quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Quão longe estamos da valsa!




Quão longe estamos da valsa!
Achei o texto de Alberto Gonçalves deste último domingo de tal modo violento que resolvi pôr-me a ler os comentários com que foi mimoseado. De facto, a imundície comentarista e alarve é triste coisa de ver, embora alguns o apoiem, sem, contudo, o corroborarem, receosos de enveredarem no trilho das afirmações altivas e perigosas, com que corajosamente aquele aponta os desmandos de um governo manipulado por uma esquerda cujo estar no seu mundo português se pauta pelas ressabiadas frases acompanhadas pela entoação em falsete do camarada Cunhal - caso do deputado João Oliveira: ao ouvi-lo, julgo-me embalada como nos anos setenta, pelo disparar aflautado da sua lição decorada, que toda ela apita, fluida e rápida, como a do velho chefe.
Alberto Gonçalves é, naturalmente, uma cabeça pensante que conhece os cordelinhos por que se movem as personagens deste nosso tablado de falcatrua e ódio, que não esmoreceu ainda, pois as greves aí estão, na mesma, prejudiciais e infames - ao país e suponho que aos que as fazem, a menos que o partido indemnize os seus grevistas. Transcrevo da internet dois dados recentes comprovativos:

«Operadores do porto de Lisboa chamam “irracional” à greve dos estivadores, que se pode prolongar no tempo»
«13/11/2015, Ao mesmo tempo que o sindicato de estivadores admite fazer "greves contínuas", os operadores afirmam que ainda estão a recuperar de paralisações grandes em 2012 e 2013.
«Maior armador do mundo abandona porto de Lisboa devido à greve.»
«15 Dez 2015 Dinamarqueses da Maersk, seguiram Hapag-Lloyd, e fugiram da greve dos estivadores.»

Ao ouvir António Costa, contudo, indiferente a críticas, esclarecendo com bondade os interlocutores de esquerda, exibicionistas fingindo aplicação preocupada pelas coisas do país, não posso deixar de concordar com todos os argumentos que Alberto Gonçalves expende, quer a respeito do PS quer a respeito da plêiade iluminada que o cerca e dispõe, quer de todos nós indiferentes e passivos, à espera de resultados práticos, que melhor é “esperar por D. Sebastião, quer venha ou não”.
Feira de Horrores, se chama o seu texto de indignado repúdio. Quanto ao artigo seguinte  - “Tuitar contra a realidade” ele é bem espelho da cobardia ocidental na aceitação deste envolvimento do ocidente por um oriente asqueroso que vai penetrando, a coberto de uma fuga aterrorizada ao seu próprio caos, e a cujos desmandos de violência bestial o ocidente poltrão responde com brandas frases de repúdio afectuosamente superior, a merecer imediata explosão tuiteira. Daí que retire um comentário da Internet ao artigo de Alberto Gonçalves, que me parece justo:

Comentário de Alice Veiga
Feira de Horror = Portugal
Feira de Hipocrisia = França
Feira de Racismo = Reino Unido
Feira de Quero posso e Mando = Alemanha
Feira de Garoto/Brincadeira = Espanha
Feira de Caloteiro = Grécia
Feira de Fingir que sou muito Amigo = Suécia
Feira que protege os €s do Pulha = Suíça
Etc.

Feira de Horrores
Alberto Gonçalves
DN,13/12/15
Começo a cansar-me de esperar que cada avanço da extrema-direita em França suscite nos nossos media o júbilo dedicado à extrema-esquerda indígena. Com a Frente Nacional, força hoje discutivelmente antidemocrática, tudo é perigo e tudo é sombra. Com a sujeição do PS ao PCP e ao Bloco, forças evidentemente antidemocráticas, há quedas de muros, fins de tabus, respeito pela vontade das massas, foguetório e felicidade a rodos. É curioso que as exactas pessoas que temem pelo futuro dos franceses aplaudam as calamidades garantidas para o futuro dos portugueses. E é ainda mais estranho que sejam portugueses a fazê-lo. Se calhar com razão, não falta por aí gente a achar que merecemos as abundantes desgraças que nos sucederem. E a desejar as desgraças. E a vestir as desgraças com os trajes da "legitimidade" e da "normalidade".
Talvez seja "legítimo", mas não é "normal" que, a troco da sobrevivência de uma nulidade, os deputados do PS renunciem a interesses ou convicções históricas e fujam da celebração do 25 de Novembro como fugiriam da peçonha.
Talvez seja "legítimo", mas não é "normal" que a espécie de governo que nos caiu em cima justifique a subida do salário mínimo mediante um "estudo" (!) coordenado pelo ex--sindicalista Carvalho da Silva, que após lutar durante décadas pela ruína colectiva emergiu com o belo título de sociólogo a serviço de uma instituição empenhada na exaltação das ditaduras "populares" da América Latina.
Talvez seja "legítimo", mas não é "normal" que a carroça que de facto puxa a "maioria parlamentar" - o PCP, escusado acrescentar - lamente publicamente a vitória eleitoral das "forças contra-revolucionárias" na Venezuela, enquanto manifesta inequívoco apoio ao "Grande Pólo Patriótico" (os maluquinhos que tomaram conta daquilo e que, quer o povo goste quer não, continuarão a desprezar o reles voto até à implantação definitiva do comunismo e da fome).
Talvez seja "legítimo", mas não é "normal" que as crianças do Bloco procurem acelerar o obscurantismo que sempre perseguiram através da consagração da homeopatia e da "medicina tradicional chinesa" (?), passo indispensável para acabarmos a ler o destino nas entranhas dos bichos (se o PAN deixar).
Talvez seja "legítimo", mas não é "normal" que, nas escassas semanas que o governo leva em funções, diversas "personalidades" (i.e. criaturas que nunca moveram uma sobrancelha sem subvenção estatal) irrompam a exigir o controlo da opinião publicada.
Talvez seja "legítimo", mas não é "normal" que se engendre um candidato presidencial do calibre do Prof. Nóvoa, o autodesignado "saca-rolhas" que ambiciona semear debates sobre a "cultura" e a "Europa", e cujo corpo, cito, é todo ele Minho e Norte.
Ou talvez tudo isto seja "normal". O que não o devia ser é a descontracção com que o país, das televisões aos transeuntes, contempla tamanha feira de horrores. Não tarda, país e feira não se distinguem. Em declarações ao Expresso, Marine le Pen confessou gostar dos portugueses. A senhora não regula mesmo bem: nem os portugueses gostam.

Segunda-feira, 7 de Dezembro
Tuitar contra a realidade
A estratégia do Ocidente contra o terrorismo evolui sem parança. Até há pouco, digamos até aos crimes de San Bernardino, Califórnia, a técnica utilizada era a tradicional: a cada matança obviamente perpetrada em nome de Alá, media e políticos "responsáveis" começavam por fingir que aquilo era um acontecimento fortuito e adiavam tanto quanto possível referir as ligações dos assassinos ao islão. Quando finalmente se tornava embaraçoso manter o estado de negação, lá aparecia um editorial a culpar a venda livre de armas, um discurso a apelar à fraternidade universal, um ensaio académico sobre o fanatismo religioso em sentido muito genérico e nada ofensivo para uma religião em particular.
As coisas mudaram. Agora, pelos vistos, já não há embaraço que nos impeça de aguentar a negação por tempo indefinido. Há dias, um sujeito que gritara "Isso é pela Síria!" e apunhalara três pessoas numa estação do metropolitano londrino viu-se repreendido por uma das testemunhas: "Tu não és muçulmano, pá." A frase, como usa dizer-se, tornou-se viral. Em questão de horas, o Twitter em peso desatou a publicar a hashtag (não me perguntem) #YouAintNoMuslimBruv. Segundo um frequentador da dita "rede social", tratou-se da "resposta mais londrina ao ataque que se possa imaginar". Outro proclamou a hashtag perfeita, dado que é "real", "inclusiva" e "enfraquece a causa terrorista". No fundo, toda a gente ficou feliz, excepto talvez as vítimas e, com certeza, o terrorista.
Daqui para a frente, sempre que um psicopata, perdão, um jihadista rebentar algures com duas dúzias de inocentes, será corrido a hashtags que lhe recusam a própria identidade. O homenzinho bem poderá berrar que frequenta a mesquita (#IssoQueriasTu) e que venera o Profeta (#NãoHáDúvida) e que recita o Corão (#DevesRecitarDeves) e que vai a Meca uma vez por ano (#SóSeForesANado) e que possui documentos a comprovar a filiação no Estado Islâmico, com estágio remunerado na Síria e tal (#ContaEssaHistóriaAOutro). Nada nos convencerá da sinceridade da sua crença. Claro que, enquanto punimos com a humilhação os homicidas que, coitados, julgam ser muçulmanos, morreremos que nem tordos. Mas vale a pena. Entretanto, proponho lançarmos a hashtag #AosOcidentaisNinguémTomaPorParvos. E, de seguida, acreditarmos nela. 


Nenhum comentário: