Onde
já vão as histórias com o Padre Américo salvando os rapazes transviados, fundando para
eles as Casas do Gaiato, inspiradas num
princípio evangélico de que “não há rapazes maus”, se lhes dermos a atenção
precisa e incutindo noções de responsabilidade? Lembro-me de que o santo Padre
Américo mereceu grande carinho e atenção nessa altura com a sua obra tão
meritória! A sociedade hoje faz diferente, embora com igual espírito evangélico,
sacrificando-se por eles, levando-lhes o apoio e o alimento e a festa na altura
das festas, safando alguns que se fartam da vida de vadiagem e querem viver
mais dignamente.
Mas
isso é aqui connosco, que somos pobres e generosos, e cada vez mais generosos,
que agora até temos o Bloco de Esquerda a lembrar os pobrezinhos e a
acudir-lhes em força, sem olhar aos meios, fomentando o parasitismo, talvez à
espera de recompensa choruda, que o Padre Américo nunca esperou.
Não,
não se trata de nós o artigo da Clara Ferreira Alves. Felizmente que se
esqueceu de nós, da nossa maralha, para assestar os seus binóculos sobre as
maldades e más criações do mundo, que são muitas, e encaradas segundo
parâmetros de politicamente correcto, que levam a que se deixem governar
autênticos monstros como não existem na própria selva, embora esta nos sirva,
muitas vezes, de paralelo depreciativo.
Clara
Ferreira Alves é uma mulher bem formada e bem informada, voltada sobre o mundo
inteiro, trazendo até nós o sopro vivificador dos seus conhecimentos e das suas
ironias, desmascarando os paradoxos das atitudes críticas, eivadas de
hipocrisia, quando se trate de condenar as acções humanas, ditadas por
ideologias sinistras ou por motivação política razoável, embora se trate de
crime hediondo em ambos os casos. E a má educação de certos povos, como os
chineses, vem à baila para lhes condenar as atitudes (creio que resultantes da
consciência do seu grande poder no mundo, como é costume entre os grandes).
Clara
Ferreira Alves aproveita a sua saturação relativamente aos que sussurram, ou
mesmo atacam forte, contra a crueza das
palavras, dentro do seu politicamente correcto,
preferindo-lhes a macieza das meias tintas - para despejar sobre nós os
exemplos das bestialidades e das besteiras que colheu pelo mundo. E nós
ficamos-lhe gratos pela sua sabedoria e honestidade intelectual, de tintas
primárias, bem carregadas.
Os
corretos
E, 14.05.2016
«Não
há nada que me canse mais do que a discurseta politicamente correta (sim, acabo
de inventar a palavra discurseta, algum problema?). Não se pode dizer nada fora
da norma inventada pelos hipócritas deste mundo. Na rede e nos seus
acessórios do insulto, da ofensa e da indignação, pode dizer-se tudo, pode
matar-se com palavras, mentiras e calúnias. Fora daquele reduto de selvajaria,
temos de ser todos, particularmente nós os que escrevemos, bem educados e
ocultadores da verdade e do vernáculo. Os corretos corrigem-nos o tempo todo.
Não existem velhos, não existem cegos, não existem doidos, coxos, bêbados,
não existem tarados sexuais, nem maníacos, nem corruptos. Não existem grupos
bons nem grupos maus, são todos bons, e não existem ditadores eleitos nem
eleitores estúpidos, são todos, apenas, bons selvagens desviados
momentaneamente da ordem natural e bondosa das coisas. Esta semana, por boa
coincidência, meia dúzia de frases deram cabo desta conspiração de néscios.
Nas
Filipinas, eleitores seguramente monstruosos elegeram um mostrengo para
presidente. Um mostrengo que faz humor com o assassínio e a violação de uma
missionária australiana e que incita e protege e forma esquadrões da morte para,
como ele diz, “matar os criminosos”. Um mostrengo eleito continua a ser um mostrengo.
No
Reino Unido, David Cameron foi apanhado a dizer a verdade. Numa conversa com a
rainha disse que o Afeganistão e a Nigéria eram dois países “fantasticamente
corruptos” (o advérbio é adorável). A rainha não discordou. A brigada da
ortodoxia ficou chocada e disse logo que a grande corrupção também existia em
Inglaterra e que não se podia dizer isto daqueles dois países porque, trálálá
somos todos maus. Poder-se-á comparar a corrupção nesses dois países
fantasticamente corruptos com a corrupção no Reino Unido? Claro que não.
No
mesmo Reino Unido, uma chefe de polícia que teve de aturar os chineses durante
a visita de Estado do Presidente queixou-se à rainha de ter sido maltratada e
atropelada pelos ditos, juntamente com a embaixadora do RU. Gente muito “rude”,
mal educada. A rainha concordou. Meu Deus, que crime de lesa-majestade chinesa.
Foram perguntar aos chineses se relação doirada com a Inglaterra tinha acabado.
Really? Já alguém reparou no comportamento de uma excursão de turistas
chineses? Alguém já reparou no comportamento
de uma excursão de turistas chineses? Alguém topou gente mais rude e mal educada?
No aeroporto da Portela , vi um grupo destes postar-se em frente ao tapete das
bagagens, empurrando toda a gente e acotovelando-se, rosnando uns para os
outros, calcando as pessoas com os carrinhos. Não seria a primeira vez. Em qualquer
lugar com turistas chineses esta atitude é a normal. Na China, fazem o mesmo
uns aos outros. Já passei o Natal numa Hong Kong cheia de chineses
continentais e tive de fugir da frente. É a marabunta. É o caos. É a
multidão em fúria. Cuspindo para o chão, descompondo-se, matando-se uns aos
outros para chegar primeiro. Já entraram num casino de Macau? Bem-vindos
às coisas mais deprimentes do mundo. Se perguntarem aos pobres japoneses de
Okinawa se preferem os turistas chineses
ou os marines americanos das bases, que se portam como bestas, os pobres dizem
que ficam com os americanos.
Na
Alemanha, em Munique, um alemão tarado, positivamente doido, atacou com uma
faca vários passageiros de um comboio e matou um, ferindo co gravidade outros. O
tarado gritou Allahu Akbar. Nas primeiras horas, os media deram
grande atenção ao caso, mais um terrorista muçulmano, decerto um refugiado
sírio, a confirmar a sua reputação. Assim que se soube que era um alemão,
branco, positivamente branco, a atenção dissipou-se. E o ataque terrorista
passou a ataque “politicamente motivado”. Parece que o terrorismo só é
terrorismo se for praticado por muçulmanos. De resto, é
politicamente motivado ou praticado por uma pessoa com uma história de “perturbações
mentais”. Em que consiste exatamente
uma perturbação mental? Será o terrorismo uma perturbação mental? Provavelmente.
Somos todos perturbados mentais. Em matéria de islamismo, existe o contrário
disto. Não se pode dizer nada contra o Islão e o seu sistema de repressão sem
cair no poço da islamofobia. Não
se pode abrir a boca sem ser acusado de um qualquer obscuro crime contra uma
pessoa, um grupo, uma ideia, uma religião, um sistema de ideias. Não há rapazes
maus na ideologia dominante do politicamente correto. Se o Hitler de
1938 fosse vivo seriam inventados tremendos adjetivos e substantivos para o
descrever sem o acusar de ser o que era. Um maníaco perigosíssimo. Do mesmo
modo, ao espetáculo do congresso do partido na Coreia do Norte e seus desfiles
e paradas de “anões fanáticos”, como lhes chamou Christopher Hitchens, opôs-se
uma descrição por medida dos propósitos políticos do “Amado Líder”. Um homenzinho
com um corte de cabelo picaresco armado em chefe com a mãozinha do Dr,
Strangelove. E, já agora, onde anda Peter Sellers quando precisamos dele?»
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