terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Etimologias


Viseu, terra onde se registou meu pai – nascido numa aldeia perto - onde nasceu meu marido, onde existe a Cava de Viriato, que eu insisti em ir ver, quando a primeira vez ali fui, levada por uns tios em cuja casa de Paradela passava as férias, nos primeiros tempos de Coimbra. Onde tirei uma foto, com a minha prima Amarilis, nessa mesma visita, em frente da estátua do Bispo Alves Martins, que contém a inscrição, tantas vezes evocada pelo meu pai, na nossa adolescência, - da minha irmã e minha – “A religião deve ser como o sal na comida: nem muito nem pouco: só o preciso”- cidade onde existe o Museu Grão Vasco com o extraordinário  quadro de São Pedro, pintado por Grão Vasco, que também visitámos por essa altura, cidade que progrediu tão airosamente e aonde ainda existe a Feira franca de S. Mateus, Viseu, sede distrital da aldeia onde nasceu a minha mãe…
Gostei muito de ler o artigo de Sandra Rodrigues sobre a origem do nome de Viseu – Vissaium – em ressente descoberta de uma ara contendo a referência aos deuses “vissaieigenses”. Que esses deuses protejam ainda hoje toda essa nobre área, das labaredas e das secas, é o voto que faço, mesmo sem ara, mas com idêntico fervor.

Altar com dois mil anos desvenda nome de Viseu
Dedicado aos deuses, este altar com quase dois mil anos fala no povo “vissaieigenses”. Descoberta em 2009, pedra regressa a casa depois de ter sido resgatada de depósito. Vai estar em exposição no átrio da autarquia e integrar o acervo do futuro museu da cidade.
 
OBSERVADOR, 11 de Dezembro de 2017

Monumento foi encontrado em 2009 e agora resgatado de armazém.
Um altar de pedra com dois mil anos que revela a origem do nome da cidade de Viseu vai ser exposto ao público, quase uma década depois de ter sido descoberto.
A ara, da época romana, foi encontrada em 2009 durante umas escavações na zona histórica e é considerado o achado arqueológico mais relevante na construção da história da cidade. Guardada num caixote nos últimos anos, a pedra em granito fino foi resgatada para ficar, para já, em exposição no átrio da Câmara Municipal ainda durante o mês de Dezembro.
Datada da segunda metade do século I d.C, o altar é um dos mais antigos monumentos epigráficos de Viseu. A inscrição, em latim e totalmente perceptível, diz, na sua tradução: “Às deusas e deuses vissaieigenses. Albino, filho de Quéreas, cumpriu o voto de bom grado e merecidamente.”
Segundo os historiadores e investigadores, com esta dedicatória, Albino, uma personalidade da época, materializa o cumprimento do voto feito às divindades de lhes erguer um altar. E ao dedicar a mensagem aos “deuses vissaieigenses”, percebe-se que a palavra deriva de Vissaium, o nome da cidade naquela época.
A mais antiga referência escrita do nome de Viseu remontava ao século VI, sob a forma "Viseo".
“Não deve haver outra peça tão importante sobre a história de Viseu como esta ara. Através da inscrição consegue-se saber o nome dos habitantes que cá estavam quando os romanos chegaram”, assinala o arqueólogo Pedro Sobral. O especialista destaca ainda que o altar foi encontrado “num sítio muito perto onde estava o templo do fórum da época romana, o centro religioso, político e administrativo”, o que demonstra a importância desta urbe.
O arqueólogo conta que até 2009 havia muitas teorias, “algumas delas disparatadas”, sobre a origem do nome da cidade e “este altar desvenda esse mistério” ao mesmo tempo que demonstra que Viseu poderá ter sido capital de um vasto território.
Através dos estudos onomásticos, os historiadores e investigadores chegaram à conclusão de que a cidade, antes dos romanos chegarem, chamava-se Vissaium que evoluiu para Vis (s) eum (Era Romana), a seguir Viseo (Idade Média) e, finalmente, Viseu.
“O estudo preliminar leva-nos também a sugerir que a ara materializa um voto às deusas e deuses viseeicos, sendo o seu dedicante alguém abastado, a julgar pela qualidade e imponência do monumento”, contam os historiadores para quem o altar assume também especial importância para o conhecimento do panorama religioso da região de Viseu.
“Mais uma vez esta peça é única porque dá a conhecer uma entidade divina que acabou por entrar para o panteão dos deuses romanos”, esclarece o arqueólogo.
Primeira pedra do acervo do futuro museu da cidade
A ara foi encontrada no âmbito de acompanhamento arqueológico da abertura de uma vala para a instalação do funicular na Travessa da Misericórdia, bem perto da Sé de Viseu. Na altura, o achado foi dado a conhecer e foi objecto de vários artigos em revistas da especialidade e em congressos. Chegou também a iniciar uma “digressão”, denominada “Rock Tour”, que começou na Fnac, onde o altar esteve em exibição, e que pretendia percorrer outros espaços do concelho. Mas, o monumento acabou fechado, dentro de um caixote num depósito nos arredores de Viseu, num armazém que contém mais achados arqueológicos que estão guardados.
Depois da exposição no átrio da câmara, é intenção da autarquia que este seja o primeiro objecto do acervo do futuro museu da cidade.
“A ara é uma primeira pedra, literalmente, na vontade de constituir um primeiro acervo para o museu da cidade que é um objectivo que está inscrito no nosso programa”, sublinha Jorge Sobrado, vereador da Cultura e Património.
Para o autarca, “este regresso a casa do altar é um modo de valorização e promoção de um grande ícone de Viseu, mas é também simbólico daquilo que é o nosso objectivo de, dentro de um quadro de valorização do património, fazer um trabalho ligado à investigação, à salvaguarda, à valorização e à divulgação”.
“Trata-se de um documento e de um monumento únicos”, justifica. “Através deste documento, conseguiu-se trazer luz ao mistério que sempre envolveu a origem do nome da cidade de Viseu. O nome mais antigo, alguma vez descoberto, é Vissaium”, sublinha.
O presidente da autarquia “vissaieigense”, Almeida Henriques, considera que colocar em exposição o altar milenar é “um belo presente de Natal para os viseenses e para todos quantos gostam de património e história”. Acredita que este achado arqueológico contribui, também, para a promoção do turismo em Viseu.
“Queremos fazer um resgate do nosso património histórico e esta devolução à cidade tem um grande significado”, afirma ainda.  E conclui: “Não era compreensível que esta peça, pelo seu singular valor simbólico, continuasse fechada num armazém”.


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