Quão longe estamos da valsa!
Achei o texto de Alberto Gonçalves deste último
domingo de tal modo violento que resolvi pôr-me a ler os comentários com que
foi mimoseado. De facto, a imundície comentarista e alarve é triste coisa de
ver, embora alguns o apoiem, sem, contudo, o corroborarem, receosos de enveredarem
no trilho das afirmações altivas e perigosas, com que corajosamente aquele
aponta os desmandos de um governo manipulado por uma esquerda cujo estar no seu
mundo português se pauta pelas ressabiadas frases acompanhadas pela entoação em
falsete do camarada Cunhal - caso do deputado João Oliveira: ao ouvi-lo,
julgo-me embalada como nos anos setenta, pelo disparar aflautado da sua lição
decorada, que toda ela apita, fluida e rápida, como a do velho chefe.
Alberto Gonçalves é, naturalmente, uma cabeça pensante
que conhece os cordelinhos por que se movem as personagens deste nosso tablado
de falcatrua e ódio, que não esmoreceu ainda, pois as greves aí estão, na
mesma, prejudiciais e infames - ao país e suponho que aos que as fazem, a menos
que o partido indemnize os seus grevistas. Transcrevo da internet dois dados recentes
comprovativos:
«Operadores do porto
de Lisboa chamam “irracional” à greve dos estivadores, que se pode prolongar no
tempo»
«13/11/2015, Ao mesmo tempo que o
sindicato de estivadores admite fazer "greves contínuas", os
operadores afirmam que ainda estão a recuperar de paralisações grandes em 2012
e 2013.
«Maior armador do mundo abandona porto de Lisboa devido à greve.»
«15 Dez 2015 Dinamarqueses
da Maersk, seguiram Hapag-Lloyd, e fugiram da greve dos estivadores.»
Ao ouvir António Costa, contudo, indiferente a
críticas, esclarecendo com bondade os interlocutores de esquerda, exibicionistas
fingindo aplicação preocupada pelas coisas do país, não posso deixar de
concordar com todos os argumentos que Alberto Gonçalves expende, quer a
respeito do PS quer a respeito da plêiade iluminada que o cerca e dispõe, quer
de todos nós indiferentes e passivos, à espera de resultados práticos, que
melhor é “esperar por D. Sebastião, quer venha ou não”.
Feira de Horrores, se chama o seu texto de indignado repúdio. Quanto ao artigo
seguinte - “Tuitar contra a realidade”
ele é bem espelho da cobardia ocidental na aceitação deste envolvimento do
ocidente por um oriente asqueroso que vai penetrando, a coberto de uma fuga
aterrorizada ao seu próprio caos, e a cujos desmandos de violência bestial o
ocidente poltrão responde com brandas frases de repúdio afectuosamente superior,
a merecer imediata explosão tuiteira. Daí que retire um comentário da Internet ao
artigo de Alberto Gonçalves, que me parece justo:
Comentário de Alice Veiga
Feira de Horror = Portugal
Feira de Hipocrisia = França
Feira de Racismo = Reino Unido
Feira de Quero posso e Mando = Alemanha
Feira de Garoto/Brincadeira = Espanha
Feira de Caloteiro = Grécia
Feira de Fingir que sou muito Amigo = Suécia
Feira que protege os €s do Pulha = Suíça
Etc.
Feira de Hipocrisia = França
Feira de Racismo = Reino Unido
Feira de Quero posso e Mando = Alemanha
Feira de Garoto/Brincadeira = Espanha
Feira de Caloteiro = Grécia
Feira de Fingir que sou muito Amigo = Suécia
Feira que protege os €s do Pulha = Suíça
Etc.
Feira de Horrores
Alberto Gonçalves
DN,13/12/15
Começo
a cansar-me de esperar que cada avanço da extrema-direita em França suscite nos
nossos media o júbilo dedicado à extrema-esquerda indígena. Com a Frente
Nacional, força hoje discutivelmente antidemocrática, tudo é perigo e tudo é
sombra. Com a sujeição do PS ao PCP e ao Bloco, forças evidentemente
antidemocráticas, há quedas de muros, fins de tabus, respeito pela vontade das
massas, foguetório e felicidade a rodos. É curioso que as exactas pessoas
que temem pelo futuro dos franceses aplaudam as calamidades garantidas para o
futuro dos portugueses. E é ainda mais estranho que sejam portugueses a
fazê-lo. Se calhar com razão, não falta por aí gente a achar que merecemos as
abundantes desgraças que nos sucederem. E a desejar as desgraças. E a
vestir as desgraças com os trajes da "legitimidade" e da
"normalidade".
Talvez
seja "legítimo", mas não é "normal" que, a troco da
sobrevivência de uma nulidade, os deputados do PS renunciem a interesses ou
convicções históricas e fujam da celebração do 25 de Novembro como fugiriam da
peçonha.
Talvez
seja "legítimo", mas não é "normal" que a espécie de
governo que nos caiu em cima justifique a subida do salário mínimo mediante um
"estudo" (!) coordenado pelo ex--sindicalista Carvalho da Silva, que
após lutar durante décadas pela ruína colectiva emergiu com o belo título de
sociólogo a serviço de uma instituição empenhada na exaltação das ditaduras
"populares" da América Latina.
Talvez
seja "legítimo", mas não é "normal" que a carroça que de
facto puxa a "maioria parlamentar" - o PCP, escusado acrescentar -
lamente publicamente a vitória eleitoral das "forças
contra-revolucionárias" na Venezuela, enquanto manifesta inequívoco apoio
ao "Grande Pólo Patriótico" (os maluquinhos que tomaram conta daquilo
e que, quer o povo goste quer não, continuarão a desprezar o reles voto até à
implantação definitiva do comunismo e da fome).
Talvez
seja "legítimo", mas não é "normal" que as crianças do
Bloco procurem acelerar o obscurantismo que sempre perseguiram através da
consagração da homeopatia e da "medicina tradicional chinesa" (?),
passo indispensável para acabarmos a ler o destino nas entranhas dos bichos (se
o PAN deixar).
Talvez
seja "legítimo", mas não é "normal" que, nas escassas
semanas que o governo leva em funções, diversas "personalidades"
(i.e. criaturas que nunca moveram uma sobrancelha sem subvenção estatal)
irrompam a exigir o controlo da opinião publicada.
Talvez
seja "legítimo", mas não é "normal" que se engendre um candidato
presidencial do calibre do Prof. Nóvoa, o autodesignado "saca-rolhas"
que ambiciona semear debates sobre a "cultura" e a
"Europa", e cujo corpo, cito, é todo ele Minho e Norte.
Ou
talvez tudo isto seja "normal". O que não o devia ser é a descontracção
com que o país, das televisões aos transeuntes, contempla tamanha feira de
horrores. Não tarda, país e feira não se distinguem. Em
declarações ao Expresso, Marine le Pen confessou gostar dos portugueses. A
senhora não regula mesmo bem: nem os portugueses gostam.
Segunda-feira,
7 de Dezembro
Tuitar contra a realidade
A
estratégia do Ocidente contra o terrorismo evolui sem parança. Até há pouco,
digamos até aos crimes de San Bernardino, Califórnia, a técnica utilizada era a
tradicional: a cada matança obviamente perpetrada em nome de Alá, media e
políticos "responsáveis" começavam por fingir que aquilo era um
acontecimento fortuito e adiavam tanto quanto possível referir as ligações dos
assassinos ao islão. Quando finalmente se tornava embaraçoso manter o estado de
negação, lá aparecia um editorial a culpar a venda livre de armas, um discurso
a apelar à fraternidade universal, um ensaio académico sobre o fanatismo
religioso em sentido muito genérico e nada ofensivo para uma religião em
particular.
As
coisas mudaram. Agora, pelos vistos, já não há embaraço que nos impeça de
aguentar a negação por tempo indefinido. Há dias, um sujeito que gritara
"Isso é pela Síria!" e apunhalara três pessoas numa estação do metropolitano
londrino viu-se repreendido por uma das testemunhas: "Tu não és muçulmano,
pá." A frase, como usa dizer-se, tornou-se viral. Em questão de horas, o
Twitter em peso desatou a publicar a hashtag (não me perguntem)
#YouAintNoMuslimBruv. Segundo um frequentador da dita "rede social",
tratou-se da "resposta mais londrina ao ataque que se possa
imaginar". Outro proclamou a hashtag perfeita, dado que é
"real", "inclusiva" e "enfraquece a causa terrorista".
No fundo, toda a gente ficou feliz, excepto talvez as vítimas e, com certeza, o
terrorista.
Daqui
para a frente, sempre que um psicopata, perdão, um jihadista rebentar algures
com duas dúzias de inocentes, será corrido a hashtags que lhe recusam a própria
identidade. O homenzinho bem poderá berrar que frequenta a mesquita
(#IssoQueriasTu) e que venera o Profeta (#NãoHáDúvida) e que recita o Corão
(#DevesRecitarDeves) e que vai a Meca uma vez por ano (#SóSeForesANado) e que
possui documentos a comprovar a filiação no Estado Islâmico, com estágio
remunerado na Síria e tal (#ContaEssaHistóriaAOutro). Nada nos convencerá da
sinceridade da sua crença. Claro que, enquanto punimos com a humilhação os
homicidas que, coitados, julgam ser muçulmanos, morreremos que nem tordos. Mas
vale a pena. Entretanto, proponho lançarmos a hashtag
#AosOcidentaisNinguémTomaPorParvos. E, de seguida, acreditarmos nela.
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