segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Evolução por cá

Um artigo de Alberto Gonçalves sobre a evolução do governo de António Costa, cuja aliança com a esquerda, jamais sonhada até há pouco, se traduziu no acordo orçamental talvez nefasto, pelas exigências que Bruxelas, não convencida da sua eficácia na adopção de medidas que o farão derrapar, não deixará de fazer, aniquilando-o. E essa perspectiva de terceiro mundismo, simboliza-o numa mulher tão falada em tempos pela energia bombástica do seu ódio ao regime de Salazar e que, na citação do articulista escreve um certo discurso de anedota, pela incongruência de observações  tão desprovidas de senso como de clareza discursiva. Isabel do Carmo se chama, fêmea portuguesa que foi bombista e prisioneira, mas condecorada por Jorge Sampaio, segundo leio na Internet, portanto auxiliar de todos os machos portugueses que, não se atrevendo a lançar a bomba do derrube, admiraram e admiram a mulher que se atreveu, e por isso hoje está ainda mais na berra do que ontem, apesar da condecoração sampaísta, agora que Costa alinhou com todas elas e todos eles – os da linha terceiro-mundista, segundo opinião de Alberto Gonçalves.
O artigo seguinte é sobre o atrevido cartaz do BE, defendendo a adopção de filhos por casais de homossexuais com a asserção de que Jesus também teve dois pais. Espécie de Charlie Hebdo às avessas, troçando do seu próprio povo que dizem defender na fome, mas de que não se importam de troçar na crença, sabendo que daí não vem bomba que lhes preste. Ou talvez eles e elas próprios já estejam abaixando-se às imposições de fanatismos mais bombásticos que por aí estão a chegar…

Isabel do Carmo e a realidade alternativa
Alberto Gonçalves
DN, 28/2/16
E quando metade da população andava convencidíssima de que em última instância o PS  nunca estabeleceria uma  aliança com os partidos comunistas? Parece que foi há décadas. Mas foi há quatro ou cinco meses, e hoje já quase ninguém se lembra de que os socialistas nem sempre foram uma filial, ou o braço político, de PCP e BE. Em Fevereiro de 2016, a extrema-esquerda aprovou em coro o Orçamento do Estado e, para efeitos práticos, assinou a nossa candidatura de adesão ao Terceiro Mundo. O dr. Costa comemora o sucesso das "alternativas".
Toda a gente dissecou o sem dúvida relevante acontecimento, uns com natural horror face ao desastre iminente, outros com o entusiasmo próprio dos ingénuos, dos fanáticos ou dos beneficiados. Por mim, não nego que o, até ver, maior indicador da loucura a que descemos mereça cada comentário. Apenas prefiro, se me dão licença, procurar essa toleima colectiva nas pequeninas coisas. Um artigo de Isabel do Carmo no Público, por exemplo.
O artigo em questão intitula-se "Impostos e gordura" e, desde que o li na quarta-feira, vem sendo, para citar a péssima literatura, uma fonte de perpétua descoberta. Raramente tão poucas linhas chegaram para arrasar as teses alusivas à evolução da espécie. Aliás, a fundadora das Brigadas Revolucionárias é especialista em esbanjar teses que mostram o atraso do espécime (notaram o espectacular trocadilho?). Ei-las.
A dona Isabel começa por louvar os "estados sociais" europeus do pós-Segunda Guerra, que nos anos 1970 ela combatia a título gracioso e de modo explosivo. Infelizmente, depois vieram Thatcher, Reagan e as trevas, traduzidas em fenómenos inéditos como o "desemprego", a "pobreza" e a "ansiedade das pessoas". A própria União Europeia, imagine-se, aderiu à moda e, em lugar dos seres humanos, desatou a servir as "mercadorias" (açúcar mascavado, torradeiras e assim, presumo). Daqui, cerca de 1980, a dona Isabel salta repentinamente para o "governo austeritário", que nós supomos ser o do PSD-CDS e que ela tem a certeza de que "tirou aos pobres e remediados" para dar a "um poder mundial sem rosto". Isto em nome dos "juros da "dívida"" e para "diminuir o "défice"", conceitos que a dona Isabel põe entre aspas, talvez por duvidar da respectiva existência, talvez para conter a sua influência nefasta.
De súbito, novo salto, agora para o governo actual, que segundo a senhora é amigo dos funcionários públicos, dos "reformados e pensionistas" (evitem a risota, por favor), da "Ciência" e do "Ensino Superior", com maiúscula e tudo. Além disso, é danado para a banca, os automóveis, o álcool e o tabaco, desgraças que se Deus e o dr. Costa quiserem hão-de estar por um fio. Em matéria de políticas evangélicas, a dona Isabel só lamenta a falta de "taxação sobre as bebidas açucaradas", visto que a imbecilidade das massas não "vai lá com "educação"": "vai-se com legislação". E o espancamento dos infratores, sugiro.
O que importa, porém, é que o governo é generoso, e que a generosidade é tamanha que lhe vale a "perseguição de Bruxelas" e a perseguição dos mercados, os quais sobem os juros "só para assustar" (juro). Para cúmulo, "alguma comunicação social portuguesa" abusa da liberdade de expressão e "age como inimiga declarada do governo" em vez de responsavelmente o bajular. Bandidos!
A dona Isabel podia perfeitamente despedir-se nesta fase do texto, demonstrados que ficaram os seus conhecimentos de História, Economia, Moral e Psiquiatria (na óptica do utilizador). Não o faz, e ainda bem, dado ter acrescentado a teoria que é um autêntico salto quântico do pensamento (na óptica do não utilizador): "O neoliberalismo tem-se relacionado com o aumento da obesidade." Prova? Há gente a engordar nos EUA e na Inglaterra. Conclusão? "O neoliberalismo faz mal à saúde. Isto anda mesmo tudo ligado." Enfim é explicada a fome nos regimes que a dona Isabel aprecia: trata-se meramente de dieta, e das eficazes.
Inexplicável, excepto pelo caldo de alucinação e apatia em que Portugal se encontra, é que se confunda um razoável exercício humorístico com uma opinião habilitada. Principalmente se é a própria dona Isabel a insinuar o toque cómico, quer ao assinar o artigo enquanto "Médica, Professora [maiúscula dela] da Faculdade de Medicina de Lisboa", quer ao encabeçá-lo com uma fotografia onde se constata que a senhora é - faltam-me os eufemismos - gorda, quiçá vítima do "neoliberalismo". Duas hipóteses: ou a dona Isabel e o Público estão a brincar connosco ou o país está a brincar com a realidade. Aposto em ambas.
Sexta-feira, 26 de Fevereiro
E se adoptássemos o BE?
Não acho piada nem ao cartaz do BE ("Jesus também tinha 2 pais") nem ao ligeiro escândalo que suscitou. Embora, a acreditar nas urnas, o BE não tenha nenhum direito a mandar em nós conforme tem mandado, tem todo o direito de ofender quem muito bem desejar. Além disso, o cartaz chama a atenção para uma causa dramática: a profunda infantilidade daqueles meninos e meninas. Uma sociedade solidária não se aborrece com a falhada irreverência do bando, mas empenha-se em explicar-lhe o que é irreverência a sério. Com paciência, talvez um dia o BE perceba a diferença e defenda os homossexuais através de injúrias às religiões que os oprimem de facto. Quando fizerem graçolas com Maomé, as crianças grandes do BE merecerão o nosso respeito. Até lá, só pena, compreensão e mimo.

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