sábado, 28 de maio de 2016

Metáforas, para que vos quero?




Onde já vão as histórias com o Padre Américo  salvando os rapazes transviados, fundando para eles  as Casas do Gaiato, inspiradas num princípio evangélico de que “não há rapazes maus”, se lhes dermos a atenção precisa e incutindo noções de responsabilidade? Lembro-me de que o santo Padre Américo mereceu grande carinho e atenção nessa altura com a sua obra tão meritória! A sociedade hoje faz diferente, embora com igual espírito evangélico, sacrificando-se por eles, levando-lhes o apoio e o alimento e a festa na altura das festas, safando alguns que se fartam da vida de vadiagem e querem viver mais dignamente.
Mas isso é aqui connosco, que somos pobres e generosos, e cada vez mais generosos, que agora até temos o Bloco de Esquerda a lembrar os pobrezinhos e a acudir-lhes em força, sem olhar aos meios, fomentando o parasitismo, talvez à espera de recompensa choruda, que o Padre Américo nunca esperou.
Não, não se trata de nós o artigo da Clara Ferreira Alves. Felizmente que se esqueceu de nós, da nossa maralha, para assestar os seus binóculos sobre as maldades e más criações do mundo, que são muitas, e encaradas segundo parâmetros de politicamente correcto, que levam a que se deixem governar autênticos monstros como não existem na própria selva, embora esta nos sirva, muitas vezes, de paralelo depreciativo. 

Clara Ferreira Alves é uma mulher bem formada e bem informada, voltada sobre o mundo inteiro, trazendo até nós o sopro vivificador dos seus conhecimentos e das suas ironias, desmascarando os paradoxos das atitudes críticas, eivadas de hipocrisia, quando se trate de condenar as acções humanas, ditadas por ideologias sinistras ou por motivação política razoável, embora se trate de crime hediondo em ambos os casos. E a má educação de certos povos, como os chineses, vem à baila para lhes condenar as atitudes (creio que resultantes da consciência do seu grande poder no mundo, como é costume entre os grandes).
Clara Ferreira Alves aproveita a sua saturação relativamente aos que sussurram, ou mesmo atacam forte, contra a crueza  das palavras, dentro do seu politicamente correcto,  preferindo-lhes a macieza das meias tintas - para despejar sobre nós os exemplos das bestialidades e das besteiras que colheu pelo mundo. E nós ficamos-lhe gratos pela sua sabedoria e honestidade intelectual, de tintas primárias, bem carregadas.
Os corretos
E, 14.05.2016
«Não há nada que me canse mais do que a discurseta politicamente correta (sim, acabo de inventar a palavra discurseta, algum problema?). Não se pode dizer nada fora da norma inventada pelos hipócritas deste mundo. Na rede e nos seus acessórios do insulto, da ofensa e da indignação, pode dizer-se tudo, pode matar-se com palavras, mentiras e calúnias. Fora daquele reduto de selvajaria, temos de ser todos, particularmente nós os que escrevemos, bem educados e ocultadores da verdade e do vernáculo. Os corretos corrigem-nos o tempo todo. Não existem velhos, não existem cegos, não existem doidos, coxos, bêbados, não existem tarados sexuais, nem maníacos, nem corruptos. Não existem grupos bons nem grupos maus, são todos bons, e não existem ditadores eleitos nem eleitores estúpidos, são todos, apenas, bons selvagens desviados momentaneamente da ordem natural e bondosa das coisas. Esta semana, por boa coincidência, meia dúzia de frases deram cabo desta conspiração de néscios.
Nas Filipinas, eleitores seguramente monstruosos elegeram um mostrengo para presidente. Um mostrengo que faz humor com o assassínio e a violação de uma missionária australiana e que incita e protege e forma esquadrões da morte para, como ele diz, “matar os criminosos”. Um mostrengo eleito continua a ser um mostrengo.
No Reino Unido, David Cameron foi apanhado a dizer a verdade. Numa conversa com a rainha disse que o Afeganistão e a Nigéria eram dois países “fantasticamente corruptos” (o advérbio é adorável). A rainha não discordou. A brigada da ortodoxia ficou chocada e disse logo que a grande corrupção também existia em Inglaterra e que não se podia dizer isto daqueles dois países porque, trálálá somos todos maus. Poder-se-á comparar a corrupção nesses dois países fantasticamente corruptos com a corrupção no Reino Unido? Claro que não.
No mesmo Reino Unido, uma chefe de polícia que teve de aturar os chineses durante a visita de Estado do Presidente queixou-se à rainha de ter sido maltratada e atropelada pelos ditos, juntamente com a embaixadora do RU. Gente muito “rude”, mal educada. A rainha concordou. Meu Deus, que crime de lesa-majestade chinesa. Foram perguntar aos chineses se relação doirada com a Inglaterra tinha acabado. Really? Já alguém reparou no comportamento de uma excursão de turistas chineses? Alguém já reparou  no comportamento de uma excursão de turistas chineses? Alguém topou gente mais rude e mal educada? No aeroporto da Portela , vi um grupo destes postar-se em frente ao tapete das bagagens, empurrando toda a gente e acotovelando-se, rosnando uns para os outros, calcando as pessoas com os carrinhos. Não seria a primeira vez. Em qualquer lugar com turistas chineses esta atitude é a normal. Na China, fazem o mesmo uns aos outros. Já passei o Natal numa Hong Kong cheia de chineses continentais e tive de fugir da frente. É a marabunta. É o caos. É a multidão em fúria. Cuspindo para o chão, descompondo-se, matando-se uns aos outros para chegar primeiro. Já entraram num casino de Macau? Bem-vindos às coisas mais deprimentes do mundo. Se perguntarem aos pobres japoneses de Okinawa  se preferem os turistas chineses ou os marines americanos das bases, que se portam como bestas, os pobres dizem que ficam com os americanos.
Na Alemanha, em Munique, um alemão tarado, positivamente doido, atacou com uma faca vários passageiros de um comboio e matou um, ferindo co gravidade outros. O tarado gritou Allahu Akbar. Nas primeiras horas, os media deram grande atenção ao caso, mais um terrorista muçulmano, decerto um refugiado sírio, a confirmar a sua reputação. Assim que se soube que era um alemão, branco, positivamente branco, a atenção dissipou-se. E o ataque terrorista passou a ataque “politicamente motivado”. Parece que o terrorismo só é terrorismo se for praticado por muçulmanos. De resto, é politicamente motivado ou praticado por uma pessoa com uma história de “perturbações mentais”.  Em que consiste exatamente uma perturbação mental? Será o terrorismo uma perturbação mental? Provavelmente. Somos todos perturbados mentais. Em matéria de islamismo, existe o contrário disto. Não se pode dizer nada contra o Islão e o seu sistema de repressão sem cair no poço da islamofobia.  Não se pode abrir a boca sem ser acusado de um qualquer obscuro crime contra uma pessoa, um grupo, uma ideia, uma religião, um sistema de ideias. Não há rapazes maus na ideologia dominante do politicamente correto. Se o Hitler de 1938 fosse vivo seriam inventados tremendos adjetivos e substantivos para o descrever sem o acusar de ser o que era. Um maníaco perigosíssimo. Do mesmo modo, ao espetáculo do congresso do partido na Coreia do Norte e seus desfiles e paradas de “anões fanáticos”, como lhes chamou Christopher Hitchens, opôs-se uma descrição por medida dos propósitos políticos do “Amado Líder”. Um homenzinho com um corte de cabelo picaresco armado em chefe com a mãozinha do Dr, Strangelove. E, já agora, onde anda Peter Sellers quando precisamos dele?»

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