Acho Alberto Gonçalves um
escritor de grande riqueza crítica, informada por leituras de apoio às suas
teses e suficientemente conhecedor do mundo para tratar os seus temas com
destreza, subtileza e muito sentido de humor. Não o pensava participando numa
polémica pessoal, mas face à torpeza de quem o atacou, acho que tem o direito
de se defender com idêntica virulência, embora sabendo que prega no deserto, o
dr. Louçã tendo adeptos devotados e apreciadores dos seus modos coruscantes,
embora ultimamente menos evidenciados
televisivamente, suplantado, na representatividade, pelas suas ex-partenaires trepadoras,
com os seus jeitos mais gracilmente despejadores de sentenças virtuosas, que
quadram ao sentimento do nosso povo amplamente ciente dos seus direitos, e que
ataca os ricos, não lhes reconhecendo o esforço e só lhes invejando o taco.
Mas a demonstração aí está,
bem urdida, da canalhice do Dr. Louçã, ao considerar que Alberto Gonçalves
defendera o livro de José António Saraiva, quando apenas estranhara a actual
proeminência de um livro de denúncias e alcovas, tendo ignorado iguais faltas
de escrúpulo narrativo numa produção anterior de São José Almeida, sobre gente
do Estado Novo, mas que não provocaram, como o último, “as vozes do arruído
pela cidade”, que já eram vulgares nos tempos de Leonor Teles, e de Fernão
Lopes que os descrevera, e que a sociedade amestrada do novo governo repudia virtuosamente,
provavelmente deliciada com os escândalos, mas censurando-os como é de bom tom.
De resto, também Alberto Gonçalves o fez, remetendo tudo isso para a categoria
de lixo, mas Francisco Louçã preferiu não ver tal, na sua competição de
polemista encartado, preferindo mentir na sua denúncia, coisa que Alberto
Gonçalves denuncia com a magistralidade de sempre, comprovando a sua arte e
saber, com o texto seguinte, desassombrado na crítica, contra, ao que parece, mais
um vendedor de banha de cobra que não conheço.
Mais
depressa se apanha o dr. Louçã do que um coxo
Alberto
Gonçalves
DN,
25 /9/16
Há
oito dias, escrevi aqui sobre o livro Homossexuais no Estado Novo, onde a
"jornalista" São José Almeida inventariou, sem o consentimento dos
próprios e com alegada legitimidade académica, a orientação sexual de diversas
figuras mais ou menos ligadas ao regime anterior. A coisa veio a propósito de
um livro recente de José António Saraiva, Eu e os Políticos, nova colectânea de
mexericos (a acreditar na imprensa) que deu brado principalmente por causa da
anunciada, e entretanto cancelada, apresentação a cargo de Pedro Passos Coelho.
No fundo, limitei-me a notar que, excepto pelas inclinações ideológicas dos
autores, não compreendia o escândalo provocado pela segunda "obra"
face à indiferença ou à exaltação suscitadas pela primeira.
Pois
bem. Num blogue que mantém no Expresso (Tudo Menos Economia), Francisco Louçã
resolve proclamar que o opúsculo do arq. Saraiva foi "defendido
naturalmente por um cavalheiro do mesmo calibre que dá pelo nome de Alberto
Gonçalves, no DN, e porventura por ninguém mais". Na mesma página, em
resposta a um leitor que discordava da afirmação, o dr. Louçã acrescenta: "Que
bem que lhe fica defender o Gonçalves, que defende o Saraiva como pode e mais
não consegue." Abaixo, em resposta a outro leitor, o Louçã, perdão, o
dr. Louçã (não quero intimidades com gente dessa) aconselha: "Leia todo
o artigo do Gonçalves para ver como ele banaliza o feito do Saraiva."
Questionado por um terceiro leitor acerca do Homossexuais no Estado Novo,
afinal a referência que permitiria determinar a "banalização", o dr.
Louçã esclarece: "Não li."
Regresso
à crónica da semana passada para lembrar a minha "defesa"
arrebatada do Eu e os Políticos, da qual sinceramente não fazia ideia.
Talvez por não ter existido. Fundamentado nas citações e alusões que saíram nos
jornais, chamei-lhe "baldinho de lixo", e garanti não duvidar
de que se tratava de "uma porcaria". É certo que não cheguei a
exigir a lapidação ou o enforcamento do arq. Saraiva, mas isso deve-se apenas à
brandura do meu carácter. Em qualquer dos casos, suponho, "lixo" e
"porcaria" não são epítetos habitualmente utilizados na defesa seja
do que for. Em qualquer dos casos, ou o dr. Louçã é demasiado burgesso até
para os padrões do Bloco de Esquerda ou, para recorrer à deprimente retórica
parlamentar, o dr. Louçã faltou à verdade. Em português, palpita-me que o
dr. Louçã mentiu. E mentiu de maneira tão tosca, no sentido em que a
verdade é tão fácil de repor, que o facto só tem uma explicação.
Ao
longo da sua curiosa carreira, o dr. Louçã contou sempre com uma plateia de
bonequinhos amestrados que levam a sério os incontáveis disparates que
regularmente profere. Se a criatura se alivia de uma mentira
pequenina, os bonequinhos acreditam. Se a mentira é grande, os bonequinhos
acreditam também. Há muito que a criatura percebeu não valer a pena enfeitar as
absurdas intrujices que diz, um produto com procura suficiente para, no estado
bruto, permitir-lhe ganhar a vida sem preocupações. À semelhança dos
correligionários dele, o dr. Louçã é, literalmente, um mentiroso profissional,
ofício para cúmulo favorecido pela reverência dos media, a indigência da
universidade que o emprega e o enviesado primarismo do nosso "debate"
público. E como mentiroso profissional é incansável: se o dr. Louçã dá os
bons-dias, é garantido que está a chover.
Admito
que nada disto possui particular importância. Simplesmente não gosto que me
acusem de proezas que não pratiquei. Por uma vez, convém que as desastradas
mentiras do dr. Louçã não fiquem impunes. Por uma vez, uma singela vez, é
higiénico avisar que tudo o que sai da cabecinha daquela criatura não passa -
vamos lá rever a matéria - de um lixo e de uma porcaria. E agora espero
encarecidamente que o dr. Louçã não me acuse de defendê-lo a ele, uma inominável
vergonha e uma calúnia ainda maior do que a da defesa do arq. Saraiva.
Quinta-feira,
22 de setembro
Outro economista de
nível
O
americano Joseph Stiglitz, economista e Nobel do ramo, elogia portugueses,
gregos e espanhóis por, cito o DN, "terem melhores noções de economia do
que a troika" e derrotarem nas urnas "os governos defensores da
austeridade depois de 2008".
Em
primeiro lugar, convém explicar ao homem que, Grécia discutivelmente à parte,
Portugal elegeu um governo alegadamente "austeritário" em 2011 - e,
descontadas moscambilhas parlamentares, voltou a elegê-lo em 2015 -, e a
Espanha continua, na medida do possível, sob um governo do PP. Em segundo
lugar, acredito que portugueses, gregos, espanhóis, guatemaltecos e curdos
tenham melhores noções de economia do que o sr. Stiglitz.
Em
2007, este portento andava por Caracas a prever a irreversibilidade do
"sustentável" (sic) crescimento local, a admirar o nível de vida
vigente e a declarar irrelevante a elevada inflação. Em 2016, enquanto vende
utilíssimos conselhos ao Sul, assegura ainda que a Alemanha está aqui, está na
miséria.
Para
a semana, aposto que o sr. Stiglitz vai anunciar que a Irlanda, que cresceu 26%
em 2015, não sai da cepa torta. Esperem lá: já anunciou, em Janeiro passado.
Ou seja, em economia, história, actualidades e no que calha, o sr. Stiglitz
é bem capaz de ser o indivíduo mais à nora e menos esclarecido do mundo.
Aparentemente, o homem só é óptimo a esconder de uns tantos a sua prodigiosa
incompetência. E isso, sim, merecia um Nobel.
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