domingo, 15 de maio de 2016

Sem mácula a reputação



Na “Quadratura do Círculo” da passada quinta feira, focaram-se três temas – o da inauguração do túnel do Marão, de fofoca em torno de umas fotos que não se realizaram (de Costa com Sócrates) e da recusa de Passos a comparecer – mais um caso de “Hissope” na tragicomédia aguerrida da nossa pesporrência e mexeriquice tumultuosas; o caso da cedência de Costa às exigências das nossas Catarinas a retirar o tapete auxiliar aos colégios que dantes o pisavam; o caso das incompatibilidades  entre  o plano orçamental de Costa e as exigências da UE.
Lobo Xavier, com a sua educação e cordura habituais, achou que, se não era para posar com Sócrates, que foi quem iniciara a obra do túnel (talvez como mais um meio favorecedor da sua ascensão capitalista - mas esta opinião é pessoal, julgo que Lobo Xavier não pensou nisso), durante o seu governo, não devia tê-lo convidado, mas Pacheco Pereira comentou esse facto retirando-lhe a importância da fofoca, acusando Sócrates de envenenar sempre os ambientes, e preferindo assestar as suas setas sobre Passos Coelho, sugerindo melifluamente – maquiavelicamente, como é seu pendor - que se apurasse antes o custo da suspensão da obra, no ministério deste – o que Lobo Xavier contestou, atribuindo tal suspensão a um caso de insolvência e não à responsabilidade do ex-Primeiro Ministro. Quanto a Jorge Coelho, viu-se bem quanto bebe todas as frases de Costa, falando em fait divers no caso das não-fotos, e nos outros casos dando inteira razão ao seu primeiro ministro, pela forma serena – o ministro é sereno - como conduz as suas políticas, tudo o que ele faz sendo bem feito e tranquilizante para nós, que vivíamos à espera que o céu nos caísse em cima, no tempo da coligação e agora já não vivemos. Percebemos assim, pelas suas palavras de bom senso caseiro que o que nós todos desejamos é sopas e descanso, e assim continuaremos, sob o primado sorridente de Costa, que, ao que já escutei também, a outro entusiasta de Costa, noutra mesa redonda, é mais do que habilidoso - é inteligente, sabendo convencer quando é preciso e sabendo ceder nos outros casos. Parece que cedeu nesta coisa do tapete, isto é, concordou com as suas apoiantes do Bloco de Esquerda (mas exigentes de retorno nos salamaleques, e por isso manipuladoras de Costa - que aparenta servi-las por cavalheirismo, sobretudo quando lhe convém, o que se transforma num ciclo vicioso e viciado de sorrisos e esgares). Concordou, pois, em retirar o apoio aos colégios particulares que o recebiam durante os governos anteriores, por convénio entre os partidos governantes.
Parece que essa comparticipação do Estado ao ensino particular resultara, a seu tempo, da “bagunça” criada no ensino público com as reformas democráticas instituídas na sociedade, e por consequência também no ministério da Educação, permitindo a desautorização dos professores com a insubordinação da massa estudantil, e, por consequência, um rendimento escolar menor. Cientes de que os seus filhos e os dos pais preocupados e com posses tinham direito a um ensino mais disciplinado e eficiente, os governos anteriores – que não incluíam as esquerdas radicais – foram unânimes em permitir a comparticipação estatal – que incluía os impostos públicos – no auxílio ao ensino privado, pelo menos a uma parte desse, que a Igreja também protegia, e aos seus padres professores. Tudo para que os seus filhos pudessem estudar em condições de êxito. Houve até tentativas de denegrir os professores do ensino público, para justificar os arranjos com o privado. E ocultaram-se os condicionalismos do seu trabalho arrasante, no laxismo e insolência permitidos, na sobrecarga de trabalho burocrático com reuniões frequentes, impeditivas de efectivo trabalho de estudo programático, mais aliciante do que esse burocrático e até impeditivas de uma vida familiar equilibrada.
Com o governo de António Costa encostado às suas esquerdas, de uma coligação assente em imposições efectivas, embora sob a máscara dos galhardetes, as DDT  conseguiram desfazer os tais compromissos anteriores de apoio estatal a escolas de ensino privado, achando que quem quisesse privado deveria pagá-lo, tal como se deve fazer com a Saúde.
António Costa percebeu isso e concordou, até porque, caso tenha filhos e os queira bem educados, poderá enviá-los para os colégios privados que custeará. As DDT não deixam de ter razão, na questão dos auxílios estatais, que os impostos públicos pagam injustamente, aos colégios privados, mas deviam preocupar-se também com as condições degradantes do ensino público com a massificação que a sua ideologia favoreceu.
Julgo que essa massificação é do seu pleno acordo solidário, defensor das igualdades sociais. Porque, caso temam os desarranjos do ensino público para os seus filhos – se os tiverem – poderão sempre educá-los em colégios particulares. A obra benemérita da sua fraternidade justiceira ficará sempre a salvo.  

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