Solta, mas agarrada a uns
conceitos que parecem de peso, hélas!:
CONVERSA SOLTA
Eu – Boa tarde, Professor!
Tem passado bem?
Ele – Olá, boa tarde! Tudo
bem, felizmente. E consigo?
Eu – Tudo bem, também.
Quero dizer: tudo bem de saúde; quanto à situação politica...
Ele – Você esta mesmo
chateado com o Governo actual.
Eu – Considero-o apenas
ilegítimo, composto por usurpadores que prosseguem políticas erradas. Só isso.
Ele – Só isso.
Eu – Pior: acho que as
políticas que estão a desenvolver, para além de erradas, são torpes.
Ele – Porquê? Você
concordava com a austeridade?
Eu – Claro que concordava.
E também creio que não haverá alternativa a um modelo de desenvolvimento que se
baseie na produção em vez de no consumo.
Ele – Mas o consumo é um
motor formidável de desenvolvimento.
Eu – Oh Professor! O que
vale é que o Senhor tem cabelo porque me apetece dizer que isso não lembra nem
ao careca.
Ele – Você acha que não é?
Eu – Claro que acho que não
é. E acho mesmo que é a razão da grande desgraça que nos tem levado
ciclicamente a pedir ajuda internacional. A pedir esmola.
Ele – Como assim?
Eu – Mas o Senhor é que é
Professor e eu é que tenho que dizer como é?
Ele – Não estou aqui como
Professor, estou como amigo, à conversa sobre um tema que nos interessa aos
dois. E eu ensino outras matérias.
Eu – Ah sim, quais?
Ele – Gestão financeira.
Eu – Mas também sabe de
macro ou dedica-se só à micro?
Ele – Ganho a vida com a
micro mas é da macro que gosto.
Eu – Também andei nessa
durante grande parte da minha vida activa. Até que fui convidado para um
trabalho sobretudo macro. Mas continuando, acho que num país com uma das
maiores propensões marginais à importação, o consumo só nos leva à bancarrota,
nunca ao desenvolvimento.
Ele – Esse conceito de
propensão marginal à importação não existe.
Eu – Existe, sim. A partir
do momento em que eu o refiro, existe.
Ele – E no que consiste?
Eu – No mesmo que definiu
Ricardo relativamente à propensão dele: qual o acréscimo de importação por cada
unidade monetária a mais em poder do consumidor?
Ele – Sim, sou obrigado a
reconhecer que é um rácio interessante.
Eu – Então, veja o consumo
a crescer pela via da reposição do poder de compra de grupos sociais tão
significativos como os Funcionários Públicos, as importações a disparar, as
balanças comercial, de transacções correntes e de pagamentos a agravarem os
défices ou a perderem os superávites, os bancos a esgotarem a capacidade de
endividamento externo...
Ele – Caramba! Você está
mesmo pessimista. E acha que é pela contenção do consumo que os problemas se
resolvem?
Eu – Não todos,
evidentemente. O relançamento da produção interna é fundamental mas isso
resulta da decisão da malha empresarial produtiva, não de políticas concretas
que decretem que se passa a exportar mais. O que depende de políticas públicas
tem sobretudo a ver com a gestão da despesa pública e, claro, está, com a carga
fiscal.
Ele – Então, como pode um
Governo promover a exportação?
Eu – Pode fazê-lo de muitas
formas mas muito recentemente tivemos o exemplo que os empresários deram não se
atemorizando com a redução do mercado doméstico e atirando-se para os mercados
externos. E todos os meses vimos as exportações a crescer...
Ele – Até ao infinito.
Eu – Meses houve em que se
conseguiram saldos positivos nos bens e serviços, coisa que não acontecia há
muito, muito tempo. Éramos até muitos que tínhamos os défices como endémicos.
Mas a contenção do consumo interno mostrou que, afinal, temos produções mais
competitivas do que imaginávamos e uma classe empresarial que não perde tempo
com choraminguices.
Ele – Mas não se pode
descurar o social.
Eu – É claro que não. Mas o
social não pode esmagar tudo o mais. O mastodôntico Estado Social a que se
chegou impede o desenvolvimento produtivo pelo esmagamento fiscal e castra a
iniciativa porque promove o «dolce fare niente».
Ele – Quem o ouvir falar até
julga que Você não gosta de ter Saúde e Educação à borla...
Eu – É claro que me sabe
muito bem mas, na verdade, sinto-me com pleno direito a essas mordomias tal a
asfixia fiscal a que estou sujeito.
Ele – Mas isso é a
social-democracia.
Eu – Pois, também é! Mas eu
sou democrata cristão. Azar deles.
Ele – E mais quê?
Eu – Mais... que o
Professor hoje não está para conversas e isto está quase um monólogo.
Ele – Sim, hoje estou muito
lacónico. A ver se me inspiro para amanhã continuarmos...
Eu – Muito bem, até amanhã e
inspire-se! Da próxima, o show é seu.
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