Na “Quadratura do Círculo” da passada
quinta feira, focaram-se três temas – o da inauguração do túnel do Marão, de
fofoca em torno de umas fotos que não se realizaram (de Costa com Sócrates) e da
recusa de Passos a comparecer – mais um caso de “Hissope” na tragicomédia
aguerrida da nossa pesporrência e mexeriquice tumultuosas; o caso da cedência
de Costa às exigências das nossas Catarinas a retirar o tapete auxiliar aos
colégios que dantes o pisavam; o caso das incompatibilidades entre o
plano orçamental de Costa e as exigências da UE.
Lobo Xavier, com a sua educação e
cordura habituais, achou que, se não era para posar com Sócrates, que foi quem
iniciara a obra do túnel (talvez como mais um meio favorecedor da sua ascensão
capitalista - mas esta opinião é pessoal, julgo que Lobo Xavier não pensou
nisso), durante o seu governo, não devia tê-lo convidado, mas Pacheco Pereira
comentou esse facto retirando-lhe a importância da fofoca, acusando Sócrates de
envenenar sempre os ambientes, e preferindo assestar as suas setas sobre Passos
Coelho, sugerindo melifluamente – maquiavelicamente, como é seu pendor - que se
apurasse antes o custo da suspensão da obra, no ministério deste – o que Lobo
Xavier contestou, atribuindo tal suspensão a um caso de insolvência e não à
responsabilidade do ex-Primeiro Ministro. Quanto a Jorge Coelho, viu-se bem
quanto bebe todas as frases de Costa, falando em fait divers no caso das
não-fotos, e nos outros casos dando inteira razão ao seu primeiro ministro, pela
forma serena – o ministro é sereno - como conduz as suas políticas, tudo o que
ele faz sendo bem feito e tranquilizante para nós, que vivíamos à espera que o céu
nos caísse em cima, no tempo da coligação e agora já não vivemos. Percebemos
assim, pelas suas palavras de bom senso caseiro que o que nós todos desejamos é
sopas e descanso, e assim continuaremos, sob o primado sorridente de Costa, que,
ao que já escutei também, a outro entusiasta de Costa, noutra mesa redonda, é mais
do que habilidoso - é inteligente, sabendo convencer quando é preciso e sabendo
ceder nos outros casos. Parece que cedeu nesta coisa do tapete, isto é,
concordou com as suas apoiantes do Bloco de Esquerda (mas exigentes de retorno
nos salamaleques, e por isso manipuladoras de Costa - que aparenta servi-las
por cavalheirismo, sobretudo quando lhe convém, o que se transforma num ciclo
vicioso e viciado de sorrisos e esgares). Concordou, pois, em retirar o apoio
aos colégios particulares que o recebiam durante os governos anteriores, por
convénio entre os partidos governantes.
Parece que essa comparticipação do
Estado ao ensino particular resultara, a seu tempo, da “bagunça” criada no
ensino público com as reformas democráticas instituídas na sociedade, e por
consequência também no ministério da Educação, permitindo a desautorização dos
professores com a insubordinação da massa estudantil, e, por consequência, um
rendimento escolar menor. Cientes de que os seus filhos e os dos pais
preocupados e com posses tinham direito a um ensino mais disciplinado e eficiente,
os governos anteriores – que não incluíam as esquerdas radicais – foram unânimes
em permitir a comparticipação estatal – que incluía os impostos públicos – no auxílio
ao ensino privado, pelo menos a uma parte desse, que a Igreja também protegia, e
aos seus padres professores. Tudo para que os seus filhos pudessem estudar em
condições de êxito. Houve até tentativas de denegrir os professores do ensino
público, para justificar os arranjos com o privado. E ocultaram-se os
condicionalismos do seu trabalho arrasante, no laxismo e insolência permitidos,
na sobrecarga de trabalho burocrático com reuniões frequentes, impeditivas de
efectivo trabalho de estudo programático, mais aliciante do que esse
burocrático e até impeditivas de uma vida familiar equilibrada.
Com o governo de António Costa
encostado às suas esquerdas, de uma coligação assente em imposições efectivas,
embora sob a máscara dos galhardetes, as DDT conseguiram desfazer os tais compromissos anteriores
de apoio estatal a escolas de ensino privado, achando que quem quisesse privado
deveria pagá-lo, tal como se deve fazer com a Saúde.
António Costa percebeu isso e
concordou, até porque, caso tenha filhos e os queira bem educados, poderá
enviá-los para os colégios privados que custeará. As DDT não deixam de ter
razão, na questão dos auxílios estatais, que os impostos públicos pagam
injustamente, aos colégios privados, mas deviam preocupar-se também com as
condições degradantes do ensino público com a massificação que a sua ideologia favoreceu.
Julgo que essa massificação é do seu
pleno acordo solidário, defensor das igualdades sociais. Porque, caso temam os
desarranjos do ensino público para os seus filhos – se os tiverem – poderão
sempre educá-los em colégios particulares. A obra benemérita da sua
fraternidade justiceira ficará sempre a salvo.
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