O Público do dia 19/2/15 traz
um artigo de Vasco Pulido Valente - «Aventuras de um papa desconhecido» - com
informações precisas sobre Pio XI – por antífrase «impio» - papa ambicioso de
poder, de riqueza, de um Estado autónomo que conquistou – (o «Vaticano») – que encorajou
a política fascista de Mussolini, em jeitos de crueldade, com anti-semitismo,
no impulso à perseguição aos Judeus que Hitler tão depuradamente aplicaria, com
censura preconceituosa aos costumes que ultrapassassem os limites convencionais
da sua imposição cristã. Um breve estudo que nos ilustra bem e faz arrepiar,
pelo que traz de evocação de algo sinistro, de que fomos adeptos menos
ferrenhos, é certo, já que de ferrenhos só fomos outrora na aventura
descobridora, ou agora na aventura futebolística com uma certa inércia cultural,
é certo, permanentemente ferrenha, tal como a dependência económica do estrangeiro, salvo em tempos de mais contenção
e zelo.
Nem por ser papa – muito pelo
contrário, talvez por o ser, já que outros houve em tempos inquisitoriais de
grande dimensão depuradora, (embora possamos atribuir maldades assim ao próprio
Jeová dos tempos bíblicos tão castigadores dos homens) – nem por ser papa,
repito, deixou de defender ruindades, com eficiência e estudo, que, por ser
papa, tinha forçosamente que possuir.
Mas a bestialidade, afinal
sempre existiu e continua, cada vez com menos estudo. Um outro artigo do
Público, do dia 20/2, de Pedro Reis, informa, em título (p. 27), sobre
Terrorismo, que «Há cada vez mais crianças a
morrer em nome do DAESH”, que um «Estudo da Universidade do Estado da Geórgia analisou dados
de 89 crianças que morreram a combater nas fileiras dos jihadistas”, que «O
autodesignado Estado Islâmico (EI) tem mobilizado jovens e crianças a uma
velocidade sem precedentes», que «o que estão a fazer é
trazê-las, doutriná-las, treiná-las, passando muito tempo a incutir-lhes a
ideologia jhiadista», que «Os pais estão a possibilitar o
acesso da organização (Daesh) às suas
crianças», que «As crianças
não estão a ser raptadas nem coagidas. Na maior parte das vezes vemos crianças
com um enorme sorriso.»
Não há, pois, tempo a perder
em estudos, para se aprender a criar o próprio Mal, o Mal sem estudo, sem
construção do intelecto, como um pneu que a bomba de ar vai enchendo em sopro.
Agora temos o Mal apenas, o Mal pelo Mal, sem Flores do Mal, sem requintes de
intelecto, o Mal infiltrado pela bomba de ar no corpo pequeno, fanatizado ou
não, que sabe que tem poder para matar, e isso é a essência da sua Vida
– Matar. Evolução.
Leiamos sobre o Papa, que
muito estudou para o requinte maléfico do seu poder:
Aventuras
de um papa desconhecido
Público, 19/02/2016
A literatura histórica
contemporânea estudou minuciosamente o pontificado de Pio XII, mas tem ignorado
o pontificado de Pio XI (Achille Ratti), que foi eleito no mesmo ano em que
Mussolini subiu ao poder (1922 ) e viveu até 1939. E, no entanto, de certa
maneira, Ratti contribuiu mais do que Pio XII para a instalação do fascismo e
do nazismo na Europa. O Vaticano de Pio XI deu uma ajuda crucial para o advento
e estabilidade do regime de Mussolini; a Acção Católica cooperou
entusiasticamente com a polícia na eliminação de toda a espécie de opositores
ao Duce (chegou mesmo a encobrir alguns crimes); e principalmente tomou a
iniciativa ideológica e política na perseguição aos judeus. Porquê? A troco de
quê?
A troco de interesses institucionais que pouco valiam
e de uma revanche anacrónica que só o clero italiano partilhava, queria um
Estado autónomo (recebeu o Vaticano), queria que o catolicismo fosse a religião
oficial de Itália, queria liberdade para a Acção Católica e queria dinheiro.
Mussolini com tudo ou quase tudo concordou e ao longo do tempo acrescentou
alguns prémios por bom comportamento: cruzes nas salas de aula, penas para
as mulheres que mostravam as costas nuas (Para não falar em parte do peito,
coisa que perturbava particularmente Ratti) e uma censura apertada ao cinema,
ao teatro e à imprensa, que por qualquer razão desagradavam ao Vaticano. No
fundo, a Igreja aspirava a um regime tão opressivo como o de Mussolini, desde que ele estivesse sob o seu
controlo, uma política ingénua e torpe que durou para lá da queda do ditador.
Seja como for, o pior que o Vaticano fez nessa época
de horror foi exprimir e popularizar o Anti-semitismo latente na Europa. A
revista dos Jesuítas «La Civiltá Católica», que o Papa de facto dirigia, e o «L’Osservatore
Romano» começaram a publicar entre 1920 e 1930 a propaganda nazi, que na
Alemanha teve de esperar por 1933. O mito da conspiração dos judeus com o
comunismo, o capitalismo, o liberalismo e a Maçonaria apareceu em Roma antes de
se tornar corrente na Alemanha e, a seguir, em Espanha. Claro que «Ratti»
recusou um racismo “biológico”. Infelizmente, nessa altura, os compromissos com
Mussolini não lhe permitiram romper claramente com a nova orientação do regime
e acabou por se resignar à lei, imposta pela insistência de Hitler, que
declarava «ariano» o povo de Itália e não permitia o casamento legal entre um
cristão e um judeu convertido. O populismo nunca levou a nada de bom.
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