Viseu, terra onde se
registou meu pai – nascido numa aldeia perto - onde nasceu meu marido, onde
existe a Cava de Viriato, que eu insisti em ir ver, quando a primeira vez
ali fui, levada por uns tios em cuja casa de Paradela passava as férias, nos
primeiros tempos de Coimbra. Onde tirei uma foto, com a minha prima Amarilis,
nessa mesma visita, em frente da estátua do Bispo Alves Martins, que contém a
inscrição, tantas vezes evocada pelo meu pai, na nossa adolescência, - da minha
irmã e minha – “A religião deve ser como o sal na comida: nem muito nem
pouco: só o preciso”- cidade onde existe o Museu Grão Vasco com o extraordinário quadro de São Pedro, pintado por Grão
Vasco, que também visitámos por essa altura, cidade que progrediu tão
airosamente e aonde ainda existe a Feira franca de S. Mateus, Viseu, sede distrital
da aldeia onde nasceu a minha mãe…
Gostei muito de ler o artigo
de Sandra Rodrigues sobre a origem do nome de Viseu – Vissaium
– em ressente descoberta de uma ara contendo a referência aos deuses “vissaieigenses”.
Que esses deuses protejam ainda hoje toda essa nobre área, das labaredas e das
secas, é o voto que faço, mesmo sem ara, mas com idêntico fervor.
Altar com dois mil anos desvenda nome de Viseu
Dedicado aos deuses, este altar com quase dois mil anos fala no povo
“vissaieigenses”. Descoberta em 2009, pedra regressa a casa depois de ter sido
resgatada de depósito. Vai estar em exposição no átrio da autarquia e integrar
o acervo do futuro museu da cidade.
OBSERVADOR, 11 de Dezembro
de 2017
Monumento foi encontrado em 2009 e agora resgatado de armazém.
Um altar de pedra com dois mil anos que revela a origem do nome da
cidade de Viseu vai ser exposto ao público, quase uma década depois de ter sido
descoberto.
A ara, da época
romana, foi encontrada em 2009 durante umas escavações na
zona histórica e é considerado o achado arqueológico mais relevante na
construção da história da cidade. Guardada num caixote nos últimos anos, a
pedra em granito fino foi resgatada para ficar, para já, em exposição no átrio
da Câmara Municipal ainda durante o mês de Dezembro.
Datada da segunda metade
do século I d.C, o altar é um dos mais antigos monumentos epigráficos de Viseu.
A inscrição, em latim e totalmente perceptível, diz, na sua tradução: “Às
deusas e deuses vissaieigenses. Albino, filho
de Quéreas, cumpriu o voto de bom grado e merecidamente.”
Segundo os historiadores
e investigadores, com esta dedicatória, Albino, uma personalidade da época,
materializa o cumprimento do voto feito às divindades de lhes erguer um altar.
E ao dedicar a mensagem aos “deuses vissaieigenses”, percebe-se que a palavra
deriva de Vissaium, o nome da cidade naquela época.
A mais antiga referência
escrita do nome de Viseu remontava ao século VI, sob a forma "Viseo".
“Não deve haver outra
peça tão importante sobre a história de Viseu como esta ara. Através da
inscrição consegue-se saber o nome dos habitantes que cá estavam quando os
romanos chegaram”, assinala o arqueólogo Pedro Sobral. O especialista destaca
ainda que o altar foi encontrado “num sítio muito perto onde estava o templo do
fórum da época romana, o centro religioso, político e administrativo”, o que
demonstra a importância desta urbe.
O arqueólogo conta que até
2009 havia muitas teorias, “algumas delas disparatadas”, sobre a origem do nome
da cidade e “este altar desvenda esse mistério” ao mesmo tempo que demonstra
que Viseu poderá ter sido capital de um vasto território.
Através dos estudos
onomásticos, os historiadores e investigadores chegaram à conclusão de que
a cidade, antes dos romanos chegarem, chamava-se Vissaium que evoluiu para Vis
(s) eum (Era Romana), a seguir Viseo (Idade Média) e, finalmente, Viseu.
“O estudo preliminar
leva-nos também a sugerir que a ara materializa um voto às deusas e deuses
viseeicos, sendo o seu dedicante alguém abastado, a julgar pela qualidade e imponência
do monumento”, contam os historiadores para quem o altar assume também especial
importância para o conhecimento do panorama religioso da região de Viseu.
“Mais uma vez esta peça
é única porque dá a conhecer uma entidade divina que acabou por entrar para o
panteão dos deuses romanos”, esclarece o arqueólogo.
Primeira pedra do acervo do futuro museu da
cidade
A ara foi encontrada no
âmbito de acompanhamento arqueológico da abertura de uma vala para a instalação
do funicular na Travessa da Misericórdia, bem perto da Sé de Viseu. Na altura,
o achado foi dado a conhecer e foi objecto de vários artigos em revistas da
especialidade e em congressos. Chegou também a iniciar uma “digressão”,
denominada “Rock Tour”, que começou na Fnac, onde o altar esteve em exibição, e
que pretendia percorrer outros espaços do concelho. Mas, o monumento acabou
fechado, dentro de um caixote num depósito nos arredores de Viseu, num armazém
que contém mais achados arqueológicos que estão guardados.
Depois da exposição no
átrio da câmara, é intenção da autarquia que este seja o primeiro objecto do
acervo do futuro museu da cidade.
“A ara é uma primeira
pedra, literalmente, na vontade de constituir um primeiro acervo para o museu
da cidade que é um objectivo que está inscrito no nosso programa”, sublinha
Jorge Sobrado, vereador da Cultura e Património.
Para o autarca, “este
regresso a casa do altar é um modo de valorização e promoção de um grande ícone
de Viseu, mas é também simbólico daquilo que é o nosso objectivo de, dentro de
um quadro de valorização do património, fazer um trabalho ligado à
investigação, à salvaguarda, à valorização e à divulgação”.
“Trata-se de um
documento e de um monumento únicos”, justifica. “Através deste documento,
conseguiu-se trazer luz ao mistério que sempre envolveu a origem do nome da
cidade de Viseu. O nome mais antigo, alguma vez descoberto, é Vissaium”,
sublinha.
O presidente da
autarquia “vissaieigense”, Almeida Henriques, considera que colocar em
exposição o altar milenar é “um belo presente de Natal para os viseenses e
para todos quantos gostam de património e história”. Acredita que este
achado arqueológico contribui, também, para a promoção do turismo em Viseu.
“Queremos fazer um resgate
do nosso património histórico e esta devolução à cidade tem um grande
significado”, afirma ainda. E conclui: “Não era compreensível que esta
peça, pelo seu singular valor simbólico, continuasse fechada num armazém”.
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