segunda-feira, 12 de setembro de 2016

«O Sócrates ainda vai meter o juiz na cadeia»
Acho que a nossa amiga tinha visto a entrevista, que eu não vi. A do juiz Carlos Alexandre, que é o superjuiz de muitos processos desses sem destrinça possível, em que há muitas insinuações, ao que parece baseadas em factos, ou apenas em suspeitas, e nunca mais chegam a uma sentença definitiva, devido ao fugidio das suas contra-argumentações ou do seu advogado, seguros da sua impenetrabilidade desafiante
Mas a nossa amiga continuou na sua récita implicativa contra a minha ignorância:
- Sabe quem é o juiz? Não sabe? E o superjuiz, é corajoso, hein? A vida é difícil para ele, tem pouco dinheiro, não é como certas pessoas que têm amigos com contas bancárias que emprestam dinheiro sem juros nem nada…
- Está-se mesmo a ver que esse dinheiro não é dos amigos, mas dele, esclareceu a minha irmã que diz cada vez sentir mais asco pela figura do Sócrates.
E a nossa amiga acrescenta, com a malignidade do costume:
- Eu até penso se eles não são casados os dois, ou se não estarão para casar. Quero saber quando é que eles se casam os dois, pois comunhão de bens já têm.
Eu ia tomando nota, um tanto às aranhas, mas ela continuou:
- Achei muita graça quando o juiz disse que não queria ter vida política. E também que não queria ser presidente da câmara, não gosta, é contra, “Deus me livre , nem pensar”, respondeu ele à entrevistadora da Sic. Que já tinha inimigos que chegassem, parece que é dos incorruptíveis. E até concluiu: “Quando eu morrer, no meu funeral só devem ir alguns amigos. Se não chover”.
Lembrei-me do poema «Fim» de Sá Carneiro:
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!
Regressada a Penates, às sopas, e resignada ante a humilhação que a nossa amiga fez questão  de me infligir, sabendo ela embora que o tempo é escasso para seguir e assimilar todas as notícias e programas – ela não vê os filmes de ficção, por isso tem mais tempo para os reais, da praça de cá ou  da de lá de fora -  informei-me melhor com o meu marido sobre a questão, reduzida, na esplanada, às saídas bombásticas ou epigramáticas da nossa amiga.
Tratara-se, pois, de uma entrevista na Sic, com o tal superjuiz, que os participantes do Eixo do Mal, aliás, tinham arrasado, na véspera, e que pude ver às 3 horas, a conselho seu: um juiz por todos troçado ou descrito severamente, no seu provincianismo arrogante de pessoa que pretende apresentar-se como não corrupta, mas perfidamente insinuando a corrupção alheia. Fiquei esclarecida.

Para mim, contudo, seria importante averiguar da união dos dois amigos - Sócrates, o que pede emprestado, e Santos Silva, o que empresta. Mas eu, que sou menos maliciosa do que a nossa amiga, prefiro lembrar, para tanta aberração, não uma aliança matrimonial mas uma aliança fraterna, tal a dos manos Castor e Pólux, filhos da aberrante união de Leda com Júpiter, transformado em cisne. É, pelo menos, mais poético. Ou desmistificador da rezinga, que tantas vezes a vaidade dita – dos comentadores e das suas vítimas.

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