segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A sala




Falou-se de Donald Trump e à minha pergunta preocupada sobre o que achavam das suas possibilidades como candidato à presidência, um “Que horror!” simultâneo partiu sem ambiguidade das suas vozes, não rasgando os ares, pois que falávamos educadamente em surdina, mas pelo menos perfurando-os de forma apaziguadora.
Passámos à Hillary Clinton e a nossa amiga gabou-lhe o traquejo, ou outra qualquer característica semelhante, pois que força de alma é o que admira na mulher,  mas cá por mim, a beleza do corpo deixa-me nitidamente desvanecida, desde a Brigitte Bardot, ao que a minha irmã acrescenta a voz – de Ana Moura, de quem falámos, superior à da Marisa, e mais modesta. Mas a minha irmã aproveitou a deixa sobre a Hillary para lhe lembrar carinhosamente o marido, com a minha inteira e também carinhosa anuência: «-Eu gostava muito do marido!» E logo se fez ouvir a réplica inesperada da nossa amiga, malandra, do seu traquejo social em África:
- Foi pena ele ter feito aquela coisa na sala. Podia ter ido à casa de banho.
Eu fiquei interdita, mas a minha irmã não deixou de soltar uma gargalhadinha de apreço e chegou-me o guardanapo, ao ver que eu procurava a caneta para tomar nota da frase, enquanto a nossa amiga se recostava virtuosamente na cadeira da sua seriedade, como se nada fosse com ela.
Entrou Eduardo Madeira com a mulher e a filhita e mais uma vez referimos a graça do elenco e da revelação Joana Pais Brito, a minha irmã não deixando de cumprimentar o actor, em elogio de apreço, tudo em família, desta vez a nossa amiga mais inclinada para as graças da bebé, na projecção de uma sensibilidade de tónus mais comedido, depois da sua saída bombástica.
E falou-se de Jorge Jesus, no repúdio pelo seu jeito discursivo de tratar por tu os parceiros, presentes e ausentes, na explicitação das suas razões, peculiaridade que me parecia que Eduardo Madeira poderia contrafazer, na sua excelente réplica do boçal e vaidoso treinador.
O tempo, a família, as dietas como forma de tratamento, o Mediterrâneo como armadilha, Clara Ferreira Alves e a sua prosa de rigor e brilho, foram parte de nosso café, num domingo de tempo inseguro, como o tempo que nos vai.

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