Um mundo perigoso, um mundo
estranho, um mundo criminoso, e assim vamos continuando. Um rio que vai
morrendo, os alertas são muitos, a chuva não vem. Crianças que choram a escola
perdida, outras que são apanhadas nas malhas da guerra, com mortes e violações …
E o cinismo, na questão do nosso
Acordo Ortográfico, e os casos corruptos que brotam, na escassez da chuva…
Um homem honrado que foi “despejado”…
Mundo não só mal formado, como cada vez mais temível.
Em comunicado, a CHT
revela que a água que acumula esta semana a bacia do rio é 4141,6 hectómetros
cúbicos, que representam 37,6% da sua capacidade total (11.007 hectómetros
cúbicos).
O total do volume de
água armazenada é distribuído entre os reservatórios para consumo humano,
irrigação e usos industriais, em que a água não é devolvida ao meio ambiente, e
o uso hidroeléctrico, em que a água é usada para produzir energia e é devolvida
ao meio ambiente.
Tanto os reservatórios
de consumo como os reservatórios hidroeléctricos estão abaixo das médias dos
anos anteriores.
Na semana passada, o
presidente da CHT já tinha alertado para a situação, lembrando "escassez
atípica de chuvas que tem ocorrido desde o início do ano hidrológico, em
relação aos valores médios da série histórica e ao ano anterior último ano
hidrológico, que já estava bastante seco ".
Juan Carlos de Cea
apelou mais uma vez ao uso responsável da água, pedindo a todos os cidadãos
adoptem medidas de poupança.
Uma em cada seis crianças vive em zonas de conflito
A Save the Children diz que mais de 357 milhões de crianças sofrem com
conflitos armados: um aumento de 75% relativamente a 1995.
PÚBLICO, 15 de
Fevereiro de 2018
A lista de países onde as crianças são mais vulneráveis é liderada pela
Síria, seguida pelo Afeganistão e Somália REUTERS/HOSAM KATAN
São mais de 357 milhões as crianças que vivem actualmente numa zona de
conflito. Uma em cada seis crianças vive a pelo menos 50 quilómetros de uma
área de guerra, estando exposta à violência, diz o mais recente relatório da organização britânica Save the Children.
“Todas as guerras, justas ou
injustas, desastrosas ou vitoriosas, são travadas contra a criança”. A frase foi dita há quase cem anos por
Eglantyne Jebb, fundadora da Save the Children, e referia-se à fome que atingia
as crianças na Áustria e na Alemanha nos anos que se seguiram à I Guerra
Mundial. E é desta ideia que parte o relatório da organização que tenta
destapar uma realidade nem sempre óbvia. …
A partir dos números que existem, foi possível concluir que as crianças
estão agora mais expostas a riscos derivados de conflitos armados do que nos
últimos 20 anos: em 1995, 200 milhões de crianças viviam em zonas de conflito e
em 2016 o número subiu para mais de 357 milhões. Um aumento de 75%.
Ao longo de todo o documento vão surgindo relatos de crianças afectadas
pela guerra. São usados nomes fictícios:
“Um ataque aéreo atingiu a minha aldeia quando estava em casa a fazer os
trabalhos de casa. De repente, parte do tecto caiu, e a bomba veio através de
um buraco no tecto e explodiu no meu quarto”, conta Reem, de 13 anos, que vive
no Iémen. “Caminhei até ao hospital enquanto sangrava. O médico deu-me
assistência apenas por um mês, e pediu-nos para regressarmos a casa porque não
havia espaço. Pediram-nos dinheiro para nos darem um quarto no hospital que eu
não tinha. Por isso, fui-me embora”.
A lista de países onde as crianças são mais
vulneráveis é encimada pela Síria, seguida pelo Afeganistão e Somália. Os dez primeiros classificados deste ranking são
todos do Médio Oriente e África, as regiões mais perigosas para as crianças,
segundo o relatório: no Médio Oriente, duas em cada cinco crianças estão
expostas a conflitos, e em África uma em cada cinco.
Da Síria, surge a história de Basma, de oito anos: “Eu nunca mais vi a minha escola e os meus amigos;
tenho muitas saudades deles”, diz. “Nunca parei de ir à escola, mas nesta nova
cidade a minha escola foi atingida, e desta vez morreram 20 crianças”. ….
OPINIÃO
O capital político de Passos
Para além de cumprir a agenda imposta pela intervenção externa, Passos
revelou capacidade de liderança efectiva.
SÃO JOSÉ ALMEIDA
PÚBLICO, 17 de Fevereiro de 2018
Pedro Passos Coelho despede-se este fim-de-semana da liderança do PSD no
congresso em que será substituído pelo novo presidente do partido, Rui Rio. Ao
fim de oito anos de liderança, a mais longa a seguir à década de Cavaco Silva,
Passos sai com a imagem desgastada não só pela forma como conduziu o partido na
oposição nos dois últimos anos, mas também fruto da erosão do mandato como primeiro-ministro
entre 2011 e 2015.
Foi penoso assistir aos últimos dois anos de Passos. Terão sido também
seguramente penosos para o próprio. Não porque Passos não tivesse o direito e a
legitimidade de continuar como presidente do PSD — tinha-os até pela vitória
nas legislativas de 2015. Foram-no, porque o líder do PSD nunca conseguiu
acertar o tom como líder da oposição e, sobretudo, porque foi manifesto que não
percebeu a mudança política que se operou no país após as legislativas. Uma
transformação em que a radicalização à direita da sua governação teve como
resposta a radicalização à esquerda, através de uma inédita aliança entre o PS,
o BE, o PCP e o PEV, que catapultou António Costa para primeiro-ministro.
A incapacidade de perceber o que tinha acontecido levou Passos a
acreditar que a crise ia rebentar de novo. Até anunciou a vinda do diabo. Ao
mesmo tempo acreditou que o Governo cairia e que haveria legislativas
antecipadas antes das autárquicas, assumindo uma clara desvalorização das
apostas do PSD nas eleições locais. Mas soube escolher o momento da saída pelo
seu próprio pé e fê-lo com dignidade.
Antes de Passos se arrastar à frente do PSD na oposição, há o mandato
como primeiro-ministro. E se o final que escolheu não ficará na história ou
será nela apenas uma nota de pé de página, a verdade é que o seu consulado à
frente do Governo fez história, para o bem e para o mal.
É certo que a dirigir do Governo Passos revelou frieza e até
insensibilidade social e política. São múltiplos os exemplos, mas basta referir
as suas declarações de que os portugueses não podiam ser “piegas”, que viviam
acima das suas possibilidades ou a sua assertividade a garantir que o seu
Governo queira ir “para além da troika”.
Passos revelou, no entanto, uma determinação, uma coerência e uma
solidez de liderança que têm de ser reconhecidas, por mais que se tenha
discordado de muitas das suas opções — como fiz ao longo de mais de quatro anos
nesta coluna de opinião. A realidade é que Passos foi eleito à frente da coligação PSD-CDS e
designado primeiro-ministro pela maioria parlamentar ganhadora das eleições de
2011, no momento em que o país estava em situação de pré-bancarrota e em que as
finanças públicas tinham acabado de ser viabilizadas por um acordo entre o
Governo do PS de José Sócrates — cuja gestão financeira e económica conduziram
à derrapagem orçamental — e a troika da Comissão Europeia, Banco
Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. Portugal recebeu um empréstimo
de 78 mil milhões de euros, mas ficou obrigado a cumprir um caderno de encargos
penalizador dos cidadãos, sobretudo dos trabalhadores por conta de outrem, que
viram o seu poder de compra drasticamente reduzido.
Para além de cumprir a agenda imposta pela intervenção externa, Passos
revelou capacidade de liderança efectiva também quando recusou aceitar a
demissão “irrevogável” de Paulo Portas. E manteve-se no poder conseguindo
cumprir o objectivo de ver a troika sair de Portugal a 17 de Maio de
2014. Mais, atingiu a proeza de ver os indicadores económicos começarem a
subir, o que lhe garantiu a credibilidade política de, contra as expectativas
gerais, voltar a ganhar legislativas, ainda que em minoria.
Passos sai assim da liderança do PSD com um capital político. Para mais
quando o tempo em política relativiza a acrimónia do eleitorado. É por isso que
o adeus de Passos agora pode ser um até já. Não só no plano partidário, mas
também no nacional.
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