quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

REQUIEM


Um mundo perigoso, um mundo estranho, um mundo criminoso, e assim vamos continuando. Um rio que vai morrendo, os alertas são muitos, a chuva não vem. Crianças que choram a escola perdida, outras que são apanhadas nas malhas da guerra, com mortes e violações …
E o cinismo, na questão do nosso Acordo Ortográfico, e os casos corruptos que brotam, na escassez da chuva…
Um homem honrado que foi “despejado”… 
Mundo não só mal formado, como cada vez mais temível.

Em comunicado, a CHT revela que a água que acumula esta semana a bacia do rio é 4141,6 hectómetros cúbicos, que representam 37,6% da sua capacidade total (11.007 hectómetros cúbicos).
O total do volume de água armazenada é distribuído entre os reservatórios para consumo humano, irrigação e usos industriais, em que a água não é devolvida ao meio ambiente, e o uso hidroeléctrico, em que a água é usada para produzir energia e é devolvida ao meio ambiente.
Tanto os reservatórios de consumo como os reservatórios hidroeléctricos estão abaixo das médias dos anos anteriores.
Na semana passada, o presidente da CHT já tinha alertado para a situação, lembrando "escassez atípica de chuvas que tem ocorrido desde o início do ano hidrológico, em relação aos valores médios da série histórica e ao ano anterior último ano hidrológico, que já estava bastante seco ".
Juan Carlos de Cea apelou mais uma vez ao uso responsável da água, pedindo a todos os cidadãos adoptem medidas de poupança.

Uma em cada seis crianças vive em zonas de conflito
A Save the Children diz que mais de 357 milhões de crianças sofrem com conflitos armados: um aumento de 75% relativamente a 1995.
PÚBLICO, 15 de Fevereiro de 2018

A lista de países onde as crianças são mais vulneráveis é liderada pela Síria, seguida pelo Afeganistão e Somália REUTERS/HOSAM KATAN
São mais de 357 milhões as crianças que vivem actualmente numa zona de conflito. Uma em cada seis crianças vive a pelo menos 50 quilómetros de uma área de guerra, estando exposta à violência, diz o mais recente relatório da organização britânica Save the Children.

 “Todas as guerras, justas ou injustas, desastrosas ou vitoriosas, são travadas contra a criança”. A frase foi dita há quase cem anos por Eglantyne Jebb, fundadora da Save the Children, e referia-se à fome que atingia as crianças na Áustria e na Alemanha nos anos que se seguiram à I Guerra Mundial. E é desta ideia que parte o relatório da organização que tenta destapar uma realidade nem sempre óbvia. …
A partir dos números que existem, foi possível concluir que as crianças estão agora mais expostas a riscos derivados de conflitos armados do que nos últimos 20 anos: em 1995, 200 milhões de crianças viviam em zonas de conflito e em 2016 o número subiu para mais de 357 milhões. Um aumento de 75%.
Ao longo de todo o documento vão surgindo relatos de crianças afectadas pela guerra. São usados nomes fictícios:
“Um ataque aéreo atingiu a minha aldeia quando estava em casa a fazer os trabalhos de casa. De repente, parte do tecto caiu, e a bomba veio através de um buraco no tecto e explodiu no meu quarto”, conta Reem, de 13 anos, que vive no Iémen. “Caminhei até ao hospital enquanto sangrava. O médico deu-me assistência apenas por um mês, e pediu-nos para regressarmos a casa porque não havia espaço. Pediram-nos dinheiro para nos darem um quarto no hospital que eu não tinha. Por isso, fui-me embora”.
A lista de países onde as crianças são mais vulneráveis é encimada pela Síria, seguida pelo Afeganistão e Somália. Os dez primeiros classificados deste ranking são todos do Médio Oriente e África, as regiões mais perigosas para as crianças, segundo o relatório: no Médio Oriente, duas em cada cinco crianças estão expostas a conflitos, e em África uma em cada cinco.

Da Síria, surge a história de Basma, de oito anos: “Eu nunca mais vi a minha escola e os meus amigos; tenho muitas saudades deles”, diz. “Nunca parei de ir à escola, mas nesta nova cidade a minha escola foi atingida, e desta vez morreram 20 crianças”. ….

OPINIÃO
O capital político de Passos
Para além de cumprir a agenda imposta pela intervenção externa, Passos revelou capacidade de liderança efectiva.
SÃO JOSÉ ALMEIDA
PÚBLICO, 17 de Fevereiro de 2018
Pedro Passos Coelho despede-se este fim-de-semana da liderança do PSD no congresso em que será substituído pelo novo presidente do partido, Rui Rio. Ao fim de oito anos de liderança, a mais longa a seguir à década de Cavaco Silva, Passos sai com a imagem desgastada não só pela forma como conduziu o partido na oposição nos dois últimos anos, mas também fruto da erosão do mandato como primeiro-ministro entre 2011 e 2015.
Foi penoso assistir aos últimos dois anos de Passos. Terão sido também seguramente penosos para o próprio. Não porque Passos não tivesse o direito e a legitimidade de continuar como presidente do PSD — tinha-os até pela vitória nas legislativas de 2015. Foram-no, porque o líder do PSD nunca conseguiu acertar o tom como líder da oposição e, sobretudo, porque foi manifesto que não percebeu a mudança política que se operou no país após as legislativas. Uma transformação em que a radicalização à direita da sua governação teve como resposta a radicalização à esquerda, através de uma inédita aliança entre o PS, o BE, o PCP e o PEV, que catapultou António Costa para primeiro-ministro.
A incapacidade de perceber o que tinha acontecido levou Passos a acreditar que a crise ia rebentar de novo. Até anunciou a vinda do diabo. Ao mesmo tempo acreditou que o Governo cairia e que haveria legislativas antecipadas antes das autárquicas, assumindo uma clara desvalorização das apostas do PSD nas eleições locais. Mas soube escolher o momento da saída pelo seu próprio pé e fê-lo com dignidade.
Antes de Passos se arrastar à frente do PSD na oposição, há o mandato como primeiro-ministro. E se o final que escolheu não ficará na história ou será nela apenas uma nota de pé de página, a verdade é que o seu consulado à frente do Governo fez história, para o bem e para o mal.
É certo que a dirigir do Governo Passos revelou frieza e até insensibilidade social e política. São múltiplos os exemplos, mas basta referir as suas declarações de que os portugueses não podiam ser “piegas”, que viviam acima das suas possibilidades ou a sua assertividade a garantir que o seu Governo queira ir “para além da troika”.
Passos revelou, no entanto, uma determinação, uma coerência e uma solidez de liderança que têm de ser reconhecidas, por mais que se tenha discordado de muitas das suas opções — como fiz ao longo de mais de quatro anos nesta coluna de opinião. A realidade é que Passos foi eleito à frente da coligação PSD-CDS e designado primeiro-ministro pela maioria parlamentar ganhadora das eleições de 2011, no momento em que o país estava em situação de pré-bancarrota e em que as finanças públicas tinham acabado de ser viabilizadas por um acordo entre o Governo do PS de José Sócrates — cuja gestão financeira e económica conduziram à derrapagem orçamental — e a troika da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. Portugal recebeu um empréstimo de 78 mil milhões de euros, mas ficou obrigado a cumprir um caderno de encargos penalizador dos cidadãos, sobretudo dos trabalhadores por conta de outrem, que viram o seu poder de compra drasticamente reduzido.
Para além de cumprir a agenda imposta pela intervenção externa, Passos revelou capacidade de liderança efectiva também quando recusou aceitar a demissão “irrevogável” de Paulo Portas. E manteve-se no poder conseguindo cumprir o objectivo de ver a troika sair de Portugal a 17 de Maio de 2014. Mais, atingiu a proeza de ver os indicadores económicos começarem a subir, o que lhe garantiu a credibilidade política de, contra as expectativas gerais, voltar a ganhar legislativas, ainda que em minoria.
Passos sai assim da liderança do PSD com um capital político. Para mais quando o tempo em política relativiza a acrimónia do eleitorado. É por isso que o adeus de Passos agora pode ser um até já. Não só no plano partidário, mas também no nacional.



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