sexta-feira, 20 de maio de 2016

A novela em diálogo da nossa facúndia




Hoje os dois temas da Quadratura do Círculo foram decididamente do pleno agrado de Jorge Coelho, viu-se bem, o primeiro sobre a reanimação da economia portuguesa, o segundo sobre as 255 medidas do Simplex.
Logo no primeiro, ele teceu elogios fervorosos ao Primeiro Ministro, pela forma desinibida com que este  responde às sugestões de Bruxelas, que vão protelando a sua visita pascal ao nosso país, a dar tempo a que António Costa cumpra o que diz que vai cumprir - desenvolver a economia, para apresentar números mais saudáveis à Comissão Europeia, que se limita por enquanto, a avisar cordialmente de que é necessário diminuir o défice, ao que parece, sem grande autoridade, pois essa Europa também anda pelas ruas da amargura em questão de crise, considera Jorge Coelho. As novas alternativas de solução ainda não deram mau resultado - fosse Passos Coelho e logo os slogans “doa a quem doer, aconteça o que acontecer, é necessário obedecer às imposições da UE” se teriam feito sentir, sem mais aquelas, pisando, calcando, transformando, empobrecendo, sem nunca reflectir Jorge Coelho que todos sofremos por essa altura, mas de cabeça erguida, porque sentíamos que, enfim, estávamos a pagar o que comêramos em excesso, de empréstimos que se deviam saldar, para nos sentirmos gente de bem. Isso Jorge Coelho não apontou, desdenhando resgates e respondeu mesmo a um conciso mas eficiente Carlos Andrade, que não via razões para não estar optimista, e o que a Comissão Europeia tinha que fazer era discutir as novas alternativas do nosso PM, que tenta repor o que foi extraído, sim, mas devagar, e dar chance à nossa economia de se erguer.
- Isto vai lá! Repisa Jorge Coelho, um homem confiante, defendendo a sua e a nossa côdea, com a linguagem chã dos grandes cabouqueiros do nosso país. “Já vamos com seis meses de governo, mas há tendência para haver coisas diferentes”, insiste, sem, no entanto, exagerar na expressão do seu entusiasmo, não vá o diabo tecê-las e deitar abaixo o nosso castelo de cartas das expectativas optimistas. “O que é preciso é calma e estupidez natural”, já se dizia nos tempos de Salazar, também de forma menos erudita, a sugerir os caboucos de um povo vergado ao destino e suficientemente manhoso para prosseguir, de preferência ludibriando.
É claro que Lobo Xavier entende que “toda a gente anda a fazer de conta” que acredita em António Costa, embora “todas as previsões de sucesso estejam dramaticamente em baixa”, e contra essa degradação, que “é culpa da União Europeia”, segundo Pacheco Pereira, entende Lobo Xavier que a culpa é só nossa, (como já fora outrora a Angola da cantiga fascista). Realmente as pressões da União Europeia são muito mais benignas do que as que sofreu Passos Coelho.
Pacheco Pereira pegou na palavra de Lobo Xavier para distinguir entre as políticas mais abertas dos Estados Unidos e as da União Europeia que, por serem arrogantes, conduziram a Europa à estagnação, pelo que se sentia pessimista em relação ao optimismo “nem carne nem peixe” do “limbo” em que vivemos, de uma soberania não real, por conta do sistema financeiro. Para quem acreditava que a Europa era a salvação, caímos neste desassossego, de estar constantemente à espera da decisão da UE sobre as sanções possíveis a Portugal e à Espanha – desta vez não se falou da Grécia, bafejada por outro estatuto de atenção e delicadeza, certamente pelo reconhecimento do seu papel de receptáculo migratório na pavorosa tragédia mediterrânica dos nossos tempos.
Quanto ao segundo tema – o lançamento do ”Simplex” – Jorge Coelho uma vez mais se regozijou, abençoando a implementação de medidas que forçosamente iriam aumentar a competitividade económica no nosso país, diminuindo os “custos de contexto”, referindo o papel de Maria Manuela Leitão Marques como grande promotora das 255 medidas indispensáveis ao desenvolvimento do país.
Lobo Xavier dum modo geral concordou com os benefícios das medidas, Pacheco Pereira atalhou, no seu papel de “advogado do diabo” referindo a ingerência demasiado intrusiva e opressiva do Estado nas vidas pessoais, que a Internet, apesar dos benefícios dessas medidas e outras, devassa escandalosamente, contrariando o direito de privacidade das pessoas.
Mas Jorge Coelho, muito decididamente, objectou contra os “velhos do Restelo”, contrários ao progresso, e assim ocorreu mais um episódio de esclarecimento televisivo das nossas dúvidas, na expectativa do que nos irá realmente acontecer...

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