Sempre associei maçonaria a nomes como Garrett,
Herculano, Pessoa, gente que eu admirava pelo bem que significaram no nosso
país, como construtores de catedrais próprias, de vitrais deixando passar a luz
da sua sabedoria e da sua arte. Por outro lado, o saber que ela se constituía
em sociedades secretas continha para mim algo de misterioso e perverso, de
rituais assustadores, caras tapadas como lera em Agatha Christie, creio que em “Os
Sete Relógios”, ou que os jornais por vezes deixavam transparecer, em que os
mundos esotéricos constituíam também temas de preocupação ideológica desses
grupos da carpintaria do mundo e das vidas, por vezes despojadas de egoísmos
próprios em prol do bem comum. Mas nada sabia e nada sei. Este artigo de Duarte
Justo foi uma surpresa para mim, sobre um nome há muito conhecido e que não
associara a práticas altruístas, a não ser em favor desses africanos de que se
mostrou camarada, posteriormente à distância, juntamente com outros amigos seus
que o ajudaram a alcandorar-se nos pontos cimeiros a que o conduziu o muito
saber e provavelmente a escadaria ornamentada da sua catedral maçónica. Gostei
de saber.
O texto de
António da Cunha Duarte Justo é, aliás, bastante esclarecedor a respeito das
práticas maçónicas, com forte tendência actual não para a elevação social, como
o era no tempo dos liberalismos, mas para a ascensão própria, agora que a
democracia já igualou misteriosamente as sociedades, e cada um defendendo-se
justamente num salve-se quem puder material, mesmo que de via maçónica.
Só uma pequena ressalva para os “portugueses
atraiçoados”, identificados por Duarte Justo exclusivamente com os “retornados”,
designação grosseira que não só afecta os portugueses que no Ultramar ajudaram
a construir Portugal, e que não esperavam a designação da parte de alguém com
pruridos de saber e de bom proceder, igualando-se às gentes de cá, de iracúndia
menos sábia e educada, mas afecta, igualmente, aqueles portugueses que, não tendo
sido “retornados”, amaram a sua pátria pluricontinental apreendida na instrução
primária, juntamente com as noções morais e cívicas necessárias à sua formatação
humana.
“A
Bem da Nação”, Sábado, 6 de Fevereiro de 2016
"PAZ, PANQUECAS E ALEGRIA"
A Maçonaria portuguesa
perdeu um dos seus grandes activistas: Almeida Santos
Almeida
Santos morreu; seu corpo esteve em câmara ardente na Basílica da Estrela sendo
enterrado no Alto de São João no dia 20.01.2016. Certamente deixou-nos uma
grande personalidade maçónica da esquerda portuguesa mas demasiado parcial para
poder ser uma personalidade portuguesa. Como empenhado na defesa de um grupo de
interesses fez muitas coisas boas e más, servido assim em demasia uma só parte
dos interesses republicanos portugueses e como actuante no processo da
descolonização seguiu mais os interesses soviéticos que os de Portugal, atraiçoando
também os interesses de Timor como atraiçoou os portugueses (retornados).
O cardeal-patriarca de Lisboa D. José Policarpo, para se precaver contra abusos da maçonaria como se deram no funeral do mação Luís Nunes de Almeida na Basílica da Estrela, avisa através de uma carta: "Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação". A nível teórico a argumentação do Cardeal é lógica e a experiência com a maçonaria portuguesa é em grande parte muito negativa se tivermos em conta a sua actuação através do Marquês de Pombal, o seu papel escuro nas invasões francesas na perseguição à Igreja e na condução da implantação da república.
O cardeal-patriarca de Lisboa D. José Policarpo, para se precaver contra abusos da maçonaria como se deram no funeral do mação Luís Nunes de Almeida na Basílica da Estrela, avisa através de uma carta: "Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação". A nível teórico a argumentação do Cardeal é lógica e a experiência com a maçonaria portuguesa é em grande parte muito negativa se tivermos em conta a sua actuação através do Marquês de Pombal, o seu papel escuro nas invasões francesas na perseguição à Igreja e na condução da implantação da república.
De
facto, a Maçonaria portuguesa contrapõe-se ao catolicismo, contrapõe-se a um
humanismo cristão empenhado no sentido de uma síntese de sentimento e razão, de
uma irmandade entre elite e povo. A maçonaria contribuiu para um humanismo
gnóstico e iluminista da humanidade, mas caracteriza-se especialmente pelo seu
carácter elitista-secreto com a pretensão de serem os arquitectos do
livre-pensamento por eles controlado nas instituições estatais, como se fossem
os arquitectos guardiães da grande liberdade fraterna com uma desigual
repartição da igualdade para assim bem viverem num mundo abstracto ao terreno.
A estratégia da maçonaria de se dedicar apenas ao fomento e forja de pessoas
que aspiram a assumir funções de poder politico-económico-jurídico, oferece
futuro especialmente a pessoas que numa sociedade se quer ver dirigida por alguns
alumiados que pressupõe a grande massa dos obscurecidos, quando seria desejável trabalhar-se no sentido de uma massa iluminada.
A
Maçonaria, ideologicamente, está mais próxima do Deus árabe, um deus ideia,
fundamentador do poder pragmático ao estilo de Maquiavel do que do Deus cristão
a viver no meio do povo. Não trabalha no sentido de um Portugal conjugado pela
complementaridade de interesses mas apenas no sentido do poder da própria
irmandade e correspondente ideologia. Sabem que quem puxa o povo são alguns por
isso preferem ir em cima do cavalo do que a seu lado!
Com o
pretexto de se erguer contra os interesses do rei e da instituição igreja
infiltrou-se nas infraestruturas do estado português, tendo mais influência
hoje nelas do que tinha antes a religião na coroa (Uma espécie de alta
burguesia em torno de uma ideia a substituir o poder da velha nobreza).
Encontram-se
em posição vantajosa em relação a outros concorrentes do poder por operarem a
partir de trincheiras secretas e invisíveis e, pelo facto de praticarem a
solidariedade no bem e no mal entre os irmãos e estarem organizados em redes de
lojas locais, nacionais e internacionais de tráfico de influências e
cumplicidade consistente porque a alto nível.
Não
quero com isto condená-los mas até compreendê-los e felicitá-los pelo facto de
saberem bem o que querem e estarem conscientes de que este mundo é governado
por estruturas de poder em que o oportunismo, a hipocrisia e o cinismo são
condições sine qua non! Como
instituição secreta de poderosos para poderosos também têm sentido e até
fascinam pessoas que querem alcançar o poder e sabem que a alma do negócio é o
segredo.
Não dá
para entender o facto de defuntos maçónicos quererem passar os últimos momentos
sobre a terra num templo católico; assim até se chega a ter a impressão, que
para serem mais completos e universais, precisam da extrema-unção católica.
Como vivemos num mundo em que o que importa é o poder, ficando o resto
para inocentes, pessoas de boa vontade e distraídos, será
de perguntar como é que Dom Policarpo pode impedir que católicos que querem
alcançar poder a todo o custo devam renunciar a tal meio! Num sector da vida
pública em que a hipocrisia e o oportunismo têm as maiores oportunidades de
determinar o decorrer da História, e a maçonaria é perita nessas questões,
talvez pudesse torna-se uma boa estratégia em benefício da classe dominada
deixar essa questão, à discrição dos pretendentes a poder; talvez deste modo a
maçonaria portuguesa se pudesse tornar mais mitigada!.
Da
experiência pessoal que tive com maçons penso que o que os movia não era este
ou aquele humanismo; no seu agir mostravam que o seu humanismo era um pretexto
para afirmação do próprio ego e meio de ascensão ao poder! Penso que o que a
Maçonaria poderá aprender da História é que quem serve apenas um determinado
grupo ou uma ideia não serve toda a humanidade. O imaginário maçónico serve-se
de uma ordem-obediência aliada a uma certa mística de ritos bem observados e
assumidos pelos arquitectos das antigas catedrais e que souberam empacotar na
sua deusa razão de tal ordem que fascina todo o interessado no poder ou quem
estiver interessado em viver nas suas sombras. A maçonaria portuguesa é grande
responsável pela ideologização empobrecedora da sociedade portuguesa;
naturalmente como elite interveniente activa na política não deixa de
apresentar obra. O que essa obra brilha na ponta deve-se em grande parte ao
impedimento do desenvolvimento das massas atendendo à estratégia seguida no
discurso público de carácter ideológico e não virado para uma argumentação da
coisa em si.
Têm uma
maneira de pensar separatista. Separam o sentimento da razão como se estes não
soubessem um do outro; parecem reservar-se ad extra a razão que lhes facilita uma maneira de
ser sobranceira como se fossem a razão de cima e o povo o sentimento de baixo;
o pensar separatista segue a tradição de um jacobinismo francês bem empacotado
que na qualidade de elite sabem bem manusear sob o manto de uma esquerda que
prega solidariedade mas que vive. Conseguiram entranhar-se no Estado moderno
seguindo despotismo iluminado à maneira do estilo da democracia grega que era
privativo de uma oligarquia privilegiada com o resto do povo a servi-los. Estão
mais habituados a servir-se do povo e não a misturar-se com ele, por isso
odeiam tanto o catolicismo institucional que com a sua miscelânea popular lhe
fazia sombra na concorrência do poder.
Eu penso tal como a maçonaria, mas precisamente ao contrário. A sua
estratégia solidária do poder de cima deveria passar pela solidariedade com o
poder de baixo. Uma nova consciência de um tempo novo deveria unir o sentimento
à razão numa consciência de que toda a vida é uma soma de interesses e que
todos os interesses devem ser complementares no sentido da criação da convivência
solidária num arraial em que todos celebram a festa.
Desculpem-me
os maçónicos bem-intencionados porque gente boa e boa gente há em todo o lado e
os maçónicos, como tudo o que é grande, fizeram muito bem e muito mal.
Desculpem-me aqueles que se sentem incomodados por não apresentar um texto no
estilo de uma política de "Paz, panquecas e alegria", para se ir
vivendo, como costumam gracejar os alemães.
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