Um artigo de Henrique Monteiro, do Expresso de 30/1,
já obsoleto, mas que guardo, como mais um elemento de síntese histórica
importante destes tempos, na sua análise de um homem e de um país que o aceita,
colaborando na falcatrua. Quanto à questão sobre a vitória de Marcelo
favorecedora de Costa, eu não tenho dúvidas disso. Com Passos Coelho, ambos andariam
às turras, Marcelo, pródigo em cordialidade e rodopio cumprimentador, Passos
mais reservado nos afectos, no seu propósito de recauchutagem primeira, em
função de uma honestidade inexplicavelmente rebatida pelos arautos do arrecada
e segue, à custa do alheio. Com Costa, não me custa a crer nas cedências de
Marcelo a esse e aos seus e suas compinchas, já que todos esses, ao usurparem
um lugar que lhes não pertencia, alinham no mesmo princípio do sem escrúpulo no
pagamento das dívidas do país, coisa de somenos. A verdade é que o partido
socialista ajudou a empurrar Costa para o lugar onde está, e com esse, outros
do grupo. João Soares, por exemplo, que não deixa os créditos paternos por mãos
alheias, aí está a eleger um filho seu para um cargo bom, como ele próprio
também se reservou para si, com a elevação de Costa. Que ele, João, tão bem
defende, tal como o sr. Joãozinho das Perdizes lutava pelo seu, nos tempos de Madalena,
a Morgadinha dos Canaviais. Ou mesmo os Gouvarinhos das tiradas convencionais
esclarecedoras e roupa interior lavada e de bom preço.
Sampaio da Nóvoa já foi, e ainda bem, que razoável
Gouvarinho também deveria vir a ser, no caso de ter sido. Eleito, quero dizer. Mas já habemus
papam. Um dia, Tino de Rans também terá oportunidade, que todos trabalhamos
para o estilo Palma Cavalão, da sua especialidade.
PPF. Passado, Presente, Futuro. Ou Perdeu Por Faltas, tanto faz, que as nossas siglas são
inexpressivas. E ambíguas.
Henrique Monteiro
Expresso, 30/1/16
Já é preciso um certo esforço de memória para nos
lembrarmos de que António Costa se candidatou a líder do PS por entender que as
"vitórias" da anterior liderança eram 'poucochinho'. Mais lembrança é
ainda necessária para recordar que, desde que chegou a líder, o PS averbou três
derrotas: Madeira, Legislativas e Presidenciais.
Foi deste modo
que, tendo perdido as eleições para o Parlamento que, em princípio
estavam ao seu alcance, arranjou forma de ser primeiro ministro.
Por cá, estar no poder é sempre uma vantagem. Contribuem
muitas coisas para isso, incluindo nós, jornalistas, e a comunicação social. Assim
sendo, é normal que tenham surgido as inteligentes teses de que a vitória de
Marcelo nas presidenciais foi,
igualmente, uma vitória de Costa. Não nego, pelo contrário, escrevi-o, que
Sampaio da Nóvoa seria o pior Presidente que o primeiro-ministro poderia ter (a
menos que ele esteja mesmo convicto de que o caminho certo é o que leva). Mas
daí a ver na vitória do adversário, com o consequente definhamento do seu
próprio partido (nas presidenciais andou pelos 28%) uma vitória, vai um passo
gigantesco.
As trapalhadas em que se mete para reverter as medidas
em que o PS, por si só, jamais mexeria, estão a dar as previsíveis
complicações. “Falar grosso” à Europa sabe-se que não passa de propaganda.
Mas, atenção, a propaganda é da melhor. Não tenho
memória de um líder com três derrotas consecutivas continuar como líder, e
ainda para mais primeiro ministro.
Se a minha crença desse para tanto, diria que é um desígnio
de Deus.
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