
para criar o primeiro califado desde que o califado otomano foi abolido, em 1924.
“Há 90 anos que as pessoas esperavam um califado”, comentou num discurso a 2 de
Julho de 2014, publicado no YouTube. “Algumas pessoas estiveram à espera e
algumas pessoas estiveram a trabalhar pelo califado. Esta é a diferença entre
aquele que esteve sentado à espera na mesquita, rezando e esperando que ele
caísse do céu, e aqueles que se têm sacrificado e derramado o seu próprio
sangue, a sua saúde, e que vão para a prisão, viajam para os territórios,
combatem a jihad, trabalham para estabelecer o califado na Terra!”
Rahman
diz que também ele adoraria levar a família para o califado, mas queixa-se de
que as autoridades britânicas lhe tiraram o passaporte.
“Falo
como um dever a Deus”
Numa
quinta-feira, a 7 de Agosto de 2014, Rahman estava ao computador publicando a
sua torrente habitual de tweets e posts no Facebook. Criticou os EUA, twitando
“As pessoas têm visto demasiados filmes de Hollywood e acham que os EUA são
imbatíveis”. Depois, chegou-lhe uma mensagem de @lionofthed3s3rt, a conta no
Twitter de Mohammed Hamzah Khan, um adolescente americano de um subúrbio de
Chicago.
Khan,
de 19 anos, estava a pensar ir para a Síria com a irmã e o irmão mais novos
para se juntar aos combatentes radicais. Mas primeiro queria fazer umas
perguntas a Rahman sobre o autoproclamado Estado Islâmico. Usando uma mistura
de árabe e inglês, Khan perguntou se era suficiente pregar sobre o califado a
muçulmanos que não estavam disponíveis para se juntarem: “o q dizes [às] pss q
defendem [que pregar] é mais importante agora?” A resposta de Rahman foi
imediata e directa, e nos 40 minutos seguintes enviou oito tweets ao
adolescente, dizendo-lhe que era seu “dever” como muçulmano “aceitar” e
“obedecer” ao “califa” — o líder do EI, Abu
Bakr al-Baghdadi. “É [preciso] declarar e prestar [um juramento de
obediência] imediatamente.”
Os
seus tweets davam a justificação religiosa para a obrigação de obediência ao
califa. Mas nenhum deles dizia especificamente a Khan que devia ir para a
Síria. E acrescentava que jurar obediência era uma questão de “cada um, de
acordo com as suas próprias capacidades”.
Menos
de dois meses depois, Khan e os irmãos mais novos, de 17 e 16 anos, foram
detidos no Aeroporto Internacional de O’Hare a caminho da Síria. No mês
passado, Khan deu-se como culpado de dar apoio material a uma organização
terrorista e enfrenta uma pena de 15 anos de prisão.
Charlie
Winter, investigador da Quilliam Foundation, diz que os tweets se encaixam
perfeitamente no padrão de Rahman. “Ele está a dar a justificação ideológica
para a adesão a um grupo como este”, afirma Winter. “Faz a pessoa com quem está
a falar sentir-se muito especial porque ele é muito conhecido. O acesso a
líderes importantes do EI faz com que a sua estratégia de alcance seja muito
mais eficiente.”
No
café de Londres, quando lhe mostramos uma cópia da sua troca de tweets com
Khan, Rahman diz lembrar-se dele. Faz notar que em parte alguma diz a Khan para
ir para a Síria. Perguntamos-lhe o que sente por, dois meses depois de ter dito
a Khan para prestar obediência a Baghdadi, o jovem americano tenha tentado
chegar à Síria. “Fico indiferente”, responde. “Não estou a responder a
perguntas para tentar ou inspirar as pessoas nem nada desse tipo. Falo por
dever islâmico. Falo por dever a Deus.” Diz que não se sente culpado pela
detenção de Khan. “Não tenho nada que me sentir culpado”, afirma. “Fizeram-me
uma pergunta, eu respondi a uma pergunta. Se isso te inspira a ir viver para
lá, é contigo.”
Rahman
foi preso em Setembro de 2014 acusado de “incitar ao terrorismo” e de pertencer
a um grupo proibido; diz que nunca o informaram de que grupo se trata. Foi
detido juntamente com Choudary e com o seu amigo de infância, Siddhartha Dhar,
também conhecido como Abu Rumayasah. Pouco tempo depois, Dhar saiu sob caução e
deixou secretamente o país juntamente com a mulher e os filhos pequenos. Em
Novembro de 2014, postou no Twitter uma fotografia dele na Síria, com o filho
recém-nascido num braço e uma espingarda no outro.
Rahman
apresentou Dhar a Bakri e encorajou a sua conversão ao islão. Agora, Dhar é
um importante porta-voz na Internet e propagandista do Estado Islâmico, e o seu
velho amigo saúda-o através do Twitter.
Há
dois meses, as autoridades britânicas voltaram a deter Rahman e Choudary e
juntaram novas acusações de “incitamento ao apoio” ao Estado Islâmico através
de sermões divulgados na Internet. Depois de um mês na prisão, Rahman pagou
uma caução e aguarda o julgamento em liberdade. Diz que chegou a ter um pequeno
negócio em que ajudava as pessoas em contabilidade e web design, mas que a sua
fama torna impossível angariar clientes. Ele e a mulher, e os seus três filhos,
voltaram a viver com a mãe, na pequena casa onde ele cresceu.
O
Governo do primeiro-ministro David Cameron anunciou recentemente um novo
combate ao extremismo e aos que radicalizam fiéis. O executivo tem sido louvado
por muitos, mas também criticado por privilegiar a segurança em nome da
liberdade de expressão e das liberdades pessoais há muito consagradas.
“Vemos
a frustração nos olhos deles: ‘Estes tipos não violam a lei, por isso como é
que conseguimos travá-los?”, lança Rahman. “Acho que houve muita pressão para
se dizer ‘Ouçam, temos de acusar estes tipos de alguma coisa’.”
Doug
Weeks, investigador convidado da London Metropolitan University, que
entrevistou exaustivamente Rahman e Choudary, é da opinião de que a acusação
será o “grande teste” numa altura em que o Reino Unido tenta equilibrar
segurança e liberdade de expressão: “Este julgamento pode ser um momento
definidor da lei britânica.”
Exclusivo
PÚBLICO/The Washington Post
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