Um artigo de Alberto Gonçalves sobre a evolução do
governo de António Costa, cuja aliança com a esquerda, jamais sonhada até há
pouco, se traduziu no acordo orçamental talvez nefasto, pelas exigências que Bruxelas,
não convencida da sua eficácia na adopção de medidas que o farão derrapar, não
deixará de fazer, aniquilando-o. E essa perspectiva de terceiro mundismo,
simboliza-o numa mulher tão falada em tempos pela energia bombástica do seu
ódio ao regime de Salazar e que, na citação do articulista escreve um certo discurso
de anedota, pela incongruência de observações tão desprovidas de senso como de clareza
discursiva. Isabel do Carmo se chama, fêmea portuguesa que foi bombista e
prisioneira, mas condecorada por Jorge Sampaio, segundo leio na Internet,
portanto auxiliar de todos os machos portugueses que, não se atrevendo a lançar
a bomba do derrube, admiraram e admiram a mulher que se atreveu, e por isso hoje
está ainda mais na berra do que ontem, apesar da condecoração sampaísta, agora
que Costa alinhou com todas elas e todos eles – os da linha terceiro-mundista, segundo
opinião de Alberto Gonçalves.
O artigo seguinte é sobre o atrevido cartaz do BE,
defendendo a adopção de filhos por casais de homossexuais com a asserção de que
Jesus também teve dois pais. Espécie de Charlie Hebdo às avessas, troçando do
seu próprio povo que dizem defender na fome, mas de que não se importam de
troçar na crença, sabendo que daí não vem bomba que lhes preste. Ou talvez eles
e elas próprios já estejam abaixando-se às imposições de fanatismos mais
bombásticos que por aí estão a chegar…
Isabel do Carmo e a
realidade alternativa
Alberto Gonçalves
DN, 28/2/16
E quando metade da população andava convencidíssima de
que em última instância o PS nunca
estabeleceria uma aliança com os
partidos comunistas? Parece que foi há décadas. Mas foi há quatro ou cinco
meses, e hoje já quase ninguém se lembra de que os socialistas nem sempre foram
uma filial, ou o braço político, de PCP e BE. Em Fevereiro de 2016, a
extrema-esquerda aprovou em coro o Orçamento do Estado e, para efeitos
práticos, assinou a nossa candidatura de adesão ao Terceiro Mundo. O dr. Costa
comemora o sucesso das "alternativas".
Toda a gente dissecou o sem dúvida relevante
acontecimento, uns com natural horror face ao desastre iminente, outros com o
entusiasmo próprio dos ingénuos, dos fanáticos ou dos beneficiados. Por mim,
não nego que o, até ver, maior indicador da loucura a que descemos mereça cada
comentário. Apenas prefiro, se me dão licença, procurar essa toleima colectiva
nas pequeninas coisas. Um artigo de Isabel do Carmo no Público, por exemplo.
O artigo em questão intitula-se "Impostos e
gordura" e, desde que o li na quarta-feira, vem sendo, para citar a
péssima literatura, uma fonte de perpétua descoberta. Raramente tão poucas
linhas chegaram para arrasar as teses alusivas à evolução da espécie. Aliás, a
fundadora das Brigadas Revolucionárias é especialista em esbanjar teses que
mostram o atraso do espécime (notaram o espectacular trocadilho?). Ei-las.
A dona Isabel começa por louvar os "estados
sociais" europeus do pós-Segunda Guerra, que nos anos 1970 ela combatia a
título gracioso e de modo explosivo. Infelizmente, depois vieram Thatcher,
Reagan e as trevas, traduzidas em fenómenos inéditos como o
"desemprego", a "pobreza" e a "ansiedade das
pessoas". A própria União Europeia, imagine-se, aderiu à moda e, em lugar
dos seres humanos, desatou a servir as "mercadorias" (açúcar
mascavado, torradeiras e assim, presumo). Daqui, cerca de 1980, a dona
Isabel salta repentinamente para o "governo austeritário", que nós
supomos ser o do PSD-CDS e que ela tem a certeza de que "tirou aos pobres
e remediados" para dar a "um poder mundial sem rosto". Isto em
nome dos "juros da "dívida"" e para "diminuir o
"défice"", conceitos que a dona Isabel põe entre aspas, talvez
por duvidar da respectiva existência, talvez para conter a sua influência
nefasta.
De súbito, novo salto, agora para o governo actual,
que segundo a senhora é amigo dos funcionários públicos, dos "reformados e
pensionistas" (evitem a risota, por favor), da "Ciência" e do
"Ensino Superior", com maiúscula e tudo. Além disso, é danado
para a banca, os automóveis, o álcool e o tabaco, desgraças que se Deus e o dr.
Costa quiserem hão-de estar por um fio. Em matéria de políticas evangélicas, a
dona Isabel só lamenta a falta de "taxação sobre as bebidas
açucaradas", visto que a imbecilidade das massas não "vai lá com
"educação"": "vai-se com legislação". E o espancamento
dos infratores, sugiro.
O que importa, porém, é que o governo é generoso,
e que a generosidade é tamanha que lhe vale a "perseguição de
Bruxelas" e a perseguição dos mercados, os quais sobem os juros "só
para assustar" (juro). Para cúmulo, "alguma comunicação social
portuguesa" abusa da liberdade de expressão e "age como inimiga declarada
do governo" em vez de responsavelmente o bajular. Bandidos!
A dona Isabel podia perfeitamente despedir-se nesta
fase do texto, demonstrados que ficaram os seus conhecimentos de História,
Economia, Moral e Psiquiatria (na óptica do utilizador). Não o faz, e ainda
bem, dado ter acrescentado a teoria que é um autêntico salto quântico do
pensamento (na óptica do não utilizador): "O neoliberalismo tem-se
relacionado com o aumento da obesidade." Prova? Há gente a engordar nos
EUA e na Inglaterra. Conclusão? "O neoliberalismo faz mal à saúde. Isto
anda mesmo tudo ligado." Enfim é explicada a fome nos regimes que a dona
Isabel aprecia: trata-se meramente de dieta, e das eficazes.
Inexplicável, excepto pelo caldo de alucinação e
apatia em que Portugal se encontra, é que se confunda um razoável exercício
humorístico com uma opinião habilitada. Principalmente se é a própria dona
Isabel a insinuar o toque cómico, quer ao assinar o artigo enquanto
"Médica, Professora [maiúscula dela] da Faculdade de Medicina de Lisboa",
quer ao encabeçá-lo com uma fotografia onde se constata que a senhora é -
faltam-me os eufemismos - gorda, quiçá vítima do "neoliberalismo". Duas
hipóteses: ou a dona Isabel e o Público estão a brincar connosco ou o país está
a brincar com a realidade. Aposto em ambas.
Sexta-feira, 26 de Fevereiro
E se adoptássemos o BE?
Não
acho piada nem ao cartaz do BE ("Jesus também tinha 2 pais") nem ao
ligeiro escândalo que suscitou. Embora, a acreditar nas urnas, o BE não tenha
nenhum direito a mandar em nós conforme tem mandado, tem todo o direito de
ofender quem muito bem desejar. Além disso, o cartaz chama a atenção para uma
causa dramática: a profunda infantilidade daqueles meninos e meninas. Uma
sociedade solidária não se aborrece com a falhada irreverência do bando, mas
empenha-se em explicar-lhe o que é irreverência a sério. Com paciência, talvez
um dia o BE perceba a diferença e defenda os homossexuais através de injúrias
às religiões que os oprimem de facto. Quando fizerem graçolas com Maomé, as
crianças grandes do BE merecerão o nosso respeito. Até lá, só pena, compreensão
e mimo.
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